quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Marly de Sarney

Por Elpidio Amanajas*

José Ribamar Ferreira de Araujo Costa - ou José Sarney - é nome nacional. Todos o conhecem. Sua biografia é farta de informações. Livros, muitos livros, jornais, revistas, vídeos e até enciclopédias nacionais e internacionais, tem tudo sobre Sarney. Ou quase tudo.
Mas onde encontrar a biografia de D. Marly Macieira Sarney, o holofote que brilha sobre José Sarney? Ela é a fotógrafa dos grandes eventos. Fotografa a todos, registra todos os momentos e não aparece na foto. Ela tem sido a luz que ilumina Sarney. Tem sido assim desde o 1º dia em que o encontrou, num bonde. Ele, 16 anos. Ela, 14. Foi um olhar. Tinham um imã personalizado. Ali, naquele bonde, embarcavam para longa e contemplativa viagem no tempo e no mundo. Seis anos depois, estavam no altar celebrando o sim que os unem até hoje. Sarney foi seu o primeiro e único namorado.
Marly Macieira Sarney é filha do médico Carlos Macieira. Famoso pelas habilidades cirúrgicas da velha medicina generalista e universal e depois mais famoso ainda por ter uma filha primeira-dama do Estado e depois do País. E desse casamento vieram os frutos: Roseana, Fernando e José Sarney Filho. Desses, apenas Fernando não andou nos mesmos trilhos políticos do pai. Roseana e Sarneyzinho ocuparam cargos de governadora, deputada federal e até o ministério. Mas a biografia deles está em toda parte. Existem capítulos e mais capítulos sobre eles. Mas sobre Marly, quase nada. Ela está sempre por detrás das numerosas obras, dos grandes talentos, das grandiosas realizações.


Marly Sarney é tão grandiosa e resplandecente que desde os 14 anos foi a guia, a mestre, a companheira e a estrela que conduz um dos mais ilustres brasileiros, que percorreu vários caminhos políticos da História do Brasil e ocupa uma das mais respeitadas cadeiras da Academia Brasileira de Letras. O sexto ocupante da cadeira número 38, eleito em 17 de julho de 1980, na sucessão de José Américo de Almeida e recebido em 6 de novembro de 1980 pelo acadêmico Josué Montello. Recebeu os acadêmicos Marcos Vinício Vilaça e Affonso Arinos de Mello Franco.
Novamente ela estava por trás,inspirando, dando força e luz. Não aparece nas fotos. Mas estava sempre ali, nos registros histórica, tão anônima quanto imprescindível. Marido e filhos ilustres. Ela sempre nos bastidores. Segurando a tocha para iluminar ainda mais as longas, penosas e gloriosas trajetórias.
E foi ela também, de forma silenciosa e discreta, que mais uma vez teve participação decisiva na recondução do marido para o 3º mandato de senador pelo Amapá. Foi a Marly mulher, mãe, anjo protetor de Sarney, que amparou, orientou, ajudou,encaminhou várias mulheres, velhos e crianças para tratamento de saúde, consultas, medicamentos. Foi decisão dela a instalação do Centro Sarah Kubitschek em Macapá. Foi ela quem ajudou aquela, que ajudou a outra que contou para outras, que pediu para todas, que não era justo não atenderem ao pedido dela para reeleger o marido ao Senado. Ele nem precisa agradecer porque é assim que ela é.


E o bonde da história dela só faz parada técnica e estratégica. Mas a viagem continua. Às vezes com solavancos, chuva, frio, calor, mas nunca sai dos trilhos. E esses passageiros também usam Black-tie. Ela também tem glórias ocultas, os brilhos pessoais e intransferíveis, quando é homenageada com uma maternidade, uma creche, uma casa de abrigo e assistência social, com o nome dela. Só assim é a estrela. Mas imediatamente sai de cena e vai segurar as luzes. A estrela tem que estar acima dessas vaidades. Sua missão é iluminar, dirigir, guiar, orientar. Assim é a Marly do Sarney. A luz que guia. Não vamos tirar a luz própria de Sarney. Mas sem o foco de Marly, até ele mesmo se perde quando o chinelo não está no lugar que ela deixou, nem sabe direito a hora do lanche, do remedinho ou do momento de agradecer a Deus por ter colocado esse anjo de luz, encarnado em Marly, ao lado dele. Quando Sarney viaja só, sempre falta tudo. Ela não está presente. E ele volta a ser um menino que se sente desarmado e na escuridão. Ele que o diga nas horas de intimidades da casa, com os amigos e familiares. Ou sinte-se meio perdido quando está só, num quarto de hotel.


Creio que até ela ficou surpresa quando o ex-senador Antônio Leite (PMDB/MA) ocupou a Tribuna, no dia de junho de 2005, para homenageá-la. Para ele, o Brasil “conhece pouco” suas virtudes, como esposa de político que, além de deputado federal e senador da República, foi também governador do Maranhão, presidente do Congresso Nacional e presidente da República, além de imortal da Academia Brasileira de Letras. Ele enfatizou que, “longe dos holofotes e das badalações, no silêncio e no recolhimento de sua personalidade, dona Marly tem a dimensão do sublime, consciente da importância de sua presença, sem palavra, manifestação de desagrado ou exuberância diante do poder”, ressaltou.
E assim segue o bonde da história e ela, que conheceu o então marido num bonde, tem banco cativo nessas jornadas pelo Brasil e pelo mundo, ao lado dele. E tem muitas histórias para contar. A biografia de José Sarney está incompleta sem os depoimentos e as lembranças dela. Os biógrafos de Sarney talvez venham a pensar nisso um dia.
Talvez sentada em frente ao Rio Amazonas, em Macapá, ou em Veneza, no Japão ou em qualquer parte do mundo, Marly nos quase 80 anos juntos, atravessando fronteiras e superando barreiras e conquistando degraus, alcançado por poucos no Brasil e no mundo. Assim é a Marly do Sarney. Não o Sarney da Marly. Ela será sempre a luz, o foco. E é ela quem direciona toda essa luminosidade. Não só para ele, mas para todos que estão próximos deles.


E que assim seja por muito tempo. Ela, a personagem mais importante dos livros dele, já está também, como ele, imortal no mundo das letras, da política, da poesia e do espírito. “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. É Vinícius de Moraes, o poetinha imortal, desta vez, se o senhor me permite uma licença poética, quero dizer que sejam imortais na glória de Deus que sempre é infinita, assim como a imortalidade da alma de quem ama, fez e está fazendo a história desse País e desse estado jovem, que é o Amapá.
Tomei a iniciativa de registrar este fato, porque até mesmo os biógrafos de personalidades importantes nunca se preocuparam em dar a importância que D. Marly tem para a história política deste País, quanto para a história do Amapá. Sou autodidata, que gosta de ler, estudar, conhecer e reconhecer os valores das pessoas. Os biógrafos que peçam perdão a ela. Quanto a mim, não faço mal a ninguém. Quanto aos biógrafos, que dêem a Marly o que é de fato e de direito a ela.

* Elpidio Amanajas é diretor de Assuntos Corporativos da Rede Viva

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