terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Milhomen: “Falta de combustíveis. É um assunto grave que estamos tratando com a gravidade que merece”


Na volta para Brasília depois de ter disputado a eleição para a Prefeitura de Macapá, o deputado federal Evandro Milhomen (PCdoB) se deparou com um enorme problema para ser resolvido. A falta de combustíveis no Amapá, que provoca há quase duas semanas um verdadeiro caos na vida das pessoas. Ele é o coordenador da Bancada Federal. Mobilizou os demais colegas em busca de respostas e também para garantir soluções para que um novo colapso no abastecimento da rede de postos de combustíveis não se repita. Esses e outros assuntos do momento foram tratados por ele em uma entrevista, ontem, no rádio, que o Diário do Amapá publica a seguir.


Diário do Amapá – Logo que acabou o primeiro turno o senhor embarcou para Brasília. Foi reassumir a coordenação da Bancada Federal ou já iniciava as tratativas políticas visando o segundo turno da disputa pela Prefeitura?

Evandro Milