terça-feira, 19 de junho de 2012

Sarney: "O Amapá muito deve ao Governador Janary Nunes"

Por Cleber Barbosa

Considerado um estadista, o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), atual senador pelo Amapá e presidente do Senado Federal, dirigiu há dias a histórica sessão solene do Congresso Nacional pelo Centenário do Governador Janary Nunes, que foi o primeiro a governar o então Território Federal do Amapá. Em seu discurso, igualmente digno de registro, José Sarney traça o perfil empreendedor de Janary e destaca a visão de futuro digna dos grandes estadistas. O Diário do Amapá teve acesso ao texto original e realiza uma análise detalhada da retórica de Sarney, de modo a que de possa empreender melhor a importância do trabalho realizado por Janary Nunes como governador, mas também como executivo da Petrobrás e diplomata brasileiro, já que foi embaixador do país na Turquia. Acompanhe a seguir.

A importância da atuação e trabalho deixado pelo ex-governador Janary Nunes no contexto do desenvolvimento do Território federal do Amapá, como preparação para a criação do futuro Estado do Amapá.

José Sarney - É impossível fazer-se justiça à história do desenvolvimento do Estado do Amapá sem trazer à lembrança à cara, saudosa e ilustre figura de Janary Gentil Nunes, cuja vida foi repleta de trabalhos prestados ao País e, principalmente, ao Estado do Amapá, onde legou a todos uma herança de trabalho com a realização de inúmeras obras e incutiu naquele povo sentimentos de ânimo e vontade de prosperar.

A questão do Contestado Brasil e França pelas terras onde hoje está Oiapoque.

José Sarney - A longa história do Amapá atingira um ponto decisivo em 1900, com a decisão da Confederação Suíça favorável ao Brasil. A região que estava em disputa foi incorporada ao Estado do Pará. Depois da tentativa fracassada de criação do território do Aracari, foram criados os municípios de Amapá, com sede em Amapá, e Montenegro, com sede em Calçoene, que foram logo fundidos no município de Montenegro, com sede em Amapá. Macapá e Mazagão permaneceram como municípios paraenses.

Clevelândia do Norte, a ocupação da fronteira acabou sendo marcada pela criação de colônia penal e depósito der presos

José Sarney - No extremo-norte a antiga Colônia Mi-litar D. Pedro II foi transferida do Araguari para o Oiapoque. Era o ponto de afirmação da soberania. A ocupação efetiva começou quando o senador Justo Chermont conseguiu, em 1919, instituir uma Comissão Colonizadora do Oiapoque. Seguindo um modelo que já fora testado por todo o Brasil, construiu-se o Centro Agrícola de Cleveland, Clevelândia, dando-se o nome em homenagem ao presidente norte-americano. A 5 de maio de 1922 inaugurou-se a vila, já estando em funcionamento escola e hospital. Mas logo a região se tornou num lugar de desterro e confinamento de presos políticos e comuns.

A separação do Amapá do Pará, com a criação do Território Federal do Amapá, pelo presidente da República.

José Sarney - A situação precisava evoluir. É assim que, a 13 de setembro de 1943, pelo Decreto-Lei 5 812, foi criado o Território Federal do Amapá. Limitava-se pelo Atlântico, pelo Amazonas, pelas fronteiras com as Guianas Francesa e Holandesa, e pelo Jari do Amazonas até à fronteira. Era, de certa maneira, a recuperação da área da antiga Capitania do Cabo do Norte. Dividia-se em três municípios: Amapá, Macapá e Mazagão. A capital era Amapá.

A capital do Amapá deixa de ser a cidade de Amapá e é transferida para Macapá.

José Sarney - Logo houve a primeira mudança: a ca-pital, naturalmente, instalou-se em Macapá. Em seguida acrescentou-se o município de Oiapoque, com sede na cidade do Espírito Santo. Bem mais tarde, em 1956, foi a vez do município de Calçoene.

Os novos municípios do Amapá foram criados pelo então presidente da República José Sarney.

José Sarney - Novos municípios só apareceram quando fui Presidente da República, e, em 1987, assinei os decretos de criação de Santana, Tartarugalzinho, Ferreira Gomes e Laranjal do Jari. No ano seguinte foi a vez da Assembleia Nacional Constituinte colocar nas Disposições Transitórias da nova Constituição a transformação do Território do Amapá em Estado.

