segunda-feira, 4 de junho de 2012

Coluna "Kenneth Maxwell"

Os desafios da maturidade para o Brasil

Brasil não é um país novo - apesar de pensar ser. Tem mais de meio milênio. Os ciclos econômicos, políticos e geopolíticos do passado pesam muito em seu papel atual e na maneira como ele se relaciona com o mundo. Por 300 anos, o Brasil foi colônia de Portugal. Por outros 80 anos, continuou a ser governado por uma monarquia. Entre 1808 e 1822, o Rio de Janeiro foi o centro do império luso-brasileiro. Mas quando o Brasil se tornou Brasil? Como espaço geográfico onde se falava a língua portuguesa, o país foi por mais de 200 anos uma série de enclaves litorâneos, mais acessível por mar que por terra. Nesse período, o Brasil se tornou o maior exportador de açúcar do mundo e, por mais de 100 anos, dominou o mercado mundial. O açúcar trouxe milhões de escravos africanos, fato que fez com que o Brasil estabelecesse relações regulares e íntimas com a África durante 350 anos. Esse envolvimento precoce do Brasil com o comércio internacional moldou-o como um país que olha para fora, sensível aos mercados globais, aos preços das commodities e às políticas internacionais. A luta com os holandeses no século XVII, pelo controle do comércio de escravos e de açúcar no Atlântico, levou à mobilização da força militar brasileira, que venceu o mais formidável império comercial da época.
Na metade do século XVIII, a expansão brasileira para o interior do continente conectou as duas maiores bacias hidrográficas: a do Rio Amazonas e a do Rio Paraná. Essa vasta incorporação de território, que ainda precisava ser explorado, foi reconhecida pelo Tratado de Madri, de 1750, assinado entre Portugal e Espanha. O acordo estabeleceu e legalizou a fronteira interior, que pode ser protegida. Em 1763, a capital foi transferida de Salvador, na Bahia, para o Rio de Janeiro.
A nova capital da colônia refletia o impacto da corrida do ouro e consolidou a ocupação do interior de Minas Gerais e Goiás. Ouro e diamantes, assim como o açúcar, reforçaram a relação entre o Brasil e o comércio internacional. Em torno de 1800, a maior parte dos brasileiros vivia em Minas Gerais. Mas Rio de Janeiro, Salvador e Pernambuco também eram consideravelmente populosos, assim como São Luís e Belém, localizados no norte.  A chegada da família real portuguesa em 1808, que fugia da invasão napoleônica de Portugal, fortaleceu essas conexões e ajudou a concentrar o poder administrativo. Também levou à ambição no sul e no extremo norte, com a tentativa do Rio, sem sucesso, de expandir seu controle sobre o Uruguai e as Guianas. Isso estabeleceu uma competitividade de longo prazo com a Argentina que se estendeu até os anos 1980, quando o presidente Raúl Alfonsin, da Argentina, e José Sarney, do Brasil, estabeleceram um novo e mais cordial patamar para as relações entre os países
(saiba mais sobre as relações Brasil/Argentina no governo Sarney). O Brasil independente enfrentou e superou uma série de movimentos regionais separatistas no Nordeste, no extremo Norte e no Sul. Recuperou-se das sérias consequências políticas da Guerra do Paraguai e, durante esse período, garantiu a integralidade de seu território e, mais tarde, ajustou suas fronteiras no Acre pela diplomacia. O Brasil também enfrentou o legado da escravidão. No final do século XIX, as elites brasileiras abraçaram teorias do racismo europeu. Mas, nas décadas de 1920 e 1930, figuras eminentes, como Gilberto Freyre ou Jorge Amado, celebraram a diversidade racial e a história de miscigenação, enquanto o racismo virulento estava prestes a dizimar a Europa. Mais marcante foi a constante expansão da cultura popular, muitas vezes para além das instituições formais do Estado e da Igreja, refletindo a vivacidade intercultural e inter-racial. O legado do comércio de escravos e da escravidão foi a herança mais difícil de superar. O tráfico de escravos acabou em 1850 e a escravidão persistiu até 1888. Com o surgimento da produção de café no século XIX, o Brasil novamente conquistou mercados mundiais. (...)

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Kenneth Maxwell é historiador britânico, diretor do Programa de Estudos Brasileiros do Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos

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