Motivada pela Operação
Monte Carlo, da Polícia Federal, que levou à prisão de Carlinhos Cachoeira e
lançou luz sobre um amplo esquema de tráfico de influência e fraude de
licitações públicas, a comissão parlamentar mista de inquérito que investigou o
caso se aproxima do final. Nesta terça-feira (11), o relatório do deputado
federal Odair Cunha (PT-MG) vai à votação. O texto de 5 mil páginas, que
provocou intensa polêmica, contrapondo a bancada do governo e a da oposição, já
foi lido resumidamente pelo relator, mas teve sua votação adiada duas vezes. Cunha
pede indiciamento de dezenas de pessoas ligadas a Cachoeira e pede
investigação, pela Procuradoria Geral da República, do governador de Goiás,
Marconi Perillo (PSDB) e do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT). O relatório,
porém, excluiu os governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), amigo do dono da Delta Construções,
Fernando Cavendish, cujo indiciamento é pedido no relatório. Depois de várias
críticas, Odair excluiu, em uma segunda versão de seu relatório, o pedido de
investigação, pelo Conselho Nacional do Ministério Público, do procurador-geral
da República, Roberto Gurgel, assim como o pedido de indiciamento do
redator-chefe da revista VejaPolicarpo Júnior e de outros quatro
jornalistas.
Relatório alternativo
O texto de Odair Cunha
não será o único texto a ser votado. Um voto em separado, do deputado federal
Ônix Lorenzoni (DEM-RS), coloca mais foco sobre a empreiteira Delta
Construções, que de acordo com a PF estava envolvida no esquema de Cachoeira e
repassou quase R$ 100 milhões a empresas de fachada. A Delta detém contratos em
diversos estados e prefeituras, e se destaca em obras de âmbito federal. Para
Lorenzoni, a maioria na CPI “acovardou-se” ao não permitir o avanço nas
investigações sobre o esquema de desvio de dinheiro público com a participação
da Delta. O deputado do DEM destaca que, em 2011, a Delta recebeu mais
de R$ 884 milhões do governo federal, tornando-se a maior empreiteira do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo ele, dados provenientes de
quebras de sigilo revelam uma série de operações suspeitas, ocorridas
principalmente em meses eleitorais. A ausência de investigações profundas sobre
as atividades da Delta também tem sido apontada pelos senadores Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT), o que pode motivar um segundo voto em
separado.
Abaixo, pontos polêmicos
relacionados ao texto:
* Ministério Público: Pedido
de investigação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel desagradou a
vários parlamentares. O relator sugeriu ao Conselho Nacional do Ministério
Público que apure a possível omissão dele em relação à Operação Vegas,
conduzida pela Polícia Federal.
* Jornalistas: Também
desagradou a parte dos parlamentares o indiciamento do jornalista da Veja
Policarpo Júnior por formação de quadrilha. Para o relator, ele teria
“extrapolado o limite da relação entre fonte e jornalista”.
* Laranjas: Quase
meio bilhão foi repassado pela construtora Delta a empresas consideradas
laranjas, e a CPMI só quebrou o sigilo de 20% delas.
* Requerimentos: Os
trabalhos da comissão terminaram e mais de 600 requerimentos de convocação e
quebras de sigilo nem sequer foram analisados.
* Governadores: Apesar
da proximidade entre o dono da Delta, Fernando Cavendish, e do governador do
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), não houve investigação sobre o assunto. O
pedido de investigações do governador de Marconi Perillo, do PSDB, e a exclusão
do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT, também irritou a
oposição.
* Cavendish: Foi
indiciado apenas por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O relatório
não lista outros crimes que teriam sido cometidos pelo dono da Delta, que
sequer teve o sigilo bancário quebrado.
* Contas no exterior: Carlinhos
Cachoeira teria contas fora do país, fato que não chegou a ser apurado pela
comissão.
* Caixa 2 do PT: O
ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot confirmou que atuou junto a empreiteiras
para pedir recursos para campanha do PT, mas o assunto não foi levado adiante
pela CPI, para revolta de opositores do governo.
Agência
Senado
Veja
também:
Não há provas que mostrem qualquer envolvimento de Sérgio Cabral com qualquer atividade irregular.
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