quarta-feira, 26 de março de 2008

“Teremos energia elétrica para a Zona Franca”

Marcos Drago, da Eletronorte, descarta risco de apagão


Enquanto a classe política do Amapá garante 90% do caminho para o sonho de transformar a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana em Zona Franca, o gerente regional da Eletronorte, engenheiro Marcos Drago, diz que as indústrias que se intalarem no Amapá não terão problemas com energia elétrica. O caminho para isso será a chegada do linhão da usina de Tucuruí, no Pará, cuja licitação está aberta, com previsão de que até maio já seja definido quem vai interligar o Amapá ao sistema nacional de energia, que entrará no Amapá através de Laranjal do Jari. Acompanhe a entrevista:


"Hoje a Eletronorte dispõe de uma geração de 240 megawatts e a nossa carga está em torno de 140 megawatts, o que significa dizer que teríamos aproximadamente 100 megawatts de energia disponível"


Diário do Amapá - Pelo Brasil afora os reservatórios das usinas hidrelétricas têm causado preocupação por estarem na capacidade máxima. E por qui, alguma preocupação nesse sentido?
Marcos Drago - Absolutamente. A situação é normal para essa época do ano. A quantidade de água, ou seja, o volume de água é compatível com anos anteriores. Queremos tranqüilizar os moradores das margens do rio Araguari como Ferreira Gomes, por exemplo, de que não há o menor risco de alagamentos ocasionados por uma eventual abertura das comportas da usina do Paredão.

Diário - Como fica a proporcionalidade entre a geração hidráulica (pela queda d'água) e a energia termelétrica (pela queima de óleo diesel) nesse período de chuvas intensas?

Drago - Nessa época das chuvas mais intensas, utilizamos a Hidrelétrica Coaracy Nunes em sua potência máxima, que serve de base de operação. Nesse período de feriado prolongado, por exemplo, utilizamos em sua totalidade a geração hidráulica, entrando com as termelétricas apenas para complementar quando houver necessidade. Normalmente é no período noturno que acionamos as usinas a óleo diesel.

Diário - A quantas anda o processo de interligação do sistema isolado de energia do Amapá com o sistema nacional, a partir do linhão do Tucuruí?

Drago - A energia que virá da usina do Tucuruí, que irá abastecer o Amapá e também chegará à Capital do Amazonas, está sendo cuidada diretamente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela licitação das obras. A Eletronorte apenas será uma das empresas que irá concorrer a essa licitação. Pelas informações que temos está previsto para entre abril e maio a Aneel realizar o leilão público de licitação dessas obras, então estamos apenas aguardando, com a Eletronorte toda preparada para concorrer, o que poderá acontecer em parceria com outras empresas.

Diário - E que empresas seriam essas?

Drago - A Eletronorte está sempre buscando empresas para participar, mas eu não tenho informações ainda sobre quais empresas deverão participar, ou seja, de fazerem consórcio com a Eletronorte, que podem ser nacionais ou estrangeiras o que depende de negociações que fogem a nossa alçada aqui na gerência regional da empresa. Posso adiantar apenas que a Eletronorte vai participar da licitação com toda certeza.

Diário - Como está o projeto que prevê também a construção de uma hidrelétrica no rio Jari, a usina de Santo Antônio, da qual a Eletronorte deverá comprar parte da produção?

Drago - Essa concessão pertence ao grupo Orsa, atuais donos da Jari Celulose, que anteriormente fez uma proposta à Eletronorte, mas o custo do megawatt não ficaria num valor que a Eletronorte gostaria, pois a proposta do grupo Orsa era vender o excedente de energia, mas a um custo praticamente igual ao das termelétri-cas, então a Eletronorte não tinha interesse no negócio. Depois esse mesmo grupo empresarial fez uma nova proposta, já com a Eletronorte sendo parceira na construção da obra, então a parte da Eletronorte que trata dessa questão ficou de estudar o assunto e eu não tenho como dizer em que pé está a situação.

Diário - Falou-se que a usina de Santo Antônio teria uma capacidade superior a 100 megawatts de geração de energia, com a Eletronorte adquirindo 70% dessa produção, não é mesmo?

Drago - Exatamente, era essa a programação. A indústria de celulose instalada lá precisaria de cerca de 30 megawatts para tocar o processo industrial e o restante a Eletronorte poderia dispor para o sistema de geração do Amapá.

Diário - E com relação ao impacto ambiental dessa usina, que aproveitaria as quedas d'água das cachoeiras de Santo Antônio?

