O segredo do sono
O professor Sidarta Ribeiro, da UFRN, deixou a
cabeça de todo mundo confusa. É que, por experiência pessoal, descobriu que
estudar demais dá um sono danado. Resolveu fazer um curso de imersão total de
inglês e, à proporção que estudava, o corpo reagia e dormia mais. Chegou ao
marco de 16 horas. Eu, que tenho insônia desde os 30 anos, fiquei grilado. É
que o professor concluiu que dormindo é que se aprende, sonhando é que se fixa
na memória o que se aprendeu. Fiquei sem saber por que tinha aprendido tanta coisa ao longo da vida, se minha
experiência era estar sempre acordado e me envaidecendo da memória de elefante
que eu julgava ter e a que o tempo tem se encarregado de arrancar as grandes
orelhas e a tromba. Aí me deu de também fazer teorias. Para dormir sempre fui
ajudado pelas minhas diazepinas; será que essas, que dizem prejudicar a
memória, podem, ao contrário, ajudá-la e ao sono? A Bíblia está cheia de sonhos
desvendados e muitas vezes Deus falou com o profetas no sono e aos santos, em
sonhos acordados, deu visões do paraíso. Não só os homens mas os bichos dormem
e sonham sem precisar aprender inglês. Meu avô tinha um cachorro, Seu Beti. Na
hora da sesta, deitava-se e ficava latindo baixinho, intermitente e todos
diziam: "Está sonhando". Meu tio Ferdinand respondia: "E é com
carne e osso". No Nordeste há um ditado que diz, quando uma pessoa é dorminhoca,
que "dorme mais do que gato de pensão". É que nestas hospedagens
caseiras sempre existe um gato dormindo debaixo da mesa ou na cozinha. A
verdade é que eu que não durmo e tenho uma inveja danada desses dormidores,
inclusive do gato. Mas, folclore à parte, os neurocirurgiões cerebrais
descobriram agora uma neuronavegação que permite entrar em qualquer zona da
cabeça, mesmo em áreas de difícil acesso, e "fazer maravilhas", como
dizia Cervantes da catedral de Sevilha. É claro que isso vem dos novos
equipamentos de precisão que permitem uma pontaria exata para realizar os
milagres. E, com essas novas descobertas sobre o sono, o sonho, dormir,
acordar, ir às áreas de ódio, de amor, de sexo, de guerra, de bolivarianos, de
bem, de mal, de ficha suja e limpa, não haveria um novo campo para a política? Os
tribunais condenariam os diversos tipos de transgressões a uma cirurgia de
precisão indo aos pontos responsáveis por condutas indesejáveis. Ou então,
mandar que sejam gatos de pensão ou fazer boi dormir.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
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