Senador é o principal defensor da convocação do governador de Goiás para depor no Congresso
Do Correio Braziliense / Karla Correia
O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) ocupa na CPI do Cachoeira uma vaga cedida pelo PSDB e pelo DEM e, hoje, aparece como um dos algozes mais ferrenhos do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, na comissão. Vem dele as principais investidas para convocar o mandatário goiano para comparecer à CPI, o que tem gerado brigas internas no PSDB e cobranças no partido pela substituição de Randolfe.
Em entrevista ao Correio, o senador reforça a necessidade do depoimento de Perillo à comissão. Em seu entendimento, a investigação já forneceu “elementos inequívocos” para ligar o governador tucano à organização criminosa chefiada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Randolfe afirma que a CPI corre o risco de se transformar em uma “pantomima” se não ouvir o depoimento do tucano e se não quebrar os sigilos da empresa Delta — duas das principais questões que deverão ser votadas pela CPI nesta semana. E diz não ter sofrido até o momento qualquer movimento pela sua saída da comissão. “Será inócua qualquer forma ou veículo de pressão”, diz o senador. A seguir, os principais trechos da conversa.
As últimas decisões da CPI têm demonstrado a existência de um acordo entre os partidos para evitar que as investigações atinjam as legendas. Uma eventual convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo, serviria para romper esse acerto?
Acaba que não resolve o problema porque a questão não se restringe ao governador Perillo. A convocação dele é inadiável, mas os outros dois governadores, dos outros partidos, também precisam comparecer. De todos os governadores, o Marconi Perillo é o que tem maior número de menções nas gravações em relação direta com o senhor Carlos Cachoeira. Então, não se trata só de questão política ou partidária.
Está sedimentado o acordo de cavalheiros entre PT, PMDB e PSDB?
Está claríssimo. Na sessão de quinta-feira, com o adiamento do requerimento sobre a quebra dos sigilos da Delta, ficou patente que há um acordo de blindagem em relação a temas mais espinhosos. Há uma troca de interesses sobre o que deve ser blindado. Se continuar nesse ritmo, todos os temas que mais interessam vir à luz serão blindados, não vamos conseguir investigar nada. A CPI já está funcionando há um mês sem convocar governadores ou se decidir sobre a Delta… A comissão está patinando, está perdendo o rumo, está se tornando uma pantomima e precisa urgentemente de uma mudança de rumo para se salvar. É indispensável quebrar o sigilo fiscal e bancário da empresa Delta, convocar o senhor Fernando Cavendish (dono da empresa Delta), os três governadores dos estados citados.
E por que isso ainda não aconteceu?
Eu vou usar um termo que foi falado na CPI, embora eu ache um pouco chulo. A CPI está sendo “tigrão” para questões menores e está sendo bem “tchutchuca” para o que deveria ser o foco dela. A comissão está patinando, não está avançando no que deve. Claramente, há um acordo entre os grandes partidos, que temem o passo adiante que a comissão deve dar na investigação dessa rede criminosa.
O silêncio que tem marcado os últimos depoimentos, de personagens-chave da investigação, representa uma limitação no poder que a comissão tem de apurar os fatos?
A CPI não tem só os depoimentos como instrumento de investigação. É por isso que a Constituição criou as CPIs como comissões com poderes próprios de autoridades judiciais. Depoimento não é a única arma, a única ferramenta. Seguindo na forma que está, não resta alternativa a não ser a quebra dos sigilos. Só que a CPI fica ouvindo o silêncio dos presos, e não avança na quebra dos sigilos, que é a alternativa que faria avançar.
Na opinião do senhor, então, a situação política de Perillo é mais complicada do que a de outros governadores?
Há indícios em relação aos três, mas há elementos inequívocos em relação ao governador Perillo. Na ordem de convocação, o primeiro tem que ser ele. Eu apostaria na seguinte ordem: primeiro o governador Perillo, segundo o governador Agnelo (Queiroz) e terceiro o governador Sérgio Cabral (RJ). Antes do Cabral comparecer à CPI, precisamos aprovar a quebra de sigilo da Delta e ter acesso aos dados. Com isso, teremos mais elementos para poder realmente obter informações relevantes de um depoimento do governador Cabral.
O senhor ocupa na CPI uma vaga que foi cedida pelo PSDB e pelo DEM e, hoje, aparece como um dos principais defensores da convocação do governador tucano. Há alguma pressão para substituir o senhor na comissão?
Até agora não senti nenhuma pressão. Quando o PSDB e o DEM gentilmente me cederam a vaga, eles tinham a consciência de que a nossa linha seria de investigar tudo e todos, doa a quem doer. Os mesmos critérios que me balizam para investigar o Perillo vão também me orientar na investigação de qualquer outro governador. Acredito que será inócua qualquer forma ou veículo de pressão. “Eu vou usar um termo que foi falado na CPI, embora eu ache um pouco chulo. A CPI está sendo “tigrão” para questões menores e está sendo bem “tchutchuca” para o que deveria ser o foco dela”
Quem é ele
Nascido em Garanhuns, em 1972, Randolfe Rodrigues é o senador mais jovem do Brasil. Foi o mais votado da história do Amapá, ultrapassando o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), nas eleições de 2010. Morador do estado desde os 8 anos, é professor e foi filiado ao PT. No início do mandato, concorreu à presidência do Senado e foi derrotado por Sarney.
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