domingo, 22 de abril de 2012

"Dalto Martins: o político, o piloto, o desportista, o perito, o opositor, o homem”

Liderados por Moisés Souza, deputados jamais esperavam trazer o amigo de volta em um caixão

Os funerais do deputado estadual Dalto Martins (PMDB), morto em trágico acidente aéreo na última sexta-feira, levou representantes de vários setores da sociedade amapaense para a última homenagem a um homem de múltiplas atividades. De origens humildes, tornou-se médico, piloto de avião, oficial da PM paulista, servidor público da Polícia Técnica do Amapá e político de carreira. Aliás, uma bela carreira, forjada em uma atuação parlamentar combativa e aguerrida. O jornalista Cleber Barbosa ouviu algumas personalidades que compareceram ao plenário da Assembleia Legislativa ontem onde o corpo foi velado até seu sepultamento no fim da tarde. Acompanhe as principais opiniões sobre Dalto Martins e saiba mais sobre ele.

Cleber Barbosa – Diário do Amapá

Blog – Como era o piloto de aviões Dalto Martins? 

Isaac Alcolumbre (deputado e piloto) – Eu não teria coragem de fazer esse vôo do dia 20 de abril. O tempo estava muito fechado, mas ele não temia não. Sempre enfrentou todas as batalhas, nunca se acovardou, sempre tinha posição firme nas suas propostas, por isso ele está indo, mas está deixando mais um aprendizado e todo esse legado para todos os seus companheiros que o acompanharam nessa trajetória. Falando em nome de todos os pilotos, faremos uma homenagem a ele fazendo uma revoada. Quis o destino que eu fosse a primeira pessoa a encontrá-lo, mas isso só me dá força meu irmão para continuar o que você fez por todos nós e pelo Estado do Amapá.

Blog – Como era o médico Dalto Martins, para a classe médica do Estado? 

Dr. Fernando Nascimento (Presidente do Sindicato dos Médicos) – Devemos agradecer ao doutor Dalto Martins, que apesar de suas atividades políticas nunca se afastou da classe, seja nas causas do CRM como do Sindicato, sempre foi a nossa voz na Assembleia. Mesmo muitas vezes discordando sobre o que a assembléia dos médicos queria, ele defendia essa proposta. Uma voz se cala, perdemos essa voz no parlamento, pois todos nós sabemos da problemática que se vive na saúde e todos os problemas do Estado são resolvidos de forma política. Perdemos o dr. Dalto e isso é muito significativo para a gente.

Blog – Como era Dalto Martins para a classe dos peritos criminais do Amapá? 

Odair Monteiro (Diretor da Politec) – Perdemos não apenas um companheiro, mas um amigo leal. Foi muito difícil para nós naquele momento saber que tínhamos um companheiro, o doutor Dalto Martins, naquela situação e pior ainda foi confirmar que realmente era ele. Tenho muito orgulho de dizer que conheci o doutor Dalto, uma pessoa humana, uma pessoa carinhosa, pois era assim que ele sempre nos tratava. Obrigado doutor Dalto, nós vamos sempre lembrar do senhor, que estará sempre com a gente, pelas vitórias que o senhor conquistou para a gente, pois o senhor nunca viu cor política para nos defender, foi intransigente em defender sua categoria, de médicos legistas, a categoria de peritos, em defender a Politec.

Blog – A franqueza do deputado Dalto Martins mais ajudava ou mais atrapalhava sua carreira política? 

Gilvam Borges (presidente regional do PMDB) – Olha, na política isso agrada um núcleo específico da sociedade, que observa as qualidades das lideranças, quando você pode observar o comportamento delas em relação a matérias que se discute, idéias que se defende, proposições que apresente no âmbito do Legislativo, como era o caso do deputado Dalto Martins. Já no mundo político é muito complicado porque a transparência de sentimentos, a posição honesta, aberta, ela contraria muitos interesses e quando isso acontece dói muito, daí em certos momentos o deputado Dalto ter tido algumas incompreensões porque era muito franco nas posições que defendia. Quando ele subia à tribuna os pares já sabiam que iria ser reto, falaria o que pensava.

Blog – Como era a convivência do deputado Dalto Martins como colega de parlamento? 

Roberto Góes (prefeito e ex-deputado) – Para a gente que conviveu com o Dalto o que mais vai ficar dele é aquele sorriso que ele sempre tinha e a disposição de melhorar a vida das pessoas. Convivi com ele na Assembleia por quase três mandatos e posso dizer que o município de Macapá perde um grande homem, perde um grande pai, perde um grande marido e perde um grande irmão. Deixa um legado muito grande por seus posicionamentos firmes. Quem convivia com ele nesta Casa e todos os deputados sabem disso, vai ficar este vazio, mas com certeza tira-se a responsabilidade que ele tinha com o desenvolvimento do município e do estado. Fica também o registro de sua paixão pela política, de combater o bom combate, de defender suas posições com firmeza, mas muitas vezes sabendo também voltar atrás.

Blog – A relação de Dalto Martins com a classe dos policiais civis do Estado? 

