Carnaval do Povo
Entre nós, brasileiros, dizemos sempre que o ano civil começa em março. Os meses de janeiro e fevereiro são usados somente para a expectativa e preparação do carnaval. Época em que dançamos e cantamos, mesmo diante de todo tipo de adversidades que acontecem em nossa sociedade. Desde que o homem passou a andar no solo, deixando as árvores, melhorou a postura, erguendo-se lentamente. Ao longo de milênios, imitava seus ancestrais, os macacos, mas sua natureza o levou a tornar-se bípede. Então, o barulho das árvores, a cantoria dos pássaros e as dezenas de sons dos objetos produzidos pelo homem, desde a Pedra Lascada, contribuíram para moldar-lhe lentamente o corpo. No simples arrastar dos pés e nos meneios dos braços e pernas, seguindo o rufar e batuque nos tambores, podemos constatar a origem primitiva e inegável de toda essa parafernália de instrumentos musicais de hoje. Objetos polidos, pintados e reluzentes aos quais nos acostumamos e dos quais gostamos. Criar instrumentos para reproduzir os sons, foi tudo de bom que a humanidade criou, tanto é que as festas e comemorações musicais, sempre tiveram seu ponto alto no calendário de todos os povos e contingentes humanos. Primeiro, temos as festas de santo, depois, as de batizados, aniversários, casamentos, formaturas, Natal e Ano Novo, sem contar as festas de empresas, a fim de lembrar sua fundação ou festejar bom êxito nos negócios. Motivos não faltam, para fazer os nossos costumeiros barulhos musicais. Mas, no meio desse mundão variado de festas, temos o nosso grande carnaval. Aliás, é bom lembrar que devemos aos afros grande parte desse legado de festas e alegrias. Certa feita, pude constatar isso, quando estive em Moçambique. Lá , vi homens e mulheres mutilados e aleijados, porém com o espírito da alegria e da dança refletidos no rosto. Nas colheitas, por exemplo, eles trabalham cantando todo o tempo. Em determinadas horas, também dançam, como se essa ação os congregasse ainda mais em torno do esforço comum de produzir alimentos. Cada povo com seus costumes. Entre nós, brasileiros, dizemos sempre que o ano civil começa em março. Os meses de janeiro e fevereiro são usados somente para a expectativa e preparação do carnaval. Época em que dançamos e cantamos, mesmo diante de todo tipo de adversidades que acontecem em nossa sociedade. Fazendo valer o velho adágio do quem canta, seus males espanta Assim, nesse mundo ainda cheio de conflitos e guerras, onde os homens se matam à toa, disputando espaços de religião, ideologias e não raro de domínio pessoal e político, paremos um momento, a fim de exclamar Salve a alegria! Salve o rei Momo, primeiro e único!
Gilvam Borges é ex-senador e, como se auto-intitula, “líder do governo paralelo no Amapá”
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