sexta-feira, 24 de abril de 2015

Sarney: 85 anos. Seu nome é conciliação


Por Said Barbosa Dib*


Hoje é aniversário de 85 anos do ex-senador e ex-presidente da República, José Sarney. Homem de cultura que, além de acadêmico, foi governador, deputado e senador pelo Maranhão. Presidente da República em momento delicado para o País, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por quatro vezes. São quase 60 anos de vida pública, sempre eleito, escrevendo a História do Brasil, convivendo com ataques de adversários e a admiração de amigos. Trabalhei com ele 13 anos. Poderia destacar características sobejamente conhecidas da sua personalidade, como a elegância e a sensibilidade no trato com as pessoas das mais variadas origens sociais, a memória extraordinária, a hipocondria quase acadêmica, a sensibilidade nas questões sociais e nacionais, a cultura refinada e a capacidade de trabalho exaustivo. Ou poderia falar da fina ironia, o bom humor criativo e a delicadeza e a paciência com que trata os atropelos dos adversários contra ele. Tenho muito orgulho de tê-lo conhecido. De conviver com ele. Aprendi muito. Mas quero destacar o essencial que sempre me impressionou: sua capacidade ímpar em lidar com conflitos, de administrá-los e transformá-los em força política para o progresso. Parece um judoca que usa a força do adversário contra ele mesmo. Sem esforço. Para quem conviveu ou compartilhou momentos delicados do cenário político brasileiro ao lado de Sarney, sabe o quanto é irritante a paciência com que lida com as mais variadas situações de conflito. Digo “irritante” porque sou daqueles mais passionais que não têm esta virtude. Na minha ótica a posição de Sarney tem que ter muito sangue frio e paciência. Mas, principalmente, Sarney tem arcabouço filosófico patriota, democrata e cristão bastante sedimentado. E nos dias que correm, em que o que nos separa parece mais importante do que aquilo que nos une, tempos em que interesses regionais, de classe, de raça e de gênero, por mais importantes, parecem suplantar o interesse nacional - a visão de Brasil, o sentimento de coletividade e de brasilidade -, tais virtudes são decisivas. O que se tem observado é a hegemonia sufocante da concepção baseada no “materialismo histórico e dialético” de Karl Marx, por incrível que isso possa parecer. Ideologia que tem como princípio maior não a valorização da noção de Estado-nação, o patriotismo ou a idéia democrática de respeito à ordem pública e à paz social, mas a “luta de classes”, o conflito. E o que seria uma pretensa fraternidade internacionalista “proveitosa” para o “proletariado expropriado de todo o mundo”. Ideologia que vê a democracia representativa como um “anacronismo burguês”. Assim, quando se analisa historicamente, por exemplo, a capacidade política da elite brasileira em administrar conflitos, num mundo saturado de revoluções, guerras, carnificinas e ódios, coloca-se a idéia de “conciliação”, sempre e a priori, como elemento necessariamente negativo, pois seria contra o velho princípio marxista do “quando pior melhor”, para que a “revolução” e “a emancipação dos trabalhadores” sejam viabilizados, portanto, evitando as rupturas estruturais. Tais concepções, hoje, são, infelizmente, hegemônicas nos manuais didáticos, tanto do Ensino Fundamental quanto do Médio ou Acadêmico. Se algum professor se atrever a destacar a capacidade de conciliação de figuras históricas como Sarney ou Joaquim Nabuco - e da elite política brasileira do Segundo Reinado -, como muito proveitosa para a Nação, logo será jogado na fogueira ardente do repúdio ideológico. Não se admite que tal característica tenha sido muito importante para que mantivéssemos nossa integridade territorial, a consolidação do Estado brasileiro e para que não nos tornássemos um mísero Paraguai. Não se considera a importância da capacidade de um líder como Sarney de administrar a situação explosiva em que a nação se encontrava no momento da transição democrática. Transição que ainda era amaçada por extremismos tanto à esquerda (revanchismo dos esquerdistas) quanto à direita (“Linha Dura”). Sarney, conciliador, democrata, negociador nato, tinha sido “esteio da ditadura”, sem choro nem vela, pois jamais se encaixou no estereótipo explosivo do revolucionário marxista. Segundo essa gente, Sarney teria feito uma coisa “horrível”: evitado o derramamento de sangue, o retrocesso totalitário ou a revolução. É hora de repensarmos isso. Sarney merece respeito e o País precisa se repensar. Repensar seus objetivos, suas prioridades. Precisa se reconciliar e procurar uma identidade. E tudo isso passa necessariamente pela valorização de nossas referências, nossos ídolos. Toda nação desenvolvida tem um ponto em comum inquestionável: o respeito, independente de ideologias e interesses específicos, aos seus líderes e figuras históricas, vistas sempre como exemplos a serem seguidos. Mesmo que saibam que fatores estruturais - como recursos naturais, posição geográfica ou condições educacionais e econômicas - tenham influenciado no desenvolvimento de suas sociedades, nenhum deles desconsidera o papel de suas lideranças políticas e intelectuais. O respeito a estes sempre permeia o “inconsciente coletivo” e fortalece o sentimento patriótico, por isso, são países desenvolvidos. 

