quarta-feira, 28 de março de 2012

Gurgel pede ao STF inquérito contra Demóstenes

Por Juliano Basile e Bruno Peres | Valor Econômico

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ontem à noite abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o Senador Demóstenes Torres (DEM-GO), para investigar as denúncias que o envolvem com o empresário Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. O empresário é acusado de chefiar um esquema ilegal de exploração de jogos em Goiás. "Considerei grave o suficiente para que houvesse o pedido de instauração de inquérito. É um volume muito extenso de interceptações telefônicas, cobertas por sigilo e por um período bastante longo", afirmou Gurgel. Ele se referiu a gravações realizadas pela Polícia Federal em investigação de Cachoeira, que duraram cerca dez meses. O procurador-geral disse que há mais parlamentares envolvidos. A situação política de Demóstenes se agravou. Ontem, ele renunciou à liderança do DEM, para "acompanhar a evolução dos fatos e versões noticiados nos últimos dias", segundo disse na carta dirigida ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O novo líder da bancada de cinco senadores será o presidente do partido, José Agripino (RN). O líder do PSOL no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), disse que o partido ingressará com uma representação contra o Senador no Conselho de Ética da Casa, em razão da decisão do procurador-geral de denunciar os parlamentares envolvidos na Operação Monte Carlo, da PF, no STF. Para Randolfe, todos os parlamentares que forem denunciados deverão ser investigados também no Congresso. O julgamento no Conselho de Ética é político e pode resultar na cassação dos mandatos. Após reunião da bancada no gabinete de Demóstenes, Agripino afirmou que a possibilidade de expulsão não está descartada, caso sejam comprovadas as suspeitas de envolvimento do Senador com atividade irregular. "Estamos no campo das hipóteses. Um partido com a história do Democratas, que já fez o que já fez, chegando à expulsão de um governador, tem a autoridade moral para dizer que vai fazer o que outros partidos nunca fizeram. Não convivemos com a perda da ética." O exemplo dado por ele foi o da decisão do partido de expulsar José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal eleito pelo DEM. Demóstenes passou o dia em seu gabinete, de onde telefonou para vários Senadores. A cada um, pedia que lhe desse tempo para voltar a dar explicações sobre o caso. E afirmou que subirá à tribuna quando souber quais são as acusações contra ele. Em pronunciamento no dia 6 de março, após terem sido publicadas as primeiras denúncias - de que teria recebido um fogão e uma geladeira importados de presente de Cachoeira, com quem teria trocado 300 telefonemas -, o Senador admitiu amizade com o empresário, ter recebido os presentes e dado os telefonemas. Mas negou que soubesse de atividade ilegal de Cachoeira. Desde então, novas denúncias surgiram: o Senador teria recebido do empresário um rádio Nextel habilitado nos Estados Unidos e teria lhe pedido dinheiro emprestado. As informações foram obtidas pela PF com gravação de uma série de conversas entre Demóstenes e Cachoeira. Senadores cobraram publicamente novas explicações do goiano. Agripino afirmou que a situação de Demóstenes "é incômoda, porque decorrente de uma dúvida não esclarecida". Ele cobrou da Procuradoria-Geral da República o esclarecimento do que existe contra Demóstenes, para que ele possa se defender. "Ele vai se defender de quê? De insinuações?", perguntou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Acompanhe

Clique para ampliar