quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cassação do mandato de Demóstenes Torres repercute na Câmara

Com a decisão, Demóstenes ficará inelegível por oito anos contados a partir do fim do mandato (fevereiro de 2019). Assim, só poderá concorrer a um cargo político a partir das eleições de 2028.
Nilson Bastian
Presidente Marco Maia com dep. Arlindo Chinaglia (lider do governo) e dep. Jilmar Tatto (lider do PT)
Maia (E): a sessão na qual o senador mentiu, dizendo que não conhecia Cachoeira, foi um fato muito grave.
A cassação, nesta quarta-feira, do mandato do senador Demóstenes Torres (Sem partido-GO) repercutiu na Câmara. Ele foi acusado de usar o mandato para favorecer o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Foram 56 votos pela cassação, 19 contra e cinco abstenções. De acordo com o presidente da Câmara, Marco Maia, a decisão dos senadores foi acertada porque Demóstenes agiu de maneira inadequada. "A sessão na qual o senador Demóstenes mentiu aos seus colegas, dizendo que não conhecia o contraventor Carlinhos Cachoeira, na minha avaliação, foi um fato muito grave e que levou, certamente, os senadores a pensar e refletir sobre o envolvimento de Demóstenes com Cachoeira”, observou. Marco Maia acrescentou: “Se ele não tinha nenhum problema, se não tinha nenhuma acusação que pesasse sobre ele, algo que não fosse significativo, ele não tinha necessidade nenhuma de ter mentido no Plenário."
Decisão emblemática

Para o deputado Ivan Valente (SP), presidente nacional do Psol, partido autor da representação que deu origem ao processo de cassação de Demóstenes Torres, "a decisão foi emblemática, a exemplo da cassação de Luiz Estevão, em 2000" . Valente lembrou que esta é a segunda vez, em toda a história do Senado, que se cassa um senador. “Mas, por outro lado, não poderia ser diferente porque, no caso do senador Demóstenes Torres, diante de provas tão explícitas, tão contundentes, seria uma grande desmoralização do Senado Federal. Seria realmente um desgaste político muito alto uma absolvição."

Expulsão do DEM

"Não havia hipótese de absolvição", na avaliação do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), líder do Democratas, legenda da qual Demóstenes se desligou, antes do desfecho do processo de expulsão. Magalhães Neto acredita que “o Senado deu uma demonstração de responsabilidade pública de reconhecimento às expectativas da sociedade e mostrou que a impunidade não tem vez no Congresso Nacional."

"Senado fez justiça"

O líder do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), disse que o Senado fez justiça e não poupou críticas ao senador cassado. "Ele era uma pessoa de uma cara só. A cara da corrupção; a cara do crime organizado; a cara que falava mal do PT; a cara que falava mal do governo e que foi descoberto". No entender de Tatto, “nada mais justo” do que a cassação de Demóstenes. “O Parlamento brasileiro, o Congresso Nacional, o Senado não podia ter uma pessoa como ele. Ele traiu o povo de Goiás." Segundo avaliou Jilmar Tatto, “estava claro que Demóstenes fazia parte do crime organizado “.

Cachoeira e deputados 

Ivan Valente e Antonio Carlos Magalhães Neto avaliaram que a cassação de Demóstenes Torres piora a situação dos deputados investigados pela Câmara por associação com o mesmo esquema. "É preciso que a Câmara tenha o mesmo compromisso do Senado e os deputados comprovadamente envolvidos com malfeitos precisam pagar o preço", disse Magalhães Neto. Porém, tanto para Maia quanto para Tatto, a decisão do Senado não vai influir nos rumos das investigações que a Câmara faz de deputados suspeitos de associação com Cachoeira. "Não dá para fazer analogia direta e dizer que o que aconteceu no Senado ocorrerá na Câmara, porque cada caso terá de ser analisado com suas peculiaridades", disse Tatto.
Reportagem – Idhelene Macedo e Carol Siqueira
Edição – Newton Araújo

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