quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Gilvam Borges

Quase sempre, o inimigo é ardiloso. Oferece a redenção e o eventual perdão aos adversários. Somente para deixá-los nus em seguida. É uma desmoralização sinistra. Mata aos poucos. As sanções sociais, feitas pela população, convencionaram que é o pior dos castigos. Quando um dos membros da sociedade comete um deslize ou mesmo um crime, ou se comporta contra os valores estabelecidos, caem sobre ele críticas amargas de todos. Quando porventura a pessoa chega a um lugar público, não lhe falta quem aponte o dedo. Transparecendo no olhar e na fisionomia, o desprezo e a censura para o infeliz que cai em desgraça. Os bochichos e comentários velados são como flechas envenenadas de reprimendas. Capacho, lambe-botas, puxa-saco, são alguns termos populares que estereotipam determinadas figuras. Aquelas que vão ao extremo da bajulação, para serem aceitas e atingirem seus inconfessáveis objetivos. Mais além, estão os oportunistas e traidores. Estilo Judas Iscariotes, figura bíblica que, milenarmente, representa a traição. Por algumas moedas, entregou seu Mestre, vendendo a convivência, a confidência e o ideal. Dizem os historiadores que ele estava ébrio de vinho e beijava os pés do Rei dos Judeus, pedindo perdão, por não estar ao lado dele há mais tempo. Mesmo com o dinheiro no bolso e os bens protegidos, não suportou a sua própria fraqueza e a condenação, pelo seu ato covarde. Foi para local ermo e, num descampado, enrolou a corda no pescoço com as próprias mãos. Tudo ao rei, menos a dignidade. Que se vá os anéis, mas que fiquem os dedos. A mensagem é assim. Proteja a sua essência e os seus valores. Eles são o motivo maior de sua existência. Quase sempre, o inimigo é ardiloso. Oferece a redenção e o eventual perdão aos adversários. Somente para deixá-los nus em seguida. É uma desmoralização sinistra. Mata aos poucos. Conheço uma pessoa que se acachapou vergonhosamente, melou o rosto de lágrimas perante o rei e fez como Judas, trocou-se pelas trinta moedas. Apenas não usou uma corda, fez opção pela morte moral. Virou zumbi.

Gilvam Borges é ex-senador da República e líder da oposição no Amapá


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