Aprovação do acordo fere Legislação brasileira
Reinaldo Coelho / Tribuna Amapaense
A criação de um Grupo de Trabalho (GT) no Amapá, coordenado pela
Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, para acompanhar e
avaliar o Acordo Internacional (Mensagem 668/09), assinado em 23 de dezembro de
2008 entre o Brasil e a França, finaliza os seus trabalhos com um relatório
encaminhado a referida comissão e ao relator do acordo, deputado federal
Sebastião "Bala" Rocha (PDT). O GT analisou o referido acordo que tem
o objetivo fortalecer a cooperação em matéria de segurança pública e matéria
penal, para combater atividade ilegal de extração do ouro, nos territórios
classificados, como parque nacional e nos territórios fronteiriços entre Guiana
Francesa e o Estado do Amapá, na faixa de 150 quilômetros de
fronteira, atingindo o distrito de Lourenço, no município de Calçoene. Membro
do GT, o desembargador Gilberto Pinheiro, do Tribunal de Justiça do Amapá
(TJAP), em entrevista a este semanário revelou que vários pontos do acordo
poderão ser questionados judicialmente. "O acordo fala em destruição do
material apreendido, que é a prática francesa, enquanto que nossa legislação
determina apenas a apreensão dos bens, enquanto o processo não tiver transitado
em julgado. Vale ressaltar, a guisa de esclarecimento, que a Lei nº 7.805, de
18 de julho de 1989, que trata do regime de permissão e lavra do garimpo, no
parágrafo único do artigo 21, é clara ao determinar que todo material
apreendido, sem prejuízo da ação penal, somente após o trânsito em julgado a
sentença que condenar o infrator, ou seja, quando não houver mais recurso,
serão vendidos em hasta pública e o produto da venda recolhido à conta do Fundo
Nacional de Mineração". De acordo com o magistrado amapaense, caso o texto
venha a ser aprovado com ampla maioria pelo legislativo, a lei brasileira terá
o seu artigo revogado,. "Em caso positivo, um Decreto Legislativo será
editado e, como tal, revogará a Lei nº 7.805/89, em razão do princípio das
hierarquias das normas, ficando uma lei brasileira revogada e beneficiará as
regras do acordo. Esse acordo cria um novo delito penal em que permite à
retenção, o confisco, a destruição de extração ilegal, ou durante seu
transporte em zona protegida ou de interesse patrimonial, dos bens, material e
instrumento utilizados para exploração de minérios, rasgando, portanto, a nossa
Carta Magna". Ainda segundo o
magistrado, o documento é impreciso e cheio de subjetivismos que poderão ter
impactos negativos para o estado no futuro. "A criação dessas "zonas
protegidas ou de interesse patrimonial", de 150 quilômetros
situados nessa faixa de nossa fronteira, isso é na realidade a materialização
de zonas internacionais", ressalta.
Fere a
história
Ele destaca também que se o acordo for aprovado
pelo Congresso Nacional vai ofender não só a soberania nacional, mais a memoria
de um dos maiores diplomatas das Américas, "No final do Século XIX, a
França litigiou contra o Brasil, objetivando tomar terras na Amazônia
nomeadamente na fronteira. A França já havia invadido 233 mil quilômetros
quadrados e pretendia muito mais. Como não bastasse tal pretensão, no dia 13 de
maio 1825, uma guarnição francesa fortemente armada adentrou a Vila de Espírito
Santo, hoje município de Amapá e praticou uma carnificina matando uma população
indefesa. A questão foi levada para a Corte Internacional na Suíça que foi por
nos defendida brilhantemente pelo maior diplomata das Américas, José da Silva
Paranhos e consequentemente o Laudo Suíço fixou nossas fronteiras. Então a
aprovação de tal acordo é um acinte a memória do Barão do Rio Branco".
Não existe litígio
fronteiriço
No ultimo encontro realizado pelo Grupo de Trabalho
no município de Oiapoque o prefeito Miguel Caetano, afirmou que não existem
problemas de garimpo ilegal naquele município e que os maiores problemas de
garimpos ilegais estão na Guiana Francesa e são eles que devem resolver esse
imbróglio. "Por que foram eles que vieram buscar os garimpeiros no Brasil,
eles que resolvam. Foi colocada que devemos receber compensações, Para quê? O
Oiapoque, o Amapá e a Amazônia, não precisam de imigrantes. A França nunca
investiu um euro naquela região. E nós como amapaenses e amazônidas temos sim
soluções para os problemas deles e se quiserem podemos indicá-los, pois por
sermos amazônidas conhecemos também os problemas da Guiana Francesa. Eles tem
tecnologia de ponta são um pais de primeiro mundo, agora este acordo rasga
nossa Constituição porque fere o processo legal e a própria da Declaração
Universal dos Direitos Humanos que insere o respeito às liberdades individuais,
o devido processo legal e o princípio do estado de inocência, basilares de uma
democracia, o único regime que respeita os direitos humanos, explica o
desembargador Gilberto Pinheiro.
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