terça-feira, 30 de outubro de 2012

Plano prevê investimentos de R$ 43 bilhões em portos

Por Daniel Rittner e Cristiano Romero/Valor Econômico

Envolto em sigilo, o estudo que norteia o governo na elaboração do pacote para o setor portuário aponta a necessidade de investimentos de pelo menos R$ 43,6 bilhões até 2030. Segundo o Plano Nacional de Logística Portuária, esse montante permitirá atender a demanda, que aumentará de 258 milhões de toneladas para 975 milhões de toneladas por ano, um salto de 277%.
O gargalo nos portos é grave. A utilização total da capacidade instalada existente será atingida em 2013 no Sudeste, em 2014 no Sul, em 2015 no Norte e em 2016 no Nordeste, aponta o estudo, conduzido pela Universidade Federal de Santa Catarina, com auxílio de consultores do Porto de Roterdã (Holanda).
Guardado em absoluto sigilo, o estudo que norteia todas as discussões do governo na elaboração do pacote de portos aponta a necessidade de investimento de pelo menos R$ 43,6 bilhões no setor, até 2030. O montante é necessário para atender ao expressivo aumento da movimentação de cargas, que deverá praticamente quadruplicar no período. A demanda nos 34 portos organizados do país subirá de 258 milhões para 975 milhões de toneladas por ano, o que representa um salto de 277%, segundo o Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP), obtido pelo Valor. "Caso não seja feito nenhum investimento, a movimentação será superior à capacidade instalada atual, gerando uma deterioração do nível de atendimento e impedindo a fluidez no escoamento de mercadorias", afirma o estudo, conduzido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com o auxílio de consultores do porto de Roterdã (Holanda). Nenhuma região do país tem um diagnóstico de absoluta tranquilidade: a utilização total da capacidade instalada existente será atingida em 2013 no Sudeste, em 2014 no Sul, em 2015 no Norte e em 2016 no Nordeste. Os investimentos apontados pelo PNLP contemplam projetos como a construção e a ampliação de terminais, a implementação de sistemas de energia, dragagens e derrocagens, entre outras obras. Com isso, estima-se que será possível aumentar a capacidade anual dos portos para 1,1 bilhão de toneladas, em 2030. No porto de Santos (SP), que é o maior do país e exigirá investimento de R$ 16,6 bilhões no período, uma das principais preocupações é com o escoamento de combustíveis e derivados de petróleo. Para resolver esse gargalo, o estudo indica a "necessidade urgente de expansão" dos terminais da Alamoa e Ilha Barnabé, voltados a granéis líquidos. A situação das cargas movimentadas em contêineres tem cenário mais confortável. O plano aponta que "deverá haver excesso de capacidade" após a inauguração de dois novos terminais privativos: o da Embraport e o da BTP. Com mais de 2 mil páginas, o estudo mostra uma situação catastrófica das companhias docas, responsáveis pela administração portuária. O retrato que se traça é de interferência política, tarifas defasadas, gastos trabalhistas excessivos e recorrentes prejuízos financeiros. "Não há um sistema de gestão por resultados eficiente, que contemple um plano de metas, indicadores de desempenho e reavaliação contínua", diz. A Codesp, que administra o porto de Santos, tem uma estrutura mais inchada que a de similares europeias. O estudo fez um levantamento detalhado de 116 autoridades portuárias em 26 países da Europa. Verificou que em portos considerados de grande porte, com volume de carga acima de 50 milhões de toneladas por ano, há uma média de 1.107 funcionários por autoridade. Na Codesp, são 1.405 empregados. O retrato das administrações portuárias, no Brasil, fica bem pior quando se analisa o desempenho econômico-financeiro das Docas. A análise de quatro portos estrangeiros - Roterdã, Antuérpia, Barcelona e Los Angeles - demonstra que a rentabilidade deles atingiu 23%, em média, entre 2005 e 2009. O indicador mede o lucro sobre a receita bruta. Nos portos brasileiros, a rentabilidade média, no mesmo período, foi 9% negativa, "ou seja", diz o documento, "os custos superam as receitas, resultados que ao longo dos anos poderiam levar ao fechamento de uma empresa". A Companhia Docas do Rio de Janeiro (CRDJ) teve prejuízo em todos os exercícios e chegou a registrar rentabilidade negativa de 120% em 2008. Só os aportes da União têm impedido um colapso dessas estatais. Três autoridades portuárias são consideradas "bem administradas" e recebem menções positivas: a Emap (empresa maranhense que gere Itaqui), Pecém (no Ceará) e a Companhia Docas do Pará (responsável por Vila do Conde e Santarém). Santos tem alterado a situação de resultados negativos e até auferido lucros, mas o quadro geral dos portos é desanimador. "Alguns fatores que contribuem para esses resultados negativos são a desatualização de tarifas portuárias, o não reequilíbrio financeiro dos contratos de arrendamentos e a má gestão de recursos", diz o estudo. (...)
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