quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Base e oposição fazem acordo e CPI do cachoeira termina sem indiciados



Débora Bergamasco e Ricardo Britto/ O Estado de S. Paulo 

Texto aprovado pelos congressistas, de 1 página e meia, atende aos interesses da base governista e da oposição

A CPI do Cachoeira aprovou ontem, por 21 votos a 7 e sob protestos, relatório de apenas uma página e meia do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) que descarta o indiciamento dos investigados. Depois de a Comissão consumir oito meses de trabalhos, a única providência do parecer é encaminhar as conclusões de apuração para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal. A convergência de interesses da base governista e da oposição blindou as investigações. Os parlamentares resolveram fazer um "acordão da madrugada" e rejeitaram, por 18 votos a 16, o texto final do relator Odair Cunha (PT-MG), de 5 mil páginas, que propunha o indiciamento de 29 pessoas, colocava no foco da investigação o governador de Goiás, Marconi Perilo (PSDB), e protegia nomes de interesse da base aliada e do PT, como o do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). O autor do relatório aprovado se justificou dizendo que seu trabalho é "muito mais abrangente" do que o texto anterior.

Depois de consumir R$ 120 mil e oito meses de trabalho de par­lamentares e assessores? a CPI do Cachoeira aprovou ontem, entre protestos de que tudo vi­rou "presepada" e "piada", uni relatório de uma página e meia sem apontar ninguém como suspeito de integrar ou partici­par do grupo do contraventor já condenado a quase 40 anos de prisão por comandar um es­quema de jogos ilegais apoia­do por agentes públicos. A convergência de interesses da base governista e da oposição blindou as investigações sobre o contraventor Carlinhos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o dono da empreiteira Delta, Fer­nando Cavendish, o senador cas­sado Demóstenes Torres, o gover­nador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), entre outros. Os parlamentares que inte­gram a comissão rejeitaram o tex­to final do relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG), de 5 mil páginas, que colocava no foco da investigação o governador tuca­no e poupava nomes importan­tes da base aliada e do PT, como ós do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e do Distrito Fe­deral, o petista Agnelo Queiroz. O relator já havia feito "ajus­tes" em seu texto a fim de que fosse,: aprovado. Inicialmente, queria indiciar mais de 40 pes­soas, entre elas o jornalista da re­vista Veja Policarpo Jr., que apare­ce numa série de interceptações conversando com Cachoeira. Também queria que o procura­dor-geral da República, Roberto Gurgel, fosse investigado por não ter aberto procedimento contra Demóstenes mesmo após a Operação Vegas da Polícia Fe­deral ter apontado indícios de sua ligação com o contraventor. Cunha acabou recuando nes­ses dois pontos por causa de resistência na própria base aliada, mas ; não conseguiu garantir apoio a seu texto. Num "acórdão da ma­drugada", governistas e oposito­res resolveram aprovar a página e meia do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), O documento de Pitiman, se não contempla todos os interesses petistas ou tucanos, tampouco compromete a vida de qualquer partido da base ou da oposição. Sem citar ninguém, pe­de apenas que todos os sigilos fis­cais e telefônicos obtidos pela CPI e os cinco votos em separa­dos sejam enviados para a Polícia Federal e para o Ministério Públi­co Federal, para que essas institui­ções continuem as investigações. A proposta original de Cunha foi rejeitada por 18 votos a 16. Na lista de indiciados do relator, constavam Perillo, Raul Filho, Demóstenes e o deputado fede­ral Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). Ao todo, havia pedido para que 29 pessoas fosses indiciadas - ou seja, haveria indícios sufi­cientes para que essas pessoas já fossem consideradas suspeitas de ligação ilícita com Cachoeira. Cunha afirmou que o resultado da CPI "foi uma pizza geral". O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ironizou o acordo: "Só o que : está faltando são os lencinhos e as champanhes francesas que o senhor Fernando Cavendish vai pagar, com certeza, para a bancada que enterrou a CPMI do Ca­choeira", disse ele, referindo-se a fotos divulgadas após uma via­gem de integrantes do governo Cabral a Paris na qual confraterni­zavam com diretores da Delta. Para o senador Randolfe Rodri­gues (PSOL-AP), que votou con­tra o relatório aprovado, o Congresso Nacional protagonizou "uma das piores cenas de sua história com substituição de parla­mentar na madrugada, mudan­ças de última hora, encaminha­mento, conchavos, mudança de voto de imediato." Já o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que votou a favor do parecer de Pitiman, negou que tenha blin­dado Marconi Perillo, e disse que "Votar o relatório (proposto por Odair Canha) seria chover no mo­lhado, em relação ao governo do Marconi, pois já houve autoriza­ção do STJ para a investigação do governador". Disse ainda, que to­das as investigações que seguirão no âmbito dos órgãos permanen­tes de investigação estarão a salvo da "política partidária" adotada na CPI. E concluiu afirmando que ; a Comissão quis "agredir apenas uns e proteger os outros".
"Abrangente", Para justificar seu parecer, o autor do relatório vencedor disse que seu texto é muito mais abrangente do que o rejeitado de Odair Cunha, uma vez que todo o material produzi­do será remetido para as investigações da polícia e do MP.
"Em plena festa natalina, este relatório final é uma presepada", criticou o líder do PPS, deputa­do Rubens Bueno (PR), após a aprovação do texto. "Não me compete aqui ficar tendo sentimentos, o que eu pos­so dizer que é lamentável, que, apesar de todo o esforço feito pe­los membros da CPI, por todos nós aqui, diante de provas incon­testes da CPMI, não existe um juí­zo de valor sobre nada. Ela se nega a fazer aquilo que é a sua missão essencial Levantar provas, identi­ficar indícios e apresentar  conclu­sões. As conclusões aqui são na­da, um vazio, Uma pizza geral, la­mentável", criticou Odair Cunha, ao final da sessão de ontem..

Alvaro Dias

"Votar o relatório (proposto peio relator Odair Cunha) seria chover no molhado, em relação ao governo do Marconi (Perillo, governador de Goiás), pois já houve autorização do STJ para a investigação do governador"

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