Janete (E) convera com uma vítima de escalpelamento, em Brasília
Vítimas de escalpelamento (o couro cabeludo é arrancado do crânio) vão receber mais atenção do governo federal. Essa tragédia amazônica é resultado da falta de segurança nas embarcações. Os acidentes acontecem porque o motor e o eixo dos barcos ficam descobertos. Um risco real para quem se aproxima. Acionado o motor, o eixo grira em alta velocidade. Quem se aproxima do objeto é sugado e têm couro cabeludo arrancado. E isso ocorre quando, nas viagens pelos rios da Amazônia, os viajantes tiram o excesso de água do barco. É comum o barco receber uma grande quantidade extra de água durante o trajeto. Para os índios americanos, o escalpo era um troféu de guerra. Na Amazônia, o escalpelamento é uma tragédia que atinge centenas de pessoas — a maioria mulheres e crianças — todos os anos. Só no Amapá, 1,4 mil pessoas foram vitimadas nos últimos anos, e no Pará, registrou-se 43 casos nos últimos dois anos.
Santarém, Altamira e Barcarena, no Pará, são os municípios onde o escalpelamento é comum. Nas duas últimas décadas cerca de 200 pessoas foram atendidas na Santa Casa de Belém (PA), 5% morreram. “Essa é uma tragédia da Amazônia”, admite o cirurgião plástico Victor Aifa. Ele foi um dos profissionais que já atendeu dezenas de vítimas, as chamadas ‘meninas de turbantes’ no Pará. Aifa explica que o tratamento das vítimas é longo, doloroso, não recupera os cabelos e nem as lesões decorrentes do arrancamento de orelhas e pálpebras. As vítimas, explica ela, passam por várias cirurgias e acompanhamento ambulatorial, e o tratamento dura mais de dez anos. Repor a pele do crânio com enxertos retirados das pernas é a primeira etapa.
Por sugestão da deputada Janete Capiberibe (PSB-AP), o governo criou um grupo de trabalho para estudar e implantar medidas de prevenção ao escalpelamento em todo o País. Antes, as vítimas não tinham nenhuma assistência, “mas agora contam com políticas públicas para atender suas necessidades”, diz a deputada, que é presidente da Comissão da Amazônia da Câmara e autora do projeto de lei 1.531/2007. O projeto obriga a instalação proteção no eixo do motor que impulsiona as embarcações de pequeno porte.
Janete(E): durante reunião na Presidência da República
Ação governamental
A situação tem sensibilizado Janete Capiberibe. Há um ano e meio, ela luta para oferecer mais dignidade às vítimas desse drama amazônico. Anteontem, a deputada reuniu-se com assessores da Presidência da República e ministérios (Trabalho, Direitos Humanos e Política para Mulheres) para discutir ações em favor das vítimas de escalpelamento. No encontro, Janete cobrou do governo ações de prevenção aos acidentes nas embarcações. Para tanto, sugeriu ações educativas e tecnológicas, como é o caso da proteção no eixo das embarcações e outros pontos que geram vulnerabilidade. O Ministério da Saúde terá ações específicas para as vítimas de escalpelamento, entre as quais as cirurgias reparadoras e de reconstrução e os expansores de pele. A próxima ação será a capacitação dos profissionais da área de saúde nos procedimentos que visam atender às vítimas — o ministério aguarda das secretarias estaduais de saúde a indicação das instituições ou profissionais que serão capacitados.
Belém terá dois hospitais-referência para atender às vítimas deste tipo de acidente. É no Amapá e no Pará onde ocorre o maior número de acidentes registrados. Atualmente, nenhum pronto-socorro do Amapá tem condições de atender vítimas de escalpelamento.
Os participantes do encontro chegaram à conclusão de que apenas uma campanha incisiva de educação não é suficiente para reduzir os casos de escalpelamentos. Eles avaliam que uma medida eficaz é aprimorar a construção artesanal das embarcações. Assim, será reduzido o risco que partes móveis e outras peças oferecem aos operadores ou passageiros.
(*) Com informações fornecidas pelo jornalista Sizan Luis Esberci, assessor de imprensa da deputada Janete Capiberibe.
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