O substitutivo da Câmara ao Projeto de Lei do
Senado (PLS)268/02, que regulamenta o exercício da medicina e estabelece quais
são as atividades privativas dos médicos, obteve na quarta-feira (12) parecer
favorável da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE). O texto será ainda
submetido à Comissão de Assuntos Sociais (CAS) para, em seguida, chegar
finalmente ao Plenário. A aprovação ocorreu por unanimidade, após a realização
de uma audiência pública conjunta sobre o tema, promovida pela CE e pela CAS,
quando foram ouvidos representantes dos Ministérios da Saúde e da Educação e do
Conselho Nacional de Educação. Antes da votação, a senadora Vanessa Grazziotin
(PCdoB-AM) sugeriu a formação de uma mesa de negociação, para buscar um
consenso entre médicos e outros profissionais de saúde, que temem ver suas
atividades cerceadas pelas normas contidas no projeto. A senadora Ana Amélia
(PP-RS), que presidia a reunião, lembrou que o texto voltará a ser debatido na
CAS, antes da decisão final do Plenário. As principais divergências em torno do
texto referem-se ao artigo quarto, onde estão definidas as atribuições
exclusivas dos médicos. Mas o projeto foi submetido à CE, antes de seguir para
a CAS, por tratar do tema da formação profissional. Segundo o substitutivo, são
privativos dos médicos o ensino de disciplinas especificamente médicas e a
coordenação dos cursos de graduação em medicina, dos programas de residência
médica e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos. O relator da
matéria na CE, senador Cássio Cunha (PSDB-PB), optou por manter o texto já
aprovado anteriormente pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
(CCJ). Em sua opinião, a redação acatada pela CCJ é a que “melhor atende às
demandas das outras categorias profissionais interessadas no projeto de
regulamentação da medicina”. Os 14 itens do artigo quarto do texto aprovado
definem quais são as atividades privativas dos médicos. Entre elas, a
formulação de diagnóstico nosológico e a respectiva prescrição terapêutica; a
indicação e execução de intervenção cirúrgica e prescrição de cuidados médicos
pré e pós-operatórios; a indicação da execução e execução de procedimentos
invasivos; e a execução de sedução profunda, bloqueios anestésicos e anestesia
geral.
Audiência
A última audiência sobre o projeto antes da votação
ocorreu em uma reunião conjunta da CE e da CAS, encerrada minutos antes da
realização da reunião da CE durante a qual a matéria foi colocada em votação. Durante
a audiência, a coordenadora geral do Departamento de Gestão e da Regulação do
Trabalho em Saúde, do Ministério da Saúde, Miraci Mendes, elogiou o
substitutivo em debate, mas observou que ainda existiam resistências a alguns
pontos da proposta por parte de conselhos profissionais ligados à área da saúde.
Para ela, “seria fundamental continuar o diálogo”, a fim de se alcançar um
acordo entre todos os profissionais da área de saúde. O secretário de Educação
Superior do Ministério da Educação, Amaro Henrique Lins, considerou importante
a aprovação de um projeto que defina as atribuições dos médicos, mas lembrou
que cabe ao profissional médico “trabalhar de forma harmoniosa em equipe”. Por
sua vez, o representante do Conselho Nacional de Educação, Luis Roberto Liza
Curi, ressaltou a necessidade de flexibilização da formação dos profissionais
de saúde, levando em conta a interdisciplinaridade. Durante o debate, o senador
Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que a disputa entre os diversos profissionais
da área de saúde em torno do projeto era a “prova mais cabal da crise da saúde
brasileira”. Vanessa Grazziotin pediu que se ampliasse o diálogo a respeito do
tema, uma vez que as divergências limitavam-se a poucos pontos, como o
dispositivo que considera o diagnóstico nosológico atribuição dos médicos. O
senador Cyro Miranda (PSDB-GO) recordou que o tema vem sendo debatido há mais
de 10 anos no Congresso Nacional. Da mesma forma, o senador Paulo Davim
(PV-RN) considerou falsa a ideia de que existiria uma “guerra santa” entre os
diversos profissionais de saúde. O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) pediu aos
críticos da proposta para que apontassem, com objetividade, onde estaria no
projeto o impedimento do exercício de outras profissões. Por sua vez, o senador
João Capiberibe (PSB-AP) lembrou que existem 365 municípios no país onde não há
nenhum médico. As equipes de profissionais de saúde desses municípios,
observou, dependeriam então de médicos residentes em outros municípios.
Texto da Agência Senado
Foto: Aline Guedes
Parabéns à comissão pelo importante, embora vagaroso, passo rumo à regulamentação da atividade médica. Esse processo, que se arrasta há mais de uma década, está envolvido por uma cortina de mitos e interesses corporativos que em muito superam o já demonizado “corporativismo médico”. Tal projeto é visto por profissionais não médicos (ou suas entidades representativas) como uma excelente oportunidade de repactuação de prerrogativas profissionais e, por isso utilizam todas as suas “armas” para ampliar o espectro de suas atividades, mesmo que para isso tenham que descaracterizar uma das mais belas e antigas profissões do mundo, a medicina. Agradeço aos senadores que votaram pela aprovação do projeto e suplico que defendam a medicina, que tanto lutou e luta pela saúde humana em todas as suas facetas. Não permitam que grupos corporativos que visam unicamente a ampliação de seus lucros e se escondem através de discursos falsos, pregando ideologias antimédicas, consigam ferir mortalmente aquela que foi a mãe de muitas das outras profissões de saúde, a medicina.
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