No Brasil, país que há anos patina no grupo dos países “em desenvolvimento”, as elites, justamente porque são exageradamente impregnadas de concepções estrangeiras pseudocosmopolitas, têm verdadeira ojeriza a tudo que é nacional, menosprezam nossas realizações, nossos líderes, nossa História, impedindo que o “Sentimento de Pátria” se desenvolva como deveria. Como exilados em sua própria terra, geralmente, têm vergonha de suas próprias origens, tendem a ver o Brasil permeados de valores e sentimentos importados. Caem no erro de viver a própria História apenas como apêndice da História das nações hegemônicas. E não conseguem perceber os benefícios do verdadeiro patriotismo. Por isso, somos uma nação cada dia mais tutelada por forças estrangeiras. Sarney foi, na época em que alguns românticos assaltavam bancos e outros torturavam e matavam, durante a ditadura, o homem que tentava apaziguar os conflitos entre os brasileiros. Como político experiente, sabia que não seria através da radicalização e do “jogo de cena” de esquerdistas e direitistas que teríamos uma solução para o estado de exceção, como a História viria a demonstrar. Justamente por esta característica, mais tarde, soube enfrentar situação tão difícil como a morte de Tancredo e suas conseqüências políticas dentro do processo de redemocratização. De repente, alçado à frente de um processo que já vinha sendo negociado, discutido e mediado com cuidado pelo líder emedebista há anos, teve de assumir compromissos que não eram diretamente seus, posição de liderança que não esperava e não desejava. Mas, pensando no País, como agente moderador, Sarney se sacrificou. Enfrentou não somente as profundas dificuldades socioeconômicas herdadas, mas o perigo constante e ameaçador das forças antidemocráticas, tanto à esquerda quanto à direita, mas sempre negociando. Pensador e poeta engajado na luta libertária, na defesa das instituições democráticas, sempre teve na paciência e na perseverança as suas maiores virtudes. Virtudes que foram imprescindíveis para enfrentar as dificuldades que a Fortuna lhe reservaria a partir de abril 1985. A imagem que fizeram dele, no entanto, não foi nada honesta. Não havia qualquer clima favorável ou mesmo compreensão, por parte da mídia, para a necessidade, pelo menos, de se dar tempo para se construir a governabilidade. Teve que conquistar esta condição, a despeito da imprensa e dos que se diziam aliados. Ou seja, só pôde contar consigo mesmo, com boa-fé e sua extraordinária vontade política. Mas a coisa mais importante - e que a imprensa nunca esclareceu devidamente - e que, hoje, numa perspectiva histórica mais ampla é possível visualizar, é o fato de que Sarney acelerou efetivamente o programa de reformas anunciado pela "Aliança Democrática", cumprindo o prometido aos brasileiros. Retirou o chamado "entulho autoritário” da legislação: as medidas de emergência, a suspensão dos direitos políticos sem licença do Congresso, os decretos-lei, etc. Mesmo desaconselhado pelo jurista e amigo Saulo Ramos – este, temeroso de que as discussões políticas inflamadas influenciassem a governabilidade -, foi Sarney quem insistiu em convocar a Constituinte, verdadeira divisora de águas entre o passado de exceção e o caminho democrático. Os políticos da época, os mais envolvidos no processo, sabiam que mesmo Tancredo tinha dúvidas sobre a oportunidade em se convocar a Constituinte logo de início. Mas, por decisão de Sarney, naquele momento era criada a "Constituição Cidadã", esta mesma que durante os últimos anos vem sendo desrespeitada, vilipendiada, massacrada, adulterada e rasgada em prejuízo da democracia e do Brasil. Ao lado de JK, José Sarney figura entre os poucos homens públicos que sempre conseguiram conviver sem maiores traumas com a crueldade do dia-a-dia do jornalismo. Talvez a cultura humanista, a visão de futuro e a satisfação com a missão realizada, tenham sido o lenitivo que, nos momentos mais difíceis, fizeram com que o político maranhense, no exercício ou depois do poder, resistisse às pressões que, em outros períodos históricos, resultaram em tragédias. Ao contrário de Getúlio Vargas, que se suicidou, ou de Jânio, que renunciou, Sarney teve coragem e continuou. Como se vê, o peso maior não está nas mãos de quem parte, que se liberta da angústia da existência, mas de quem fica com as responsabilidades, principalmente se vindas de surpresa. Para Tancredo, merecidamente, a entrada no Panteão dos heróis nacionais; para Sarney, o peso terrível de ter sido obrigado a assumir seu Destino, com patriotismo e convicção. Tancredo não sabe do que se livrou. Sarney, com a missão já cumprida, espera do historiador, no dizer de Eduardo Galeano, “este profeta com os olhos voltados para o passado”, o reconhecimento justo para com um homem de boa-fé e coragem. E, claro!, conciliador. Parabéns presidente Sarney, pelos 85 anos de vida muito bem vivida.


