quinta-feira, 29 de março de 2012

Repasses a Demóstenes são citados em gravação

Em novas gravações divulgadas ontem pelo "Jornal Nacional", o contraventor Carlinhos Cachoeira, em conversas com um sócio e o contador, cita seis vezes o nome de Demóstenes Torres (DEM-GO), associando o senador a valores que ultrapassam R$ 3 milhões. Cachoeira menciona "1 milhão do Demóstenes"

Por Maria Lima/O Globo

Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso por exploração de jogos ilegais em Goiás, pode ter repassado mais de R$ 3 milhões ao senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Gravações da Polícia Federal revelam que Cachoeira, o contador Giovani Pereira Silva e o sócio Cláudio Abreu conversaram ano passado sobre várias cifras e, em meio à contabilidade, fizeram referências a supostos repasses ao senador. Trechos dos diálogos foram divulgados pelo "Jornal Nacional" ontem. As conversas foram interceptadas ano passado, no começo da Operação Monte Carlo. Cachoeira, Abreu e Silva estão fazendo contas de movimentação financeira da organização. Num determinado momento, Abreu pergunta a Cachoeira quanto ele reteve. "Um milhão do Demóstenes", responde Cachoeira. Na sequência da conversa, Cachoeira menciona outras cifras e relaciona os números ao senador. Seriam R$ 1,5 milhão, mais R$ 600 mil e mais R$ 1 milhão. Essa última cifra teria sido o valor a ser retido, segundo noticiou o "JN".



Representação no Conselho de Ética

A soma daria, nos cálculos de Cachoeira, R$ 3,1 milhões. Abreu corrige o sócio e diz que parte do dinheiro já vinha sendo retida desde a eleição do Demóstenes por recomendação do próprio Cachoeira. A conversa dura cinco minutos, e os três mencionam o nome "Demóstenes" seis vezes. Nos trechos divulgados pela TV não estão claras as circunstâncias e nem os objetivos da suposta movimentação financeira. Está nas mãos do líder do PMDB , Renan Calheiros (AL), e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), recompor o Conselho de Ética do Senado, acéfalo desde setembro do ano passado, para que tramite a representação contra Demóstenes, apresentada ontem pelo PSOL. O documento pede abertura de processo disciplinar para investigar quebra de decoro parlamentar, com punições que vão até a perda do mandato, pelas suspeitas relações do senador com Carlinhos Cachoeira. O vice-presidente do Conselho de Ética, Jayme Campos (DEM-MT), disse que é preciso que o PMDB indique o substituto do ex-presidente João Alberto (PMDB-MA). A partir daí, ele convocará, em cinco dias, uma nova eleição para que o novo comando do colegiado analise a admissibilidade da representação. O maranhense João Alberto comandou o conselho de abril a setembro do ano passado. Antes dele, o conselho ficara desativado dois anos. Mas o líder Renan Calheiros foi categórico:
- Isso não é problema do PMDB, não! Não é o líder que cuida disso, não! Eu sei lá quem!!
Com o impasse, caberá a Sarney decidir que destino dar ao conselho e à representação contra Demóstenes, assinada pelo presidente do PSOL, deputado Ivan Valente (SP). Ele protocolou o pedido acompanhado pelo senador Randolfe Rodrigues (AP) e pelo deputado Chico Alencar (RJ). Na representação, o PSOL pede que sejam chamados para depor Carlinhos Cachoeira e os demais envolvidos no inquérito apresentado pelo MP.

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