segunda-feira, 9 de julho de 2012

CPI buscará ofuscar julgamento do mensalão

Por Fernando Exman | Valor Econômico - A6

A cúpula da CPI do Cachoeira prepara para o retorno do recesso parlamentar uma agenda capaz de rivalizar com o início do julgamento do mensalão, agendado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para agosto. Petistas como o relator da comissão, deputado Odair Cunha (MG), pretendem reconvocar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e ouvir os depoimentos da ex e da atual mulher do empresário goiano. Outra aposta do PT é atacar a candidatura à Prefeitura de São Paulo de José Serra (PSDB) por meio da audiência com Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da autarquia paulista Desenvolvimento Rodoviário SA (Dersa). Mesmo ciente da possibilidade de o PT tentar levar adiante sua estratégia de usar a CPI mista para dividir as atenções da opinião pública durante o julgamento do mensalão, a oposição acredita que também poderá ser beneficiada se o colegiado decidir tomar no mesmo período o testemunho de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Já os parlamentares que atuam de forma independente acham que as mais recentes convocações aprovadas pela CPI poderão impulsionar os trabalhos da comissão. Quando surgiu o escândalo protagonizado por Cachoeira, dirigentes do PT decidiram aproveitar a oportunidade para atacar adversários e desqualificar os responsáveis pelas denúncias de que o partido teria criado um esquema de compra de apoio parlamentar durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Queriam, por exemplo, atacar a imprensa. Outro alvo foi o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A CPI foi instalada no dia 25 de abril. Desde então, a dinâmica dos seus trabalhos acabou inviabilizando o plano inicial da cúpula do PT. Não foram encontradas provas contra jornalistas, e Gurgel não foi abatido. Ao depor pela primeira vez, Cachoeira nada falou. Enquanto isso, o STF decidiu em junho marcar o julgamento do mensalão para o início de agosto. Agora, petistas querem aproveitar o recesso parlamentar para aprofundar as pesquisas nos documentos que já chegaram à CPI e esperar a chegada do material apreendido pela Polícia Federal durante a operação que prendeu o empresário goiano. Cachoeira é acusado de comandar um esquema de jogos ilegais com conexões no setor público e na iniciativa privada, o que sua defesa nega. Na semana passada, a CPI mista aprovou a convocação do dono da Delta Construções, Fernando Cavendish, de Luiz Antonio Pagot e Paulo Vieira de Souza, que teria arrecada recursos para campanhas do PSDB paulista. Foram aprovados também requerimentos de convocação do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), flagrado em vídeo negociando recursos com Carlinhos Cachoeira para sua campanha, e Andreia Aprígio, ex-mulher do empresário preso. "A CPI deu um grande passo aprovando essas convocações", afirmou o Senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), para quem o julgamento do mensalão não deve eclipsar os trabalhos da CPI nem a comissão ofuscará o STF. "Não creio nessa rivalização. Temos que aproveitar essa boa maré da aprovação dessas convocações." Investigadores suspeitam que Cachoeira tenha deixado seus bens em nome da ex-mulher. "A ex-mulher de Cachoeira declarou um patrimônio de R$ 9,8 milhões. Entre os bens, há uma casa em Miami, uma fazenda de 165 hectares, um avião Cessna, salas comerciais e apartamentos em Goiânia e no Rio. Andreia tem registro de assalariada no laboratório Vitapan, que a PF diz pertencer, de fato, a Cachoeira", justifica um dos requerimentos que tratam de Andreia. A atual mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, também está na mira do PT. "Andressa circulava com seu marido entre figuras importantes, como políticos, empresários e jornalistas e, portanto, tem conhecimento sobre a sua rede de influências", descreve requerimento de Senadores petistas. Já a oposição dá como certo que Cavendish não colaborará com as investigações, apesar de a Delta ser uma das principais executoras das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Por outro lado, aposta na aparente disposição do ex-diretor do Dnit de fazer revelações. O PT também acha que pode obter de Pagot informações que atinjam o PSDB e Paulo Preto. "Isso não atrapalha o julgamento do mensalão. O Cachoeira tem que voltar à CPI, é importante que esse pessoal venha", comentou o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR). "Pode surgir fatos novos e tem ainda material para chegar. Temos que ouvir para dar consequências a essa CPI." 

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