* Said Barbosa Dib é historiador, analista político e, com muito orgulho, ex-assessor de imprensa do presidente Sarney

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sarney e o Amapá: uma afinada relação de confiança e dedicação

No aniversário da capital, Sarney desponta como um dos maiores políticos que a história do Amapá já registrou



Na capa daquela primeira edição do Jornal do Dia, que chegou às bancas no dia 4 de fevereiro de 1987, os destaques eram os 229 anos de Macapá e a abertura da Assembleia Nacional Constituinte, feita em clima de euforia. A tal euforia era por conta do início da elaboração da sétima Constituição feita por constituintes eleitos pelo povo livre e direto. O então presidente José Sarney destacava a importância do momento: “esta Constituição deve ser atemporal”. Muita coisa mudou de lá para cá. Outras, porém, continuaram com seu mais alto grau de importância na história, como é o caso da trajetória política de Sarney e seus feitos pelo Amapá. Depois de mais de 60 anos de vida pública, José Sarney deixou no último domingo (1) o Senado, mas não a política. Passou para a história com um dos mais longevos representantes da classe política no País, onde galgou todos os cargos, desde vereador, passando por deputado estadual, federal, senador e finalmente presidente da República, assumindo o cargo na famosa crise institucional com a morte de Tancredo Neves. Por longos quatro anos, no Planalto, administrou com maestria política uma Aliança Democrática conduzindo o País num complicado antagonismo, mas sempre disposto ao diálogo, entendimento e participação equitativa nos ministérios. Ao deixar a Presidência da República e ainda potencialmente jovem para encarar outros desafios, através de um amigo sempre fiel, o ex-governador Jorge Nova da Costa recebeu o honroso convite para vir ao Amapá e aventar a possibilidade em disputar uma vaga para o Senado da República. Inicialmente sofreu forte resistência dos políticos locais, acreditando ser mais um “paraquedista” a desembarcar no novo Estado do Amapá. Com paciência e determinação pediu para visitar todos os pioneiros. E uns dos primeiros foram os nossos fundadores Otaciano e Irene Pereira, que inclusive, colocou o Jornal do Dia a sua disposição para divulgar suas ideias assim como fizeram com todos os outros políticos tucujus. Por conta de programas sociais quando presidente da República, como o “Leite do Sarney”. A grande quantidade de nordestinos vivendo na Linha do Equador, com destaques para os maranhenses que aqui chegaram para trabalhar na agricultura – vide o distrito de Carnot em Calçoene – e na plantação de pinus no Sul do Amapá, foi determinante para alcançar retumbante vitória. Usava bordões fáceis de entender como “O Amapá vai ter força no Senado” ou “Eu vim aqui para servir”, em célebres caminhadas nas ruas e apertos de mãos e abraços nos eleitores. Por três legislaturas em sequência Sarney mostrou sua “força” ao tirar o Amapá Estado de um grande apagão através do empréstimo das Usinas Termelétricas de Camaçari, numa generosa doação do amigo, governador baiano Antônio Carlos Magalhães. E daí por diante Sarney não só beneficiou o Amapá com grandes projetos como: a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (ALCM), Usina Termelétrica de Santana, Zona Franca Verde, Zona de Processamento de Exportação (ZPE), pavimentação da BR 156, pontes para o município de Mazagão e o Linhão e Tucuruí, prestes a ser interligado com o sistema amapaense, só para citar alguns dos seus muitos importantes projetos. Estrategista de escol, seu gabinete em Brasília sempre foi alvo de uma procissão e políticos de todo o Brasil. Sempre a espera de um minuto de prosa ou mesmo alguns outros em conversa visando beneficiar seus municípios, bastando para isso um telefonema de Sarney para um ministro ou mesmo para um presente se bancos oficiais e estatais, que dentro das possibilidades os pedidos eram atendidos. Recebia seus amigos do Amapá sempre logo no início do expediente, impreterivelmente. Por duas vezes assumiu a Presidência do Senado da República ajudando o presidente Lula por dois mandatos a governar o País. E fora da Presidência da Câmara Alta era o conciliador, o pacifista que o Planalto tanto usou e precisou. Como todo político tem uma vasta legião de amigos e correligionários e uma minoria que prefere considerá-los como adversários e não inimigos. Costuma relembrar uma frase épica do estadista Tancredo Neves, que leva consigo sempre, como: “O adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã”. Mas mesmo com toda a paz do seu coração, seus poucos adversários no fundo o reconhecem como homem probo, inteligente, capaz e conciliador e mesmo torcendo ao contrário, pelo menos, uma vez na vida já precisaram dos bons conselhos e ajuda daquela velha “Raposa Felpuda” a política nacional. Hoje o Homem Sarney optou por ficar mais perto de sua fiel escudeira, Dona Marly Sarney, filhos e netos, com quem dividiu as alegrias e tristezas, mais a primeira que a segunda, abrindo mão daquilo que mais gosta de fazer: política. Vai ficar numa espécie de ponte aérea entre São Luís/Brasília/Macapá, onde continuará a receber seus amigos. Agora, além das conversas políticas, assuntos mais palatáveis como a respeito de seus inúmeros e memoráveis romances, boas recordações e para quem solicitar seus bons conselhos estará sempre disposto dá-los, isso partindo de quem já viveu o suficiente para mostrar o caminho retilíneo a que devam seguir. E nós aqui da Família Jornal o Dia nos sentimos honrados de fazer parte do círculo de amizade do presidente Sarney. E é assim que vamos tratá-lo daqui por diante. Volte sempre presidente e se sinta em casa. Nós aqui estaremos sempre de braços abertos, fraternalmente a receber a si e seus familiares.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Dilma tucanou de vez. Encarnou José Serra

