Com lirismo criativo e empolgante, José Sarney mergulha na
atmosfera da velha Caiena e nos garimpos da Guiana. Contestado, ouro, sangue. Uma
terra sem fronteira e sem lei. Saraminda, mistura de Capitu, Iracema e
Gabriela, mas com personalidade, história e detalhes próprios. Saraminda, que
vale seu peso em ouro. Uma navalha. O desejo, o feitiço. A mata. Saraminda,
lançado no Brasil em 2000, é livro de grande sucesso, tanto no Brasil como no
exterior. Foi traduzido para o romeno, espanhol, francês e húngaro. Na França,
é um dos raros livros brasileiros a chegar à consagração da coleção Folio, de
livros de bolso. Com enorme trabalho de pesquisa, que incluiu a exploração do
centro histórico de Caiena e o conhecimento da história do Amapá e do Contestado
entre a França e o Brasil, José Sarney reconstitui uma época para escrever uma
história de paixões e amores impossíveis. Mas não se pense que Saraminda era
uma devassa ordinária. Ela não buscava necessariamente sexo, mas sujeitar os
homens à sua vontade, “brincar com eles”. Ela mesma explica:
“Os homens são fáceis. A caça mais certa de apanhar. Eu
brincava com eles, sabia a arte de seduzi-los, levá-los ao desejo insaciável,
mas não me entregava. Não me dava vontade de me entregar. Eu queria sempre que
eles tentassem de novo. Eram sujos, tinham cheiro de trabalho e pingavam ouro.
Minha fidelidade a Cleto era não querer deitar com outros homens, mas eu fazia
mais. Eu brincava com eles como com as bonecas. Eu tinha o prazer de me
mostrar, o segredo deles me verem nua e fecharem os olhos com medo”.
O prazer de Saraminda era atiçar o desejo dos homens,
enlouquecê-los. E mostrar sua nudez era uma de suas provocações prediletas,
como no episódio em que manda chamar Celestino, o capaz de seu marido:
__ Celestino, mandei chamar você para que me visse,
me olhasse, porque você sempre está me olhando com vontade de me ver.
__ Saraminda, não faça isso comigo, não posso trair
Cleto. Por que você me escolheu para isso, menina?
Quando ele falou ‘menina’, sentiu que a palavra
revelava um sentimento oculto de ternura que podia ser a barreira a transpor
contra sua lealdade.
E ela pediu:
__ Me beija Celestino.
E Celestino fraquejou, beijou-a. Sentiu um gosto de
veneno e saiu correndo, mas não passou da varanda, contido pelo rosnar forte de
Leão, que ele rapidamente entendeu. Desse dia ele não esqueceria nunca. Ficou
com raiva, amor e ciúme.
__ Leão, deixa ele sair e vem cá.
Saraminda, uma das raras personagens
centrais da literatura brasileira que é negra e que tem uma força incontrolável
que domina todos a sua volta, inclusive o leitor. Uma obra que insere o Amapá na Literatura Universal. Sua leitura é uma experiência
fabulosa.
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