quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

José Sarney

Ponte do São Francisco: 43 anos

Amanhecia o dia 14 de fevereiro de 1970. Eu comemorava uma grande vitória. Tinha feito tudo para não deixar o Governo do Estado sem inaugurar a Ponte do São Francisco que o governador Antonio Dino colocou o nome de José Sarney. Abri a janela da pequena casa da Avenida Beira-Mar, onde morava, ali no pé da muralha. Isso porque o palácio estava sendo restaurado por mim para entregá-lo ao meu sucessor. Abri a janela e olhei para a ponte, toda embandeirada, referência nova que alterava o visual da cidade de São Luís. Era um dia de sol, em pleno fevereiro. Estava feliz. Tinha asfaltado toda a cidade, que encontrei esburacada e quase intransitável. Abri a Avenida Kennedy, ligando o antigo Galpão da Rua Grande, onde hoje existe uma Caixa d’Água (também feita por mim). Abri a Avenida dos Franceses (todos nomes colocados por nós), reformulei o sistema de água da cidade, coloquei a energia elétrica de Boa Esperança e renovei a rede de distribuição de energia elétrica na cidade. Fiz a Barragem do Batatã. E estava então concluindo a Barragem do Bacanga. Estava pronto o Porto do Itaqui. Abri e asfaltei a São Luís-Teresina. Deixava criada a Universidade Federal do Maranhão e as cinco faculdades que formaram a Uema. Implantei a primeira TV Didática e Educativa do Brasil (então Cema). Construí a ponte do Caratatiua, a primeira a cruzar o Rio Anil. Implantei uma escola por dia, um ginásio por mês e uma faculdade por ano. Tirei o Maranhão da letargia em que se encontrava. Era uma nova mentalidade. A certeza de que marchávamos para um novo tempo estava na cabeça de todos. E marchamos. O Maranhão mudou. Por isso hoje somos o 17º PIB brasileiro e o 2º porto do país, um dos 10 maiores do mundo. Eu ia deixar o Governo naquele próximo mês de março, dali a um mês (estávamos em fevereiro de 1970). Todo o Maranhão cantava o hino do Maranhão Novo. Tivemos posteriormente um presidente da República que devolveu a democracia aos brasileiros, trouxe a Vale para o Maranhão e construiu a Norte-Sul. A Ponte do São Francisco era um dos meus sonhos realizados. Ela libertou São Luís de sua prisão histórica e abriu os braços para o outro lado, onde nada existia, possibilitando a criação da nova cidade – o bairro São Francisco, 400.000 habitantes em 40 anos – e dando condições de preservar o tesouro da cidade velha que a ponte salvou. Quero soprar a velinha do seu 43º aniversário. Ela é minha querida filha, tem meu nome, mas, sobretudo ocupa um espaço de felicidade na minha vida. Ela é um marco na história da cidade de São Luís. Gerou uma nova vida para a São Luís, encheu os seus pulmões, tornando-se um exemplo que contrasta com o que aconteceu nos outros estados do Brasil. As terras do outro lado foram compradas para o Ipem, evitando a especulação. Um exemplo de honestidade e de seriedade na vida pública. Floresceu o bairro Calhau, todo o conjunto que ficou na margem direita do Anil, com todos os equipamentos de uma cidade moderna e abriu as praias para os pobres. A ponte é jovem. Vejo-a bonita e recordo os ventos e o povo que comigo atravessava a pé as águas do Rio Anil. Daqui a 100 anos vai ter a festa da ponte. Hoje, só eu lembrei-me dela, e Bandeira Tribuzi que está no céu está cantando em sua homenagem a Louvação a São Luís. Então, se lembrará o que ela significou para a grande cidade que vai cada vez mais crescer.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
jose-sarney@uol.com.br  

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