Por Said Barbosa Dib*

Dilma vem enfiando os pés pelas mãos. Colocou ex-funcionário do FMI, empregado do Bradesco, o “chicago boy” Joaquim Levi, para dar empurrãozinho ladeira abaixo na já combalida economia brasileira. Em 2015 a recessão vem de mãos dadas com a inflação. E isso, ironicamente, depois de sua campanha contra Osmarina Silva ter acusado a candidata das ONGs internacionais de entregar a direção da economia nas mãos da herdeira do Itaú, a dona Neca. Trocou apenas de banco. A subserviência aos rentistas é a mesma. Sua arrogância e desrespeito para com a classe política é o mais grave. Fizeram com que seu governo perdesse feio na eleição para a Presidência da Câmara. A escolha do também arrogante e incompetente Aloysio Mercadante como articulador político é algo inexplicável. É o mesmo erro de alguns ex-presidentes derrubados no passado: menosprezar o Congresso. Dilma tinha sido muito injusta com o seu principal aliado no Congresso no seu primeiro mandato, o senador Sarney, nas eleições no Amapá em 2014. Agora, com total “desprezo e ingratidão”, cancelou a construção, pela Petrobras, da refinaria Premium 1, luta antiga de Sarney, cujas obras estavam em andamento em Bacabeira (53 km de São Luís). "O Maranhão recebeu apático uma decisão que é uma manifestação de discriminação, desprezo, ingratidão e injustiça. Que culpa tem o Maranhão pela corrupção e pela bagunça da Petrobras? Pagamos nós pela Lava Jato!", questionou atônito José Sarney. E com razão, pois a obra já gastou, desde 2007, R$ 1,8 bilhão, em valores não-atualizados. Quer dizer: Dilma tucanou de vez. Encarnou José Serra. Talvez por coisas absurdas como esta que Lula, que não é bobo, esteja cada vez mais longe da cria. Isto porque Serra odeia tudo que possa beneficiar o Norte e o Nordeste e todos aqueles que tentam acabar com as desigualdades regionais. Por isso detesta Sarney. O ex-governador paulista sempre foi contra a Ferrovia Norte-Sul, por exemplo. Foi assim quando como deputado, senador e ministro. Serra votou e agiu sistematicamente contra os interesses das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste na Constituinte. Na votação do Orçamento de 1988, apresentou pedido de destaque para acabar com a Ferrovia Norte-Sul. Felizmente foi derrotado. Serra e o tucanato paulista são contra toda e qualquer medida que busque melhorar a situação social e econômica das regiões Norte e Nordeste. Por isso não têm votos por lá. Dilma, ironicamente salva nas eleições justamente pelo Norte e Nordeste (com grande votação no Maranhão) deveria respeitar mais o povo daquela região, seus eleitores. Não deveria dar uma de Serra. Deveria, sim, seguir exemplo justamente de Sarney. Ao invés de punir o povo do Maranhão por causa das lambanças de seu governo na Petrobras, deveria apoiar projeto de Sarney que cria o “estatuto jurídico da empresa pública” para controlar melhor as estatais. Simples assim! É o PLS - Projeto de Lei do Senado, Nº 207, que se arrasta desde 2009 no Congresso, sem qualquer apoio de Dilma. A proposta seria de grande valia neste momento de crise da Petrobras. Como o estatuto ainda não foi instituído (após quase 26 anos da promulgação da Constituição), a Petrobras vem se utilizando de decreto-lei de 1998, do governo tucano, que permite à estatal "celebrar contratos milionários" sem licitação. Isso certamente possibilitou os atuais desvios. Além de obrigar a transparência nas indicações para cargos e nas contas estatais, o projeto cria regras que garantem a sua função social, pois estabelece que as estatais tenham que “desenvolver produtos e serviços para a população de baixa renda, combater a desigualdade regional” e se preocupar com “a inclusão ou atendimento aos deficientes físicos e mentais”. As estatais teriam de reservar parte do lucro, no mínimo 10%, para essas atividades. Outra sugestão é que as estatais nunca gastem em verbas publicitárias valores superiores aos que destinarem as iniciativas sociais. Por que Dilma, ao invés de reprimir investimentos da Petrobras no Maranhão, não aproveita o projeto de Sarney para sanear a estatal? O ex-presidente tem razão em se indignar: “Que culpa tem o Maranhão pela corrupção e pela bagunça da Petrobras?”. Eu respondo: nenhuma. A culpa está na falta de apoio de Dilma a projetos que pudessem efetivamente criar controle sobre os gatunos que assolam o patrimônio público.

