sexta-feira, 10 de setembro de 2010

José Sarney

JB, um vazio e a lembrança de um jornal que influiu na História do Brasil

O Jornal do Brasil nasceu em 1891, fundado por Rodolfo Dantas, filho do Conselheiro Dantas, lendária figura do Império, para combater a República. Eram os viúvos da Monarquia, como dizia Nabuco, que formavam sua equipe de enfrentamento. Entre eles, além do dono, o próprio Nabuco, José Veríssimo e Rio Branco.Saiu com desejos de inovação: desenho gráfico diferente e distribuição com a grande novidade de usar carroças. Logo foi fechado por Floriano em 1894 quando seu redator-chefe era Rui Barbosa, republicano histórico. Mudou de proprietário e rumo.Jornal naquele tempo era marcado pelas figuras que nele escreviam. Não se destinava a produzir e divulgar notícias, coisa adjetiva, mas difundir ideias, empunhar uma causa, servir a um partido político ou combater um governo. Muitos descambavam para a pasquinagem. No Maranhão, quando comecei a trabalhar em jornal, eles ainda eram iguais aos do século XIX. O velho jornalista maranhense, Nascimento de Morais, meu professor no Liceu, e, paradoxalmente, meu colega de redação no “O Imparcial”, me dizia: “artigo que se preza para vergastar adversário tem que ter ‘sevandija’” (verme imundo), palavra hoje em desuso. Fui correspondente do JB no Maranhão durante sete anos. Sua proprietária era a viúva do Conde Pereira Carneiro, Maurina Dunshee de Abranches, filha do professor Dunshee de Abranches, maranhense, dono do Colégio Coração de Jesus, que existiu até a década de 40. Ela visitava sempre o Estado, onde eu a acompanhava. Certa vez, em São Luís, ela quis visitar Dona Graça, senhora de renome na cidade, proprietária da Fábrica Têxtil Anil, localizada no bairro onde seu pai mantinha o Colégio e onde morara na infância. Dona Graça, já idosa, ao vê-la exclamou: “Maurina, filhinha do professor Dunshee, a Neném Abranches, aqui do Anil, é a Condessa? Que surpresa.” Recordo a Condessa Pereira Carneiro, mulher inteligente, culta e líder, alma oculta do jornal, que bancou sua modernização com a resistência da velha guarda, tendo à frente Aníbal Freire. Encarregou a tarefa a Odylo Costa, filho, legendário nome da imprensa brasileira, construtor de equipe, poeta e jornalista consagrado, com imenso prestígio na classe, além de ser um homem bom e de grande caráter, muito ligado a Virgílio de Melo Franco e ao Brigadeiro Eduardo Gomes. Chateaubriand dizia que doença que mata jornal leva 10 anos. A do JB foi uma agonia lenta e levou décadas. Muitos tentaram salvá-lo. Deixou um vazio e a lembrança de um emblemático órgão que documentou e influiu na História do Brasil.

José Sarney
foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa

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