Um mundo complicado
Quando a União Soviética desmoronou, o Secretário da Defesa dos Estados Unidos, em depoimento no Congresso americano, fez uma longa dissertação sobre o futuro da humanidade e qual devia ser a estratégia americana em face do novo quadro mundial. Falou numa perspectiva de distensão mundial e nos desafios que tínhamos à frente. Relacionou alguns problemas, a começar pelo problema nuclear, passando pelos vetores transportadores de armas atômicas, pelas armas químicas, os conflitos regionais, as doenças desconhecidas, o crime organizado, o narcotráfico e o terrorismo. Evidentemente não se esgotavam nestes tópicos nossas ameaças. Desenhava um novo mapa mundial de poder incorporando a Rússia e China. Agora, com os acontecimentos do Rio de Janeiro, no morro do Alemão, temos o exemplo do que pode acontecer nas grandes metrópoles, em que se misturam o tráfico, as drogas, as quadrilhas organizadas, a vendas de armas e o desafio à ordem pública. No item das armas nucleares temos as ameaças da Coréia do Norte e do Irã, duas nações marcadas ainda pela ideologia, quer política, quer religiosa. Os conflitos regionais estão longe de serem resolvidos. O Afeganistão, envolvendo o Paquistão, enfrenta uma mistura de guerra convencional e guerra de guerrilha. Palestinos e judeus mantêm o crônico enfrentamento sem perspectivas de solução e, para dizer que ainda há uma esperança, fala-se na criação do Estado palestino e numa solução para Gaza. O Iraque, depois de uma guerra louca, em que Bush (ele conta em suas memórias) mandou invadir aquele país para satisfação do pai, que tinha sido ameaçado por Saddam Hussein, mantém-se num estado de conflitos internos permanentes. Agora, com a crise econômica que começou nos Estados Unidos e se estende pela Europa, derrubando economias de diversos países, como Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha, propõe-se uma nova maneira de enfrentar os problemas da paz mundial e o que seria impossível há duas décadas passa a ser um projeto em andamento. Esse caminho parte de armar a OTAN para o século XXI, numa aliança ampla que incluiria a Rússia, com estratégia de defesa mútua, tendo como base um guarda-chuva de foguetes antimísseis. O conceito será de que todos agirão em conjunto e que o ataque a um membro da nova OTAN será um ataque a todos, como novos sócios recrutados num espaço euro-atlântico. Estes problemas foram longamente discutidos em Lisboa, na comemoração do aniversário da OTAN. Assim, pouco a pouco se localizam os problemas detectados em 1989 e o mundo procura meios de delimitá-los, separando-os por pacotes, cada um deles mais explosivo. A nova estratégia de agir em conjunto já é um avanço, pois, em vez da bipolarização, teremos outra fórmula de dissuasão nuclear. Certamente que essas idéias estão surgindo diante de uma Europa cheia de problemas e de uma China potência naval e um colosso em expansão que traz a ameaça de uma guerra econômica. Mas essa é outra história.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
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