Drago - Novamente digo a você que não tenho essa informação para dar, mas acredito que todas as providências para o licenciamento ambiental deverão ser adotadas. Posso adiantar apenas que a geração hidráulica lá não poderia ser feita o ano todo, pois no período da estiagem não haveria vazão para isso, o que teria que ser completado com a geração termelétrica ou mesmo com a chegada da energia da usina do Tucuruí.

Diário - Essa é uma notícia mais do que oportuna, já que o Amapá vive a expectativa de ver aprovado o projeto de criação da Zona Franca de Macapá e Santana. O senhor pode dizer se te-remos energia elétrica suficiente para tocar os projetos industriais que a Zona Franca poderá desenvolver?

Drago - Hoje a Eletronorte dispõe de uma ge-ração de 240 megawatts e a nossa carga está em torno de 140 megawatts, o que significa dizer que teríamos aproximadamente 100 megawatts de energia disponível, mas a confiabilidade maior virá mesmo com a interligação com o sistema nacional, via linhão do Tucuruí. Posso avaliar, entretanto, que uma vez aprovada a Zona Franca, as empresas levariam em média de 2 a 3 anos para se instalar, o que é praticamente o mesmo tempo previsto para que estejamos conectados ao sistema nacional, com a chegada do linhão aqui. Teremos energia elétrica para a Zona Franca sim, com toda certeza.

Diário - Qual a programação para a chegada do linhão do Paredão, no Amapá, até a cidade de Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa?

Drago - A Eletronorte iniciou todos os estudos para a construção da linha, tem todo o projeto pronto. A questão agora é executar a obra, mas o custo dessa obra se tornou incompatível para a empresa, ou seja, a taxa de retorno para a Eletronorte é praticamente zero diante do custo com a construção do linhão. Mas a nossa diretoria está envidando esforços junto ao Ministério das Minas e Energia para negociar o financiamento dessa obra através do Governo Federal, com a execução focando a cargo da Eletronorte e com o tempo haveria um acerto de contas entre a empresa e o Governo Federal.

Diário - Fala-se também que o empresário Eike Batista, que veio para o Amapá com os dois maiores projetos minerais dos últimos anos, o da MPBA e o da MMX, agora estaria investindo na construção de uma Pequena Central Hidrelétrica, a chamada PCH. O que o senhor sabe a respeito disso?
"A Eletronorte iniciou todos os estudos para a construção da linha, tem todo o projeto pronto. A questão agora é executar a obra, (...) a diretoria está envidando esforços junto ao Ministério das Minas e Energia para negociar o financiamento através do Governo Federal"

Drago - Apenas que a movimentação existe, o que acho muito bom, pois essa região de Oiapoque, Calçoene, enfim, esses municípios ba-nhados por rios importantes, possuem um excelente potencial para a exploração das Pequenas Centrais Hidrelétricas, um projeto antigo para a região e que agora poderá sair do papel.

Diário - Recentemente os moradores de Serra do Navio comemoraram a chegada de um grande transformador de energia elétrica para a cidade, que vive sofrendo com as interrupções no fornecimento de energia. Onde a Eletronorte entrou nessa novidade?

Drago - A Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) fez uma solicitação ao Ministério das Minas e Energia e a Eletronorte atendeu cedendo dois transformadores da Subestação Macapá 1, que está sendo desativada. Um dos transformadores foi para Serra do Navio e o ou-tro para a comunidade do Cupixi, em Porto Grande. A região tem alguns problemas de abastecimento de energia, que deverá diminuir bastante com a chegada desses equipamentos. Mas vale lembrar que a solução definitiva passa pelo problema da linha de transmissão, basicamente por falta de manutenção, já que boa parte da linha fica dentro da floresta e vez por outra uma árvore cai sobre ela, interrompendo o sistema e que para se chegar à origem se gasta dois a três dias, um período em que o município todo fica sem energia. Esse é um ponto de estrangulamento do fornecimento para aquela região.

Diário - Há uma questão sub-júdice sobre a propriedade daquela linha de transmissão?

Drago - Pela parte da Eletronorte não. Sabemos que a propriedade da linha era da mineradora Icomi e que agora terá que ser assumida por alguém. Não podemos realizar a manutenção da linha porque não nos pertence, estaríamos incorrendo até em crime de improbidade administrativa se o fizéssemos. A manutenção consiste em fazer a limpeza da faixa de servidão da linha de transmissão, com serviços de roçagem, enfim, garantir a manutenção da linha.


Esta entrevista encontra-se no "Diário do Amapá", no endereço:
http://www.diariodoamapa.com.br/politi_espe.htm

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