 * Said Barbosa Dib é historiador, analista político e, com muito orgulho, assessor do ex-senador José Sarney


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

José Sarney: “Esperança e Protesto"

O Maranhão recebeu apático uma decisão que é uma manifestação de discriminação, desprezo, ingratidão e injustiça: cancelaram a construção da grande Refinaria Premium da Petrobras em Bacabeira. Já tornei público meu protesto, minha revolta e minha incompreensão. O Maranhão esperou 30 anos por um grande projeto de estrutura de base, para mostrar que o Brasil não pode continuar a ser dois Brasís, um rico e um pobre. Grita-se, censura-se, responsabilizam pessoas pelo IDH, um índice de país rico que não expressa nada, a não ser o beau geste do primeiro mundo para dizer que se preocupa com questões sociais. Mas na hora de fazer ações concretas para acabar com as desigualdades regionais – matéria que é um dos “objetivos fundamentais da República”, segundo a Constituição, não se tem é colocado nas prioridades nacionais. Os fundos de participação dos estados são contidos em limites precários, incapazes de fazer a diferença. Não há incentivos efetivos aos empréstimos dos bancos de desenvolvimento, como taxas de juro diferenciadas das dos estados ricos. A área econômica do governo é indiferente, ou mesmo hostil, a medidas que possam fazer os estados pobres competitivos, capazes de atrair investimentos que normalmente vão para os estados ricos. E se fala em guerra fiscal! Como se isso pudesse alterar realmente o imenso desequilíbrio entre as regiões. O Maranhão já fez muito. Conseguiu grandes investimentos privados, não por ter o apoio federal, mas por ter condições de competitividade, como o Porto do Itaqui, velho sonho que tornamos realidade e que nos aproxima dos mais importantes mercados do mundo, como a descoberta do gás em terra, responsável pela produção, até 2015, de dois mil megawatts, sem os quais o racionamento rondaria o país. Mas neste mês fatídico o Maranhão desceu ladeira abaixo. Deixou de ter ministros, perdemos o Ministério de Minas e Energia e o do Turismo e não temos mais uma voz forte para fazer a defesa de nossa gente, em cargo nenhum da República. E agora destroem o sonho em realização da Refinaria do Maranhão e mandam colocar os dois bilhões que já gastaram em perdas. Investir no Maranhão é perda. Que culpa tem o Maranhão pela corrupção e pela bagunça da Petrobras? Pagamos nós pela Lava Jato! Eu não aceito essa decisão de acabar com a refinaria em nossa terra. Falta de dinheiro na Petrobras! Por que não abrir a empresas estrangeiras a construção? Aí estão capitais chineses, americanos, ingleses, holandeses, sauditas, árabes e tantos outros. Posso não estar mais vivo, mas sei que, se mantivermos a luta, classes empresariais, povo, governo, todos unidos, essa decisão será revertida e um dia vamos ver a refinaria do Maranhão. Vamos repetir Barroso: “Sustentem o fogo que a vitória será nossa”. No nosso caso, a esperança e a luta.



José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá, presidente do Senado Federal. Tudo isso, sempre eleito. São mais de 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.

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