quarta-feira, 13 de junho de 2012

Distribuição desigual de recursos para clubes de futebol domina debate na Comissão de Educação

Os critérios de distribuição dos recursos das cotas de televisão destinados aos clubes de futebol foram o principal ponto do debate realizado nesta quarta-feira (13) na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE). Participaram da audiência, comandada pela senadora Ana Amélia (PP-RS), representantes das redes Globo e Bandeirantes e dos clubes de futebol. Embora convidada, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não enviou representante. O presidente da entidade, José Maria Marin, e o consultor jurídico Álvaro Melo Filho estão no exterior.
Os representes dos clubes e o senador Zezé Perrella (PDT-MG), que presidiu o Cruzeiro por 20 anos, foram unânimes em reconhecer o aumento expressivo no valor das cotas e na comercialização dos direitos relacionados ao futebol. Pediram, no entanto, ajustes baseados em critérios esportivos para a distribuição dos recursos.
- Se não fosse a parceria com as tevês, o futebol estaria literalmente quebrado. Para se ter uma ideia, em 1995 o contrato era de R$ 50 milhões. Para 2012, o valor para série A é de R$ 1,1 bilhão – disse Perrella.
Atualmente, as receitas de patrocínio da Série A do Campeonato Brasileiro são administradas pelos próprios clubes, sem a interferência da CBF. Até o ano passado, as negociações eram conjuntas, por meio do Clube dos 13, entidade que reúne 20 dos principais clubes de futebol. Em 2011, foram firmados contratos individuais, o que gerou aumento de receitas para a Série A, mas elevou a disparidade entre os clubes da primeira divisão – em sua maioria das Regiões Sul e Sudeste – e os das séries B, C e D.

Centralização

A situação gerou protestos do senador Paulo Davim (PV-RN), para quem a centralização dos recursos traz danos a todo o futebol brasileiro.
- A diferença condena os pequenos a serem sempre pequenos. Há quanto tempo o Nordeste não dá um craque ao país? As emissoras [de tevê] precisam ter essa sensibilidade. O futebol está empobrecendo e a seleção mostra isso. Deixamos de produzir craques, porque não há visão nacionalizada do futebol. Há quanto tempo um time fora do eixo Rio-São Paulo não conquista um título nacional? – questionou.
O senador Zezé Perrela argumentou que os recursos e, por consequência, os títulos do Campeonato Brasileiro, concentram-se no Rio e São Paulo porque são estados que detém a maior parte da atividade econômica do país.
O representante da Rede Globo, Marcelo Campos Pinto, negou que haja um processo de “espanholização” na distribuição das receitas do futebol. Na Espanha, mais de 70% da renda de tevê vão para os dois principais clubes, Barcelona e Real Madrid. Na Itália, as quatro maiores equipes ficam com 65% das receitas. O Brasil, afirmou o executivo, caminha no sentido oposto.
A distribuição dos recursos da Globo atende a critérios de audiência nacional e estadual em tevê aberta, a pesquisa anual de preferência por clubes, além de premiação relativa à colocação no campeonato do ano anterior. A fórmula, afirmou Marcelo Campos Pinto, garante o equilíbrio financeiro e técnico entre os clubes.

Incentivos

Os participantes da reunião defenderam a adoção de políticas de incentivo aos clubes de futebol, com regras mais amenas de pagamento de encargos sociais. A falta de recolhimento de FGTS tem gerado a rescisão unilateral de contrato de trabalho de atletas. O presidente do Vitória da Bahia, Alex Portela, reclamou do grande número de taxas que está obrigado a pagar toda vez que sua equipe entra em campo:
- ISS, taxa para a polícia militar - exemplificou.

Bebidas Alcoólicas

Outra demanda dos clubes é a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, o que garantiria mais uma receita nos jogos. Relatora no Senado da Lei Geral da Copa (Lei 12.663/2012), que retirou a proibição durante a realização do Mundial de 2014, a senadora Ana Amélia disse que o assunto merece reflexão mais aprofundada. Ela disse que as pesquisas indicam a relação direta entre a violência nos estádios e o consumo de bebidas. Para uma solução, sugeriu, devem ser ouvidos especialistas.
Por decisão de Ana Amélia, foi dada a palavra ao vice-presidente da CBF na Região Centro-Oeste, Weber Magalhães, que acompanhava a reunião. Ele disse que a entidade está atenta aos problemas dos clubes, incentivando a profissionalização de suas gestões. Quanto à diminuição das diferenças na distribuição dos recursos, ele disse que esse é um processo demorado, e que a CBF tem procurado trabalhar junto com os clubes.

Agência Senado/ Marco Antônio Reis

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