Ministro vai
ao Congresso se explicar para tentar conter crise provocada por operação que
envolve ex-braço direito
Órgão ganha comissão de ética interna e passa a exigir análise de indicações para cargos e registro de audiências
O ministro Luís Inácio Adams, chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), baixou ontem um pacote de medidas que dão mais transparência ao órgão e, pela primeira vez, admitiu ter errado ao nomear o assessor que foi indiciado pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro. O ministro foi ao Congresso se explicar, com o objetivo de conter a crise política que o envolve desde o desmantelamento da quadrilha que corrompia servidores públicos para a emissão de pareceres fraudulentos de interesse de empresários. Adams foi recebido no Senado por vaias de funcionários da AGU, e senadores de oposição defenderam durante a audiência seu afastamento do cargo. As portarias de Adams mudam regras do funcionamento interno da AGU e foram publicadas pela manhã, antes da audiência. Uma delas cria um formulário para encaminhar indicações para cargos na AGU, passando a exigir análise do perfil profissional dos candidatos e atestados de que eles não respondem a nenhum procedimento disciplinar. Outra amplia o controle sobre consultas, reuniões e audiências com representantes da AGU. Todo pedido deverá ser protocolado com indicação da autoridade ou servidor interessado. A terceira portaria instala uma comissão de ética dentro da AGU. Com três integrantes e mandatos de três anos, ela tratará de casos de infração disciplinar.
Situação da vida
À tarde, Adams disse no Senado que não sabia de processos que tramitavam contra o assessor José Weber Holanda, um deles na corregedoria da própria AGU, quando o convidou para ser seu adjunto. Pela primeira vez, o ministro reconheceu que errou ao nomear o amigo para o cargo. Disse que foi "uma situação da vida", um "erro de confiança". "Nós erramos porque confiamos, mas só fazemos porque confiamos." Weber foi exonerado do cargo há duas semanas, após a polícia indiciá-lo por suspeita de corrupção. Até então, ele atuava na AGU como braço direito de Adams. Os dois despachavam em gabinetes contíguos. "Acho muito estranho o chefe da AGU não saber dos processos envolvendo seu subordinado. A situação dele beira a insustentabilidade", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Ao chegar no Congresso, o chefe da AGU foi hostilizado por cerca de 40 servidores do órgão, que acompanharam a reunião do Senado. Eles fizeram um apitaço, vaiaram e gritaram "Fora Adams" quando ele começou a se explicar. Foi preciso que o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), ameaçasse retirar o grupo da sala para que a manifestação fosse interrompida.
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