quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Entrevista

Evandro Milhomem celebra visita do ministro da Igualdade Racial

FORMIGUEIRO - O deputado federal Evandro Milhomem (PC do B-AP) tem origens no Largo dos Inocentes, onde Macapá começou. Chegou a ser sondado para ocupar o posto de ministro de Estado da Ingualdade Racial, fato que seria algo inédito para a história política do Amapá. O titular do cargo, Edson Santos, passou dois dias no Estado e contou com a acolhida do parlamentar amapaense, que voltou a conversar com o Diário do Amapá sobre a resistência do racismo no mundo atual. Ele também fala sobre a cidade de Macapá, especialmente do seu Formigueiro, ponto tradicional de encontros de pioneiros da cidade e de pensadores da cultura, da arte e dos problemas do município. Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista.


"De forma velada, escondida, mas que observamos sempre o racismo interpretado por alguma pessoa. No dia-a-dia, sem perceber as pessoas acabam cometendo algum tipo de racismo até mesmo na televisão"



Diário do Amapá - Esta semana o ministro da Igualdade Racial visitou Macapá. O que essa viagem dele pode representar?
Evandro Milhomem - É sempre producente receber a visita de um ministro de Estado, afinal isso re-presenta a possibilidade de uma autoridade federal conhecer um pouco mais sobre a realidade do lugar, afinal são milhares de quilômetros que nos separam e uma dívida de muitos anos em que o Governo Central nos ignorou. Além disso, como negro que sou e pelas causas que defendo para a inclusão social dos afro-descendentes que ainda estão à margem da sociedade, tenho certeza de que valeu muito a pena ter o ministro entre nós, pois isso vai representar a consolidação de ações em parceria com o Amapá, tenho certeza disso.

Diário do Amapá - O senhor quase foi nomeado ministro da Igualdade Racial. Esta semana o titular do posto veio aqui e o senhor o acompanhou. O que aquela "quase" indicação representou? Seria uma menção honrosa?
Evandro Milhomem - Com certeza, para nós foi uma grande honra saber que os noticiários aqui no Amapá e no restante do país, através dos blogs e dos sites falaram da possibilidade de nós virmos a assumir a cadeira do Ministério da Igualdade Racial. Na verdade o nosso nome estava entre os indicados não só pelo PC do B, que colocou à disposição do pre-sidente Lula, mas também uma lembrança que muito me honrou pelo presidente Sarney, que também fez esse gesto com relação ao nosso nome. Então só posso dizer que fiquei feliz em saber que o nosso trabalho representa algo para o país na Câmara Federal tratando da questão da igualdade racial, que é importantíssima para que tenhamos justiça social no Brasil.

Diário - E quando essa possibilidade passou a existir o que o senhor pensou em fazer caso virasse mesmo ministro de Estado?
Milhomem - Nós temos grandes problemas com relação às políticas públicas da igualdade racial, pois enfrentamos nas grandes cidades a miséria da maioria da população negra, que é a maioria mesmo, além de problemas da falta de qualificação profissional dessas pessoas, por tabela com falta de inserção no mercado de trabalho, além de um outro problema sério que é a questão da saúde da população negra, que tem doenças específicas. Temos que enfrentar esse leque de problemas que estão postos na sociedade, que sofre também com a violência, pois temos nas penitenciárias na maioria cidadãos negros, nas "Febens" da vida, na prostituição, nas favelas, enfim, são problemas muito sérios. Para você construir um país mais igualitário, com responsabilidade social, é preciso melhorar a vida dessa população, que é vista sempre com um olhar estranho pelas elites econômicas, da burguesia brasileira, como sub-raça, como subproduto e com o entendimento de que o negro é uma segunda responsabilidade do país. Precisamos colocar em prática o Estatuto da Igualdade Racial, que melhoraria a vida das pessoas mais pobres e principalmente as negras desse país.

Diário - Então o racismo ainda é um mal a ser combatido neste país?
Milhomem - Com certeza é e existe, de forma velada, escondida, mas que observamos sempre o racismo interpretado por alguma pessoa. No dia-a-dia, sem perceber as pessoas acabam cometendo algum tipo de racismo até mesmo na televisão, onde os negros ocupam papéis secundários, você observa também na vida pública, com a fatia representativa dos negros no Congresso Nacional, onde nós negros somos apenas 5% de todas as 513 cadeiras na Câmara dos Deputados e 81 no Senado. Daí você tem a noção do quanto nós não observamos a importância de buscarmos esse processo de igualdade no país e de um socialismo com responsabilidade.

Diário - Nesse clima de celebração pelos 250 anos de Macapá, o senhor diria que a sociedade ainda precisa resgatar o valor da contribuição dada pelos negros, seja na cultura, economia e religião?
Milhomem - Sem dúvida alguma. O Amapá tem essa dívida, afinal os negros e os índios então habitando esta terra há muitos anos e a contribuição deles para o Amapá é inquestionável. Talvez hoje nós te-nhamos uma população negra mais bem estabelecida, ainda temos muita pobreza e falta de formação educacional para algumas comunidades negras, que carecem de investimentos na qualificação dos jovens negros, dentro da sua capacidade de produzir, levando em consideração a forte referência da população negra, seja na cultura musical, na cultura artesanal, na culinária e na produção intelectual que é eminentemente negra, o que é uma referência para o país, pois temos uma representatividade quilombola forte e isso pode trazer muitos resultados econômicos para o Estado que pode dar uma visibilidade muito maior para o que precisamos para o Estado do Amapá, não apenas com o negro mas também com o índio.

