O Maranhão
recebeu apático uma decisão que é uma manifestação de discriminação, desprezo,
ingratidão e injustiça: cancelaram a construção da grande Refinaria Premium da
Petrobras em Bacabeira. Já tornei público meu protesto, minha revolta e minha
incompreensão. O Maranhão esperou 30 anos por um grande projeto de estrutura de
base, para mostrar que o Brasil não pode continuar a ser dois Brasís, um rico e
um pobre. Grita-se, censura-se, responsabilizam pessoas pelo IDH, um índice de
país rico que não expressa nada, a não ser o beau geste do primeiro mundo para dizer que se preocupa com
questões sociais. Mas na hora de fazer ações concretas para acabar com as
desigualdades regionais – matéria que é um dos “objetivos fundamentais da
República”, segundo a Constituição, não se tem é colocado nas prioridades
nacionais. Os fundos de participação dos estados são contidos em limites
precários, incapazes de fazer a diferença. Não há incentivos efetivos aos
empréstimos dos bancos de desenvolvimento, como taxas de juro diferenciadas das
dos estados ricos. A área econômica do governo é indiferente, ou mesmo hostil,
a medidas que possam fazer os estados pobres competitivos, capazes de atrair
investimentos que normalmente vão para os estados ricos. E se fala em guerra
fiscal! Como se isso pudesse alterar realmente o imenso desequilíbrio entre as
regiões. O Maranhão já fez muito. Conseguiu grandes investimentos privados, não
por ter o apoio federal, mas por ter condições de competitividade, como o Porto
do Itaqui, velho sonho que tornamos realidade e que nos aproxima dos mais
importantes mercados do mundo, como a descoberta do gás em terra, responsável
pela produção, até 2015, de dois mil megawatts, sem os quais o racionamento
rondaria o país. Mas neste mês fatídico o Maranhão desceu ladeira abaixo.
Deixou de ter ministros, perdemos o Ministério de Minas e Energia e o do
Turismo e não temos mais uma voz forte para fazer a defesa de nossa gente, em
cargo nenhum da República. E agora destroem o sonho em realização da Refinaria
do Maranhão e mandam colocar os dois bilhões que já gastaram em perdas.
Investir no Maranhão é perda. Que culpa tem o Maranhão pela corrupção e pela
bagunça da Petrobras? Pagamos nós pela Lava Jato! Eu não aceito essa decisão de
acabar com a refinaria em nossa terra. Falta de dinheiro na Petrobras! Por que
não abrir a empresas estrangeiras a construção? Aí estão capitais chineses,
americanos, ingleses, holandeses, sauditas, árabes e tantos outros. Posso não
estar mais vivo, mas sei que, se mantivermos a luta, classes empresariais,
povo, governo, todos unidos, essa decisão será revertida e um dia vamos ver a
refinaria do Maranhão. Vamos repetir Barroso: “Sustentem o fogo que a vitória
será nossa”. No nosso caso, a esperança e a luta.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá, presidente do Senado Federal. Tudo isso, sempre eleito. São mais de 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
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