A carreira militar de Janary Nunes.

José Sarney - Estamos comemorando o centenário de nascimento de Janary Nunes, nascido em 1º de junho de 1912 em Alenquer, no Pará. Fez a Escola Militar de Realengo e serviu em Clevelândia em 1936/37. Mais tarde, em 1940/41, comandou o Pelotão de Oiapoque. Com a criação dos Territórios Federais, o Presidente Vargas, através do Decreto-Lei n° 3.839, de 21 de setembro de 1943, nomeou para o cargo de Governador do Território do Amapá o Capitão Janary Gentil Nunes.

A gestão de Janary Nunes como governador do Território Federal do Amapá.

José Sarney - O novo Governador Territorial fez um trabalho extraordinário e fixou-se como a figura fundadora dessa unidade administrativa que hoje é um Estado, onde ele é um símbolo, amado, recordado e admirado.
A posse de Janary Nunes, no dia 20 de janeiro de 1944, foi a ocasião da transferência ao novo Território do que eram antes municípios do Pará. Janary governou o Amapá por doze anos, entre 1944 e 1956. No seu período de governo o Território se consolidou, superando os antigos problemas de fronteira.

O que fez Janary depois de sair do cargo de governador do Território Federal do Amapá.

José Sarney - Ao deixar o governo do Amapá Janary Nunes foi nomeado para a Presidência da Petrobrás. Em 1958 foi nomeado Embaixador do Brasil na Turquia.

O maior legado de Janary Nunes para o povo do Amapá e sua história.
José Sarney - No Amapá, Janary Nunes permanece pelas suas obras e no imaginário popular como uma figura fundadora.

Registro histórico sobre o Centenário do Nascimento do ex-governador Janary Nunes.

José Sarney - O Senado Federal publicou uma segunda edição de um livro, Impressões sobre o Território, preparado há 50 anos, que reúne uma quantidade de depoimentos sobre o Amapá e o governo Janary Nunes. É, na realidade, uma coroa de sonetos em louvor do grande trabalho realizado pelo Governador no Amapá, escrita por políticos e técnicos, militares e historiadores. Dele resulta a certeza de um trabalho extraordinário de construção do que seria, mais tarde, um dos mais novos Estados brasileiros.

Nova edição do livro escrito por Janary

José Sarney - Também estamos lançando hoje o livro Confiança no Amapá - Impressões sobre o Território, em que Janary Nunes dá o seu testemunho pessoal sobre o Território cuja construção liderou. Temos assim a visão de quem, mais do que ninguém, foi responsável pela consolidação de uma região do Brasil que se incorporou definitivamente à essência do País, uma região que se tornou Brasil por opção de seus habitantes. O Amapá muito deve ao Governador Janary Nunes, e o Senado Federal presta um grande serviço ao Brasil ao publicar novamente estes testemunhos edificantes de um importante homem público.

O que fica da homenagem solene do Congresso Nacional a memória de Janary Nunes.

José Sarney - Ao celebrarmos o centenário de Janary Nunes, portanto, estamos fazendo justiça a um grande servidor de nosso País, um homem devotado ao Brasil e especialmente ao Amapá, e à grande causa que foi a sua, de implantar naquele extremo da Amazônia o Estado brasileiro.

Perfil

O advogado, escritor, jornalista e político José Ribamar Ferreira Araújo da Costa Sarney nasceu em Pinheiro (MA) e tem 82 anos de idade. Começou a mi-litância política ainda nos tempos de Colégio Liceu, em São Luiz (MA). Depois foi suplente de deputado federal tendo assumido algumas vezes o mandato até ser eleito para a Câmara Federal. Depois foi eleito governador e em seguida senador da República ainda pelo Maranhão. Atuou pelo movimento de Eleições Diretas e compôs como vice na chapa vitoriosa de Tancredo Neves rumo à Presidência da República, tendo assumido a titularidade depois da morte do amigo e aliado. Teve um go-verno marcado pelo apoio ao social e estabilização econômica. Depois foi eleito senador pelo Amapá, onde cumpre seu terceiro mandato consecutivo, além de presidir o Senado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Acompanhe

Clique para ampliar