Depois de um longo período entre a internação e sua recuperação, o senador José Sarney (PMDB-AP) está de volta ao batente totalmente recuperado e pronto para novos embates. Um deles está sendo emplacar a aprovação definitiva da PEC 111, que reconhece os vínculos com a União dos servidores que atuavam no antigo Território Federal do Amapá. Na volta a Macapá, na sexta-feira, 8, ele concedeu uma entrevista ao Diário do Amapá, ocasião em que falou sobre esse e outros assuntos importantes, como o apoio do governo federal às vítimas do incêndio ocorrido no mês passado no bairro Perpétuo Socorro, em Macapá. Acompanhe os principais trechos da entrevista a seguir.
Diário do Amapá – Depois desse período em que o senhor esteve ausente por motivo de saúde, retornou a Macapá com uma recepção calorosa no aeroporto, com direito até à Escola de Samba na chegada. Como foi isso para o senhor?
José Sarney – Olha, eu fiquei muito sensibilizado pela recepção que me foi dada pelos amigos e por uma parte representativa do povo do Amapá na minha chegada à cidade, sem dúvida alguma conforta muito a gente e nos estimula a continuar redobrando o nosso trabalho em favor do Amapá.
Diário – Houve um grande evento na cidade promovido por categorias de servidores públicos que defendem a aprovação da PEC 111, que já passou em primeiro turno na Câmara dos Deputados. O senhor está vendo como as possibilidades de aprovação dela também em segundo turno?
Sarney – Olha, desde o princípio, quando aqui cheguei, tenho apoiado todas as causas do funcionalismo público aqui do Amapá, resolvendo muitas questões, algumas delas difíceis e que nós superamos e outras que tiveram problemas, com algumas ainda na Justiça. A PEC 111 eu tive desde o princípio uma posição muito firme e favorável porque eu nunca posso admitir que um estado da federação possa ser discriminado, porque o estado de Rondônia teve a absorção de seus funcionários pelo governo federal. Já Roraima e o Amapá ficaram excluídos, isso foi uma grande injustiça e agora através da PEC nós estamos buscando reparar esse injustiça.
Diário – E Estão conseguindo?
Sarney – Estamos conseguindo. Eu pude trabalhar bastante para a aprovação no primeiro turno e continuo apoiando, continuo trabalhando. Evidentemente que há forças que são contrárias e a gente tem que lutar. É bom que se saiba que essas coisas são difíceis mesmo, daí eu ter tido muitas lutas para conseguir algumas vantagens para o Amapá, portanto eu espero que a gente possa votar sim no segundo turno. Eu já falei várias vezes com o presidente da Câmara [dos deputados] e mesmo com a presidente Dilma, dizendo a ela que devia acionar o Ministério do Planejamento de modo a que ele pudesse encontrar uma solução que nós resolvêssemos de uma vez por todas essa questão.
Diário – O argumento é isonômico, ou seja, se foi feito para Rondônia, que se aplique ao Amapá e Roraima, dois ex-Territórios Federais também.
Sarney – Eu queria lembrar, pois talvez muitos funcionários talvez não tivessem nem nascido quando eu fui presidente da República, que sempre fui reconhecido como um grande amigo do funcionalismo público. Os funcionários mais velhos, que trabalharam no meu tempo são testemunhas de como foram bem tratados naquele tempo. Eu devo recordar só uma coisa que foi importantíssima para todos, pois fui o autor do 13º salário para o funcionalismo público, pois só tinham o 13º mês para os trabalhadores [da iniciativa privada], os servidores não tinham esse direito, fui eu que como presidente que dei essa vantagem aos nossos funcionários.
Diário – O senhor vislumbra a possibilidade desse projeto, da PEC 111, ir à pauta ainda neste ano de 2013?
Sarney – Nós vamos fazer tudo para que isso ocorra.
Diário – O senhor também deu um apoio muito grande através do seu mandato para as vítimas do incêndio ocorrido no Perpétuo Socorro. Quais são as últimas notícias que tem sobre a ajuda federal a essas pessoas?
Sarney – Falei imediatamente no mesmo dia com a presidente Dilma. Ela acionou a defesa civil nacional e aqui também a defesa civil municipal e estadual, que trabalharam em conjunto. Ela determinou todas as providências de apoio e nesse sentido a maior delas foi mandar dar acesso preferencial às famílias que foram atingidas e que perderam as suas casas. Ela disse que isso pode ocorrer de janeiro a fevereiro, com o primeiro conjunto [habitacional] a ser entregue. Eu também pedi a ela que autorizasse desde que atingido pelo incêndio fosse inscrito no Minha Casa Melhor, que prevê a compra dos aparelhos domésticos como geladeira, rádio, liquidificador, televisão, enfim o que perderam durante o incêndio. Agora eu recebi uma ligação do doutor Giles, da Presidência da República, que me informou ter conversado com o presidente da Caixa [Econômica Federal] que desde que eles estejam inscritos podem comprar esses aparelhos eletrodomésticos, pois já existe essa linha de crédito barata e de longo prazo.
Diário – Uma excelente notícia para essa gente então.
Sarney - Só está faltando uma coisa, me disse ele, que seja publicada a lista dos atingidos. Isso é preciso ter muito cuidado para que essa lista seja realmente verdadeira, que não haja condição de fraude nessa lista, pois nós sabemos que nesse momento aparecem muitos aproveitadores, pois se isso ocorrer atrasará esse processo de entrega das casas e ao mesmo tempo do acesso aos bens que eles podem comprar. O presidente da Caixa disse que só estava faltando a publicação pela Prefeitura [de Macapá] dos atingidos. Eu até vou falar com o prefeito Clécio [Luiz] que eles estão esperando essa publicação. Eu acredito que ele é muito interessado no assunto, tem muita sensibilidade, que vai publicar imediatamente.
Diário – O senhor esteve na sexta-feira no Tribunal Regional Eleitoral do Amapá fazendo seu recadastramento para a biometria. Segundo a Justiça Eleitoral 68% dos eleitores já compareceram, mas ainda falta muita gente.
Sarney – Eu fui justamente cumprir o meu dever de cidadão e de eleitor do Amapá. Hoje nós temos a tecnologia digital, nós vamos ter uma possibilidade zero de qualquer modificação no dia da eleição. Mas eu me recordo que fui eu como presidente da República que iniciei a modernização, com a informatização da Justiça Eleitoral. Tudo começou naquele tempo, gosto sempre de repetir o que dizem os chineses de que quando a gente vai beber água tem que abrir o poço primeiro. O primeiro título eleitoral feito de uma maneira digital foi o meu, o número 1, entregue prelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Nery, que hoje está aposentado. Foi ele que me entregou numa solenidade que foi muito divulgada.
Diário – Começava ali essa trajetória de modernização das eleições?
Sarney – A partir dali nós começamos a acabar com aquele processo que existia das fraudes eleitorais que deformavam a democracia brasileira. Hoje nos temos um dos melhores sistemas eleitorais do mundo, pode ser classificado como o melhor, porque o nosso é muito simples, pois nós temos a eleição que é realizada no domingo e às 9 horas da noite nós já sabemos o resultado e não há possibilidade nenhuma dessa eleição não expressar a vontade do povo. Portanto eu estou concitando todos os amapaenses que forem eleitores a fazerem o seu recadastramento, pois assim nós estamos fortalecendo a democracia, para que a democracia seja mais pura, que a democracia seja mais representativa da vontade popular.
Diário – Para terminar, não dá para deixar de provoca-lo a respeito das manifestações que o senhor recebeu de apoio e solidariedade enquanto estava internado lá fora. Dava para perceber essas correntes do povo amapaense em favor do sua recuperação?
Sarney – Sim, eu senti não só agora, mas desde o tempo em que estive com um problema de saúde grave, como todos sabem, do qual me resultou até uma fratura na coluna, na primeira e na segunda vértebra lombar, que até hoje ainda estou com os resquícios desses problemas de saúde. Recebi milhares de mensagens e também cartas muito significativas, até de conjunto de pessoas que se reuniam para rezar pela minha saúde e também missas que fizeram aqui em função d aminha sáude, enfim, foi uma solidariedade humana extraordinária que eu recebi do povo do Amapá, portanto hoje [sexta] quando voltei senti da mesma maneira e eu já disse do meu agradecimento, da minha gratidão a essa generosa gente do Amapá.
Perfil...
Entrevistado. José de Ribamar Sarney Costa tem 83 anos de idade, é advogado, jornalista e escritor. Começou a vida política ainda estudante do Colégio Liceu, em São Luís (MA), tendo depois chegado a suplente de deputado federal, até vencer uma eleição para a Câmara Federal e depois elegeu-se governador do Maranhão e depois senador. Nos anos 1980 engajou-se na campanha pelas eleições diretas e pouco depois compôs como vice a chapa vitoriosa do Presidente Tancredo Neves, que faleceu antes da posse. Sarney assumiu as rédeas do País e conduziu o período da redemocratização, da Constituinte e da volta das eleições diretas para Presidente. Depois foi eleito senador pelo Amapá e está no terceiro mandato. Presidiu o Senado 4 vezes.
Diário do Amapá
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