terça-feira, 18 de março de 2014

"Saraminda", obra de José Sarney

Com lirismo criativo e empolgante, José Sarney mergulha na atmosfera da velha Caiena e nos garimpos da Guiana. Contestado, ouro, sangue. Uma terra sem fronteira e sem lei. Saraminda, mistura de Capitu, Iracema e Gabriela, mas com personalidade, história e detalhes próprios. Saraminda, que vale seu peso em ouro. Uma navalha. O desejo, o feitiço. A mata. Saraminda, lançado no Brasil em 2000, é livro de grande sucesso, tanto no Brasil como no exterior. Foi traduzido para o romeno, espanhol, francês e húngaro. Na França, é um dos raros livros brasileiros a chegar à consagração da coleção Folio, de livros de bolso. Com enorme trabalho de pesquisa, que incluiu a exploração do centro histórico de Caiena e o conhecimento da história do Amapá e do Contestado entre a França e o Brasil, José Sarney reconstitui uma época para escrever uma história de paixões e amores impossíveis. Mas não se pense que Saraminda era uma devassa ordinária. Ela não buscava necessariamente sexo, mas sujeitar os homens à sua vontade, “brincar com eles”. Ela mesma explica:
“Os homens são fáceis. A caça mais certa de apanhar. Eu brincava com eles, sabia a arte de seduzi-los, levá-los ao desejo insaciável, mas não me entregava. Não me dava vontade de me entregar. Eu queria sempre que eles tentassem de novo. Eram sujos, tinham cheiro de trabalho e pingavam ouro. Minha fidelidade a Cleto era não querer deitar com outros homens, mas eu fazia mais. Eu brincava com eles como com as bonecas. Eu tinha o prazer de me mostrar, o segredo deles me verem nua e fecharem os olhos com medo”.
O prazer de Saraminda era atiçar o desejo dos homens, enlouquecê-los. E mostrar sua nudez era uma de suas provocações prediletas, como no episódio em que manda chamar Celestino, o capaz de seu marido:
__ Celestino, mandei chamar você para que me visse, me olhasse, porque você sempre está me olhando com vontade de me ver.
__ Saraminda, não faça isso comigo, não posso trair Cleto. Por que você me escolheu para isso, menina?
Quando ele falou ‘menina’, sentiu que a palavra revelava um sentimento oculto de ternura que podia ser a barreira a transpor contra sua lealdade.
E ela pediu:
__ Me beija Celestino.
E Celestino fraquejou, beijou-a. Sentiu um gosto de veneno e saiu correndo, mas não passou da varanda, contido pelo rosnar forte de Leão, que ele rapidamente entendeu. Desse dia ele não esqueceria nunca. Ficou com raiva, amor e ciúme.
__ Leão, deixa ele sair e vem cá.

Saraminda, uma das raras personagens centrais da literatura brasileira que é negra e que tem uma força incontrolável que domina todos a sua volta, inclusive o leitor. Uma obra que insere o Amapá na Literatura Universal. Sua leitura é uma experiência fabulosa.
Para conhecer o livro, clique aqui.

Fontes:
estacaodapalavra.blogspot.com

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