Roberto Prata (Delegado de Polícia) - A gente só tem a recordar coisas boas dele. Sabemos do ser humano que ele era, do amigo, do parceiro, por isso essa homenagem. Infelizmente de uma maneira trágica. Homem que sempre foi ligado à família, aos amigos, à política e fã também do Trem Desportivo Clube. Ele também ficou marcado à época em que eu era presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Amapá e nós tínhamos uma luta de treze anos e ele foi muito bem escolhido pelo governador Waldez para apresentar o projeto da Lei Orgânica da nossa Polícia Civil e ele assumiu esse compromisso com a classe e conseguiu fazer aprovar.

Blog – O lado desportista de Dalto Martins, dirigente e torcedor do Trem desportivo Clube? 

Socorro Martinho (Presidente do Trem) - A gente tinha às vezes divergências, mas ele sempre lutava pelo objetivo dele, que era uma pessoa muito simples. Lembro que quando era jogo do Trem nós estávamos sempre na arquibancada, essa é uma lembrança que vai ficar. Ele poderia ficar numa tribuna de honra, mas ele era uma pessoa do povo, uma pessoa que gostava de fazer o bem, seja o bem para o Trem, que conseguiu muitas coisas, uma delas vai ficar para sempre, o estádio do Trem, como nenhum outro clube do estado do Amapá tem. O Trem cresceu muito com a vinda do Dalto Martins, não só o clube como o bairro, o estado do Amapá.

Blog – O que a morte trágica do deputado Dalto Martins trás em termos de reflexão do ponto de vista espiritual? 

Moisés Souza (Presidente da Assembleia Legislativa) – Tem dias que não são os melhores dias para se abrir o coração e colocar palavras, até porque muitas vezes as palavras não conceituam a dor, a experiência, não traz o significado do momento. Mas para tanto o salmista disse certa vez: - Ainda que eu andasse no vale da sombra da morte, mal algum eu temerei, porque o senhor está comigo. A tua vara e o teu cajado me consolam! Na realidade todos nós hoje talvez estejamos buscando uma justificativa para uma passagem tão abrupta e talvez não seja essa a finalidade. Talvez quem olhe de fora não saiba o que realmente ocorre aqui dentro. Nós sofremos, nós amamos, nós muitas vezes nos perdemos, mas muito mais nos achamos. Apesar dos embates políticos, das dificuldades e das diferenças não deixamos de ser meros mortais homens e mulheres que perdem e ganham, que ficam com dúvidas e com certezas e uma grande certeza é de que nós não somos nada. Do pó nós viemos e ao pó tornaremos.

Blog – Como era Dalto Martins como opositor? 

Camilo Capiberibe (governador) – Durante quatro anos nós dividimos este espaço democrático do parlamento, muitas vezes discordando e muitas vezes concordando. Sempre tivemos uma relação no mais profundo respeito, o deputado Dalto gostava do debate, gostava da posição, quase sempre com muita firmeza, com muita convicção e quis o destino que eu fosse eleito governador e ele continuasse nesta Casa. Apesar da nossa convivência em lados opostos o deputado Dalto desde que me elegi governador sempre procurou construir o diálogo, a crítica, a construção de um estado melhor, eu sou grato a ele pelo papel importante que ele desempenhou.

Blog – E o marido Dalto Martins, como ele era para sua família? 

Maria Teresa (esposa) – A minha dor com certeza não é menor do que a dor dos meus filhos, pela perda de um pai tão precocemente. Minha dor não é maior do que a dor dos irmãos, que tanto o admiravam. E a minha dor não é menor, nem maior do que a dor da mãe, pela perda de um filho tão querido. Conheci o Dalto quando nós éramos residente em um hospital de São Paulo, um dos maiores da América Latina, com mais de mil leitos e tinha muitos médicos. E foi numa greve de médicos e médicos residentes que aquele médico se levantou e pronunciou-se lá na frente. Eu fiquei: - Quem será esse médico falando assim, criticando dessa forma? Depois eu pude conhecer o Dalto, que sempre foi uma pessoa crítica, de não ter vergonha de dizer suas opiniões, ele defendia seus ideais, muitas vezes eu até discordava e agente até ia para o embate, mas ele sempre firme nas suas posições, nas suas convicções. Eu pude conhecer um guerreiro, que esteve comigo por mais de vinte anos. Acompanhei desde as primeiras aulas de aviação. Ele tinha várias paixões, a medicina, a política e a aviação. Ele morreu exercendo essas três paixões.

Perfil 
Sou médico, biólogo, tenente da Polícia Militar de São Paulo, piloto de avião e deputado estadual eleito para o terceiro mandato pelo PMDB-AP. Sou casado com a médica Maria Teresa e tenho três filhos. Nasci em Breves no Pará, meus pais não tiveram a chance de estudar, mas me deram a oportunidade de me tornar o que sou hoje. Tenho orgulho e fico feliz primeiramente por ser médico e poder ajudar uma pessoa de cada vez, e segundo por ser político e ter a possibilidade de ajudar várias pessoas ao mesmo tempo.

(Por Dalto Martins, em sua página na internet)

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