A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga as
relações criminosas de Carlinhos Cachoeira deve ser prorrogada por mais 48
dias. Com isso, os trabalhos vão até 22 de dezembro, quando termina a sessão
legislativa de 2012. O número mínimo de assinaturas necessárias para a proposta
já foi obtido pelos parlamentares da base governista, o pedido foi oficialmente
apresentado à Mesa do Congresso Nacional e basta que seja lido em Plenário para
que o prazo seja automaticamente estendido.
- O pedido já foi apresentado e creio que nesta quarta-feira
mesmo pode ser lido pelo presidente Sarney no Plenário
do Senado - afirmou o relator Odair Cunha (PT-MG).
A decisão provocou a revolta dos parlamentares que defendem 180
dias de prorrogação. Os senadores Randolfe Rodrigues(PSOL-AP) e Alvaro
Dias (PSDB-PR) acreditam até que não conseguirão as assinaturas necessárias
para a obtenção de um tempo mais dilatado.
Para Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), foi o “molho da pizza”
servida pela comissão de inquérito. Alvaro Dias, por sua vez, lamentou a chance
perdida pelo Congresso de recuperar a “credibilidade” da instituição.
- Os parlamentares se transformaram em verdadeiros pizzaiolos.
Hoje foi decretado o sepultamento da CPI, com este enterro medíocre. Não temos
mais esperança. O governo passou o rolo para valer, tem maioria esmagadora e a
prorrogação de 48 dias significa o fim da CPI agora, pois não há tempo de
receber mais informações nem disposição para mais quebras de sigilo. Isso
confirma que o propósito desta CPI desde o início foi atacar o PSDB e não
investigar este monumental escândalo de corrupção – afirmou o parlamentar
tucano.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) também não concordou com a
prorrogação de 48 dias e afirmou que a comissão está “jogando o lixo para baixo
do tapete”. O parlamentar é um dos que defendem novas quebras de sigilos
bancários, fiscais e telefônicos de dezenas de empresas que teriam recebidos
recursos públicos supostamente desviados pela empreiteira Delta.
Defesa
O deputado Odair Cunha rebateu as críticas. Para ele, haveria
enterro da CPI se o relatório não fosse finalizado.
- Nós estamos fazendo uma investigação aprofundada no prazo que
o Congresso Nacional nos deu, que foi de seis meses. Essa prorrogação de 48
dias é necessária para uma discussão transparente de todos os pontos do
relatório – disse o relator.
Para o deputado, a CPI conseguiu desmontar uma organização
criminosa infiltrada no aparelho estatal, corrompendo parlamentares e agentes
do Executivo. Na opinião dele, outras linhas de investigação abertas pela
comissão devem ser investigadas por outros órgãos.
- Um processo de investigação sempre leva a outro. A
operação Monte Carlo [responsável pela prisão de Cachoeira em 29 de fevereiro],
por exemplo, levou a oito novas linhas investigatórias. Com certeza, nosso
relatório vai produzir novas frentes, que poderão até mesmo resultar na criação
de novas CPIs. Todas as movimentações suspeitas da Delta constarão no relatório
– argumentou.
Bate-boca
A reunião desta quarta-feira (31) foi marcada por discussões
entre os integrantes da comissão. Uma possível convocação do governador Sérgio
Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, terminou em bate-boca entre dois deputados.
Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e Rubens Bueno (PPS-PR) discutiram rispidamente
sobre a questão. Rubens Bueno reclamou que a Delta foi blindada por tudo
e por todos, assim como Sérgio Cabral.
- Estamos há 60 dias sem tomar nenhuma decisão ou atitude. O
principal suspeito desta CPI é o Cabral. O que ele tem a esconder? – indagou.
Ao defender o chefe do Executivo fluminense, Leonardo Picciani
chamou Bueno de leviano.
- Cabral não foi convocado porque o nome dele não foi citado
sequer uma vez nas milhares de gravações. Relação com o dono da Delta era no
plano pessoal e o governador jamais a escondeu.
Requerimento
A pedido do relator e com a concordância de 17 integrantes, os
533 requerimentos constantes em pauta não foram avaliados pela comissão, que
volta a se reunir na próxima semana, com data a ser definida pelo presidente,
Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Agência Senado
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