quinta-feira, 10 de março de 2011

José Sarney

O Pibão

O IBGE anuncia que o PIB brasileiro cresceu 7,5% em 2010, mostrando que o Brasil — o governo do Presidente Lula — soube adotar a fórmula correta para sair da crise que abalou o mundo em 2008. Expandimos a economia como fórmula para enfrentar o desafio que chegava e ameaçava, com uma possível recessão, o emprego e o bem estar das famílias dos trabalhadores brasileiros. O resultado foi que vivemos hoje um regime de pleno emprego, o que é o melhor que se pode desejar para o País.
Esta é a maior taxa de crescimento desde a Presidência com que iniciei a Nova República e a redemocratização. Naquela época, crescemos 8% em 1985 e 8,2% em 1986 (11,2% e 22,1%, em dólares por variação cambial, FGV). E em 1988 chegamos a ser a sétima economia do mundo, posto que recuperamos agora.
Espanta-me sempre que tenhamos perdido tanto tempo com taxas de crescimento medíocres, e só agora voltemos a crescer com rapidez. Não aceitei nunca a fórmula que o FMI e o Consenso de Washington tentavam nos impor, de controlar a inflação com o uso da recessão. Foi o mesmo o pensamento do Presidente Lula, que optou pelo crescimento e por um caminho de incorporação dos pobres à classe média, e a saída dos miseráveis da carência absoluta de recursos. O seu sucesso foi, ao lado da sintonia fina de sua personalidade com o povo brasileiro, resultado desta política.
Há uma reordenação das economias mundiais que se origina justamente na necessidade dos países de grande população e recursos a explorar de saírem da pobreza. Assim, a China tem dado o exemplo e sido o carro chefe que impede a economia de estagnar, chegando agora a ser a 2ª economia do mundo. China, Índia e Brasil — os três países que mais cresceram no ano passado — têm o destino de se expandirem e superar as dificuldades do passado.
Este ano precisamos pisar um pouco o pé no freio para evitar o risco inflacionário, mas sem sacrificar o nosso crescimento. O governo da Presidente Dilma mantém a compreensão de que é preciso investir, tanto em infraestruturas como nos serviços sociais — educação, saúde, segurança — para garantir o objetivo de eliminar a pobreza. Este é o sonho não só possível como necessário.
A guerra civil na Líbia, na esteira dos movimentos de libertação nos países africanos e mulçumanos, gerou um efeito preocupante: a disparada dos preços do petróleo. O movimento tem muito de especulativo, já que a participação da Líbia na produção mundial é de apenas 2% e a diminuição de fornecimento Líbio foi compensada pela Arábia Saudita. Mas o certo, como lembrou o Financial Times, é que os grandes aumentos do preço do petróleo tiveram todos como consequência uma diminuição do ritmo da economia.
Nesta área, também, felizmente, o Brasil tem menos a se preocupar do que outros países, já que somos autosuficientes em relação ao petróleo. Mas a hora é de comemorar o Pibão de 7,5%, uma nota dez até para Dominique Strauss-Kahn, o homem do FMI.

José Sarney
foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.

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