Diário - Nós temos professores índios devidamente concursados e contratados para lecionar nas aldeias. Isso pode também ser aplicado nas comunidades negras, a ponto de incluir no currículo escolar garantias para a preservação da identidade negra?
Milhomem - Sim, nós temos um projeto na Câmara Federal que já está aprovado, criando a disciplina Afro-brasileira no currículo escolar para que possa contar a história do negro, diferentemente da história que foi estabelecida pela elite portuguesa, apenas do negro escravo que era submisso, que vivia sob a égide do grande senhor e que naturalmente passa uma imagem de uma pessoa desaculturada e sem conhecimento de sua história, de um ser sem imaginação. Será uma oportunidade para contarmos a verdadeira história do negro, como ele chegou ao Brasil, qual a participação dele na economia, como contribuiu para a formação cultural e educacional do nosso povo.

Diário - O recesso parlamentar de julho está terminando mas devido às Eleições Municipais as coisas podem caminhar mais lentamente. Mesmo assim há boas perspectivas para 2008 para o Estado do Amapá?
Milhomem - Olha 2007 foi um ano belíssimo, com a nossa bancada muito unida, consistente, nós tivemos a responsabilidade de contribuir com muitas coisas para o Estado do Amapá, que estamos dando continuidade em 2008, especialmente da bancada que dá apoio ao presidente Lula, coordenada pelo senador Gilvam Borges e pelo presidente José Sarney e com uma relação muito próxima do governador Waldez Góes, que facilitou para que pudéssemos trabalhar com a vantagem de poder contar com ele nas horas que precisávamos trazer recursos para o Amapá. Essa relação da bancada com o governador Waldez e com os prefeitos nos ajudou a produzir mais e melhor, levando o Amapá a se destacar em várias ações na administração pública. Vamos continuar fazendo isso em 2008, pois ainda há muito o que se fazer pelo Estado, que passou muito tempo no atraso, sem a consistência da ação política direcionada para um projeto de governo e de sociedade, de viabilidade econômica, social e cultural do nosso povo, o que temos hoje, um norte, e nós somos instrumentos dessa conquista do povo do Amapá. O que nós precisamos é ter a responsabilidade de responder ao povo do Amapá com o nosso mandato, justificando nossa presença lá no Congresso Nacional.

Diário - O senhor destaca o apoio do governador Waldez Góes. Como se dá essa relação, por exemplo, no que se refere à reciprocidade do apoio dos parlamentares à administração estadual?
Milhomem - O governador tem sido muito sensível nessa relação política. Diria que ele, como grande gestor do estado, tem dado uma atenção enorme a nós parlamentares e precisamos que isso seja do governo como um todo, pois infelizmente ainda temos algumas dificuldades, naturalmente, na relação política da estrutura do governo que não compreende a ação do parlamentar e a necessidade de urgência de algumas ações. Mas o governador não, ele e a primeira-dama, a doutora Marília, têm sido muito importantes para nossa atividade política, pois nos dão toda a atenção que precisamos.

Diário - O Amapá tem tido muitas dificuldades para aprovar projetos na Suframa. Agora que seu partido emplacou a indicação de um filiado, o administrador Jackson Gomes para o cargo de superintendente da Suframa no Amapá há chances dessa relação melhorar?
Milhomem - As melhores possíveis, pois o Jackson é um grande profissional, funcionário de carreira da Suframa e uma pessoa que tem responsabilidade com esse estado e sabe da grandeza desse cargo. Temos inúmeros projetos que darão ao Amapá mais destaque regional, como a Zona de Processamento de Exportação, a Zona Franca que estamos lutando para implantar no Amapá, além de outras ações dentro da área da Suframa para as quais será necessário a responsabilidade dele, que sabe que pode contar com a bancada, com o PC do B e todos os que têm responsabilidades para com o Amapá.

Diário - O senhor abriu mão da candidatura a prefeito de Macapá mas está participando do pleito, com a indicação de um vice. O senhor ainda defende a abertura de uma subprefeitura no Formigueiro, com direito a um conselho de notáveis atrás da Igreja de São José de Macapá?
Milhomem (risos) - O Formigueiro já é uma subprefeitura... Afinal ali nós temos a origem da cidade de Macapá, com as famílias tradicionais, pessoas que se preocupam muito com a cidade. O prefeito João Henrique inclusive nos presenteou com uma grande obra de revitalização do Largo dos Inocentes, onde fica o Formigueiro, que possui uma representatividade muito grande para a cidade. Tenho esperanças de que dali possa surgir propostas para ajudar Macapá e que possa viabilizar a vida do nosso povo e de nossa cidade, de modo a transformá-la em uma cidade bonita, bela e que respeite o cidadão que nela mora, que trafegue no trânsito, que a visite ou que decida vir morar aqui.

Veículo:
DIÁRIO DO AMAPÁ - AP
Editoria:
ESPECIAL
Data:
27/07/2008

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