quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Alves reclama de MP com penduricalhos

O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), prometeu ontem não aceitar mais medidas provisórias que sejam editadas com mais de um tema ou que recebam penduricalhos ao longo da tramitação. A mudança, se realmente ocorrer, deve dificultar a vida do governo, que usa destes subterfúgios para agilizar a votação de projetos de seu interesse. Segundo estudo do cientista político Carlos Nepomuceno divulgado pelo Valor no dia 2, de 468 MPs aprovadas pelo Congresso de 2001 a 2011, 31% tratavam de mais de um tema e 24% (112) já saíram do Executivo editadas com pelo menos dois assuntos diferentes. Segundo Alves, isso vai acabar. A Mesa Diretora vai publicar uma resolução com as novas regras, que prevê ainda que a Câmara só vai analisar MPs que chegarem ao plenário pelo menos 15 dias antes de caducarem. "Vamos respeitar a discussão das medidas provisórias anteriores à 621 [que institui o programa Mais Médicos], mas não aceitaremos mais temas que não sejam da proposta original", afirmou. A mudança recebeu apoio público do PT, partido da presidente Dilma Rousseff. "Será bom e educativo para o Legislativo e para o governo, assim discutimos um assunto por vez e com mais transparência", afirmou o líder da legenda na Câmara, deputado José Guimarães (CE). A decisão ocorreu por causa da MP 615, aprovada na noite de segunda-feira pela Câmara. A proposta chegou com três temas ao Congresso, mas o relator, senador Gim Argello (PTB-DF), acrescentou mais de dez outros assuntos, como a regularização fundiária no Distrito Federal, programas de parcelamento de dívidas e benefícios fiscais para setores da economia. As medidas provisórias entram em vigor ao serem publicadas pelo governo, mas perdem a validade se não forem aprovadas pelo Congresso em 120 dias. O prazo fazia com que os deputados votassem o projeto em cima da hora, e sobrava pouco tempo para a análise do Senado. Depois da votação da MP dos Portos em junho, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que não receberia mais MPs com menos de sete dias para perderem a validade. Na noite da segunda-feira, foi a vez de Alves, que disse que queria colocar em votação na próxima semana a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 70/11, de autoria do senador José Sarney (PMDB-AP), que prevê prazos para o rito de tramitação das medidas provisórias. O desejo, porém, esbarra na falta de discussão prévia da proposta na Câmara. A comissão especial para tratar do projeto foi formada há menos de um mês e ainda não tinha realizado nenhuma audiência pública. Em reunião ontem, o grupo decidiu fazer audiências públicas nos dias 17, 18 e 24 e apresentar o relatório no dia 25, para que a PEC seja votada no início de outubro pelo plenário. O debate é necessário para acertar os ponteiros sobre a necessidade de uma comissão composta por senadores e deputados para analisar o mérito da MP antes da votação em plenário. A PEC acaba com a comissão mista. O relator da PEC, deputado Odair Cunha (PT-MG), pondera que talvez a comissão mista não seja o espaço mais democrático. "Temos 11 partidos na Câmara que não participam de nenhuma comissão, por não ter número de deputados suficiente", pontua. Já o presidente da comissão que discute a PEC, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), diz que a discussão é para inserir no texto a comissão mista. "Me parece que há uma posição majoritária pela manutenção da comissão mista, mas com um prazo para analisar a MP", afirma. Cunha diz, ainda, que pode inserir na PEC a regra para que as MPs só tenham um tema, mas que ainda não há decisão sobre isso. A PEC estabelece prazos para votação das medidas provisórias. Prevê que a Câmara terá 80 dias para votar as MPs, que só trancarão a pauta da Casa depois de 70 dias. O Senado terá 30 dias para analisar as matérias, com a pauta trancada após o 20º dia e, se os senadores modificarem o texto, os deputados terão mais 10 dias para votar as mudanças.


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