Sem saber, Roseli Pantoja da Silva teve o nome usado pela quadrilha. Intimada, foi de ônibus ao Senado, sentou-se diante de 23 parlamentares e não deixou sem resposta uma só pergunta. Uma humilhação para políticos e contraventores que temem ser presos se abrirem a boca.
Roseli Pantoja da Silva virou exemplo. Chegou à CPI do Cachoeira na condição de empresária milionária, dona da Construtora Alberto & Pantoja, e saiu de lá como uma cidadã brasileira pobre, que teve o nome usado de forma criminosa pela Delta, empreiteira investigada por montar um esquema de empresas fantasmas para lavar dinheiro e financiar campanhas políticas. Ela, que é dona apenas de uma banca na Feira de Importados, foi de ônibus para o Senado e, sem nenhum advogado ou assessor, sentou-se na bancada diante de 23 parlamentares e não deixou de responder a nenhuma pergunta. Envergonhou políticos, empresários e funcionários públicos que, escorados em habeas corpus, se calaram. Antes mesmo de Roseli acabar o relato, vários integrantes da comissão declararam que a CPI do Cachoeira havia morrido naquele momento. "A partir de agora, esta é a CPI da Delta. A CPI do Cachoeira acabou", concluiu o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Tranquila e bastante segura nas respostas, ela revelou, logo no início do depoimento, que só ficou sabendo pela internet que era dona de uma empresa de engenharia que, nos últimos anos, recebeu R$ 27,7 milhões da Delta. "Pelo que li na internet, sou dona da Alberto & Pantoja. No entanto, meu nome é Roseli com i e não com y", disse a comerciante. Constrangido, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), perguntou o número do CPF dela. Ao responder, o deputado verificou que não batia com o número que estava em suas mãos. Por um momento, os integrantes chegaram a pensar que tinham convocado a Roseli errada. A confusão só foi desfeita quando os parlamentares descobriram que também havia empresas fantasmas no nome do ex-marido de Roseli, Gilmar Carvalho Moraes. A depoente assegurou que Gilmar é um homem pobre e endividado. Informou que ele recebeu uma procuração dela para abrir uma loja de artigos para roqueiros na Feira de Importados. "Ele abriu uma conta bancária, tomou empréstimos e não pagou. Por isso, meu nome foi parar no Serasa", esclareceu. Os parlamentares vão convocar Gilmar para saber se ele também é vítima do esquema ou se recebeu alguma vantagem em troca do uso do nome dele para abertura de empresas de fachada do esquema fraudulento.
Pedido de prisão
Durante a sessão de ontem, vários parlamentares chegaram a pedir a prisão do dono da Delta, Fernando Cavendish. Ele vai prestar depoimento no dia 29 de agosto. No entanto, ao contrário de Roseli, deve ficar calado. "Se o Brasil fosse um país sério, o dono da Delta estaria preso. A senhora é a única brasileira que veio aqui contribuir com a verdade e sem advogados. Parabéns", elogiou o senador Pedro Taques. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) também cobraram a prisão de Cavendish. Dados preliminares da CPI, divulgados na semana passada, apontam que 16 empresas fantasmas do esquema receberam mais de R$ 300 milhões da Delta. Dos mais de R$ 27 milhões repassados para a Alberto & Pantoja, o contador da quadrilha de Carlinhos Cachoeira, Geovani Pereira da Silva, sacou R$ 8,66 milhões. A firma fantasma também repassou R$ 3,41 milhões para a JR Construtora e a Mapa Construtora LTDA, também laranjas. Edivaldo Cardoso de Paula, ex-presidente do Departamento de Trânsito (Detran) de Goiás, e Hilner Ananias, que foi segurança do ex-senador Demóstenes Torres, também foram convocados para prestar depoimento na CPI. Os dois, resguardados por habeas corpus concedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ficaram em silêncio.
João Valadares/Correio Braziliense
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