A sociedade brasileira, construída de muitas e
diversas raízes, tem nos últimos anos demonstrado seu poder de mutação e
manifestado, através de um novo jeito de pensar, o que mais almeja. Leis Ficha
Limpa, da Transparência, Maria da Penha, Zero Álcool e Estatuto do Idoso são
exemplos dos reflexos da sociedade que busca nivelamento entre iguais e amparo
aos desiguais. Esse fenômeno faz pensar sobre a razão da importante
mudança. Os populistas dizem que é a força da massa sobrepujando as elites
históricas. Estão certos. Os mais céticos afirmam tratar-se de fenômeno
trazido pela melhora gradual no acesso à informação e educação, menor que o
desejável é claro, mas efetiva. Corretíssima também a alegação. E qual o
conceito central que atende a qualquer das frentes de pensamento? A
resposta ao questionamento encontra perfeita ressonância na ÉTICA. Nossa
sociedade experimenta a sensação de influenciar em seus destinos sem sofrer
sanção ou mesmo ver sua vontade mudada por chicanas de poder. As leis acima
citadas refletem mais que necessidades, mas vontades do povo, tudo, a meu ver,
ofertado pela ética popular. Essa ética não concorda com abuso de poder
de qualquer tipo, não tolera discriminação, cobra igualdade e oferece apoio
àqueles que nela baseiam seus atos cotidianos. Essa ética por vezes é
imposta, sim! Sempre pela vontade sensível da maioria que protege os mais
frágeis. O respeito estrito aos direitos de minorias tem em seu cerne
essa ética, que pune os que dela, a minoria, tentam abusar. Sim!, instrumentos
mais rígidos construídos pelo novo sentimento ético brasileiro protegem os que
não têm acesso às benesses do poder, a simpatia dos mais fortes ou àqueles que
se arvoram combater os que os detém. E diferente não mais pode ser. O brasileiro
moderno quer que seja assim. O exemplo mais evidente dessa nova ética
construída mostrou-se quando os Ministros do Supremo Tribunal Federal vestiram
suas togas, impermeabilizaram-nas com a nova ética e condenaram os atores do
Mensalão. Líderes populares, empresários, banqueiros, políticos, todos
submetidos à segurança das leis aplicadas por operadores que extraem da
comunidade valores e conceitos atuais. Assim, depois de tudo o dito, ao
meu sincero sentir, reflito que vivemos movimento irrefreável e que traduz o
momento de crescimento da sociedade brasileira, que ascendeu de classe social,
que aumentou o grau de instrução, que ocupa lugar de destaque no mundo e que
não mais tolera a desigualdade entre iguais. O rompimento de paradigmas
de poder é difícil de ser absorvido principalmente por quem com ele convive há
muito, mas afirmo: tal ruptura traz plena sensação de conforto por saber que,
independente das nossas escolhas, os iguais serão assim tratados. Traz o
gostoso sabor de ser comum e, por isso, especial ao mesmo tempo. Traz paz de
espírito por sabermos que estamos, junto com todos, caminhando na direção
certa. Às vezes a conta gotas, às vezes como a pororoca, a Ética ajuda a
transformar o Brasil. Que bom.
Luiz Carlos é
advogado e deputado federal pelo PSDB do Amapá
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