Cidade africana que atravessou o Oceano Atlântico, se transferindo do Marrocos para o Amapá
Depois de 8 anos fazendo pesquisa no baixo Amazonas, depois de uma tese de doutoramento defendida em 2009 pela UFSC - Universidade Federal de Santa Cataria -, depois de mais de 10 artigos científicos publicados mundo afora, chega às bancas esta semana o livro mais polêmico sobre a História da Amazônia. Trata-se de “Mazagão Velho: diáporas negras, performance e oralidade no baixo Amazonas”, do professor e doutor Geraldo Peçanha de Almeida. No livro ele conta como uma cidade atravessou o Oceano Atlântico ( do Marrocos a Portugal e de Portugal ao Brasil) e passou a viver, há quase 300 anos, completamente desconhecida pela sociedade brasileira. O livro sustenta a ideia de que há um processo de unificação cultural que quer tornar a Amazônia homogênea, ou seja, sustentam que lá, ainda, só vivem índios e ribeirinhos, quando na verdade, essa comunidade é uma das comunidades negras mais antigas do pais, com quase 25 mil negros, absolutamente esquecidos e escondidos no meio da floresta. O livro ainda pergunta: quem já viu ou ouviu falar que a Amazônia Brasileira era terra de negros? Quem já tinha ouvido falar que uma cidade negra inteira havia saído do Marrocos e se instalado no Brasil 300 anos atrás? Quem já ouviu falar em Marabaixo? Quem sabe o que é ser lusoafromarroquino? O livro conta a história de uma comunidade, de negros que vivem na Amazônia brasileira. Especificamente no Estado do Amapá. Esses negros tem origem em outra comunidade do Marrocos e foram trazidos, seus primeiros habitantes, por conta da mudança forçada da família real portuguesa do Marrocos, em localidade do mesmo nome Mazagão. Do Marrocos eles foram levados para Portugal e de Portugal chegaram a Belém. Aqui foram alocados no que hoje é o Estado do Amapá. Ali preservam muito de suas culturas híbridas – portuguesa em função do colonizador, marroquina, em função da origem de seus antepassados e indígenas, em função da vivencia e da proximidade com estes povos. Esta comunidade é impar em todos os sentidos. Eles possuem um calendário próprio de comemorações, tem a festa de São Tiago mais antiga das Américas e são, sem nenhuma dúvida, absolutamente desconhecidos dos brasileiros. Este livro traz a cultura deste povo, seus sonhos, suas transladações e principalmente, suas histórias, que são muitas. A primeira proposta de explicação para a ocupação humana da região do baixo Amazônas foi elaborada pela arqueóloga americana Betty Meggers, a qual foi por muito tempo considerada como a teoria dominante em relação às culturas das florestas tropicais: a percepção dessas sociedades como comunidades pequenas, isoladas e autônomas, dotadas de uma organização política descentralizada. Sustentavam essa teoria a grande dispersão de línguas existente entre os povos da região e a história da formação da cobertura vegetal da Amazônia, onde períodos de grande aridez foram permeados por outros de proliferação de florestas. Durante muitos anos esse modelo fez com que se acreditasse que os habitantes nativos da Amazônia, desde os tempos anteriores à chegada dos espanhóis e portugueses, eram povos primitivos e de pobre expressão cultural, mais atrasados do que os maias, os incas e os astecas, povos considerados os mais avançados do período pré - colonial na América Latina. Apenas a partir dos anos 80 é que, efetivamente, novas descobertas arqueológicas começam a sugerir que essas não eram as únicas sociedades classificadas como complexas na época do desembarque dos navegadores espanhóis e portugueses. Minhas pesquisas demonstraram que, quando os colonizadores europeus chegaram à Amazônia, em 1542 (data da primeira expedição de que se tem conhecimento, que desceu o rio Amazonas), encontraram uma população numerosa, com organização social complexa e belicosa, que abrigava aldeias extensas, unificadas por um poder central supremo, os chamados cacicados. Além disso, possuíam uma cultura sofisticada e inovadora, em arte e tecnologia. Parte desta cultura, somada àquelas que vieram do Marrocos e de Portugal, se juntaram para constituir o que hoje conhecemos como Mazagão Velho.
O autor está disponível para dar entrevista nos seguintes telefones:
Serviço:
Mazagão Velho - Diásporas Negras, Performance e Oralidade no Baixo Amazonas
Geraldo Peçanha de Almeida, 190 pgs.
Publicado em: 10/6/2011
Editora: Juruá Editora
ISBN: 978853623382-6
Preço: R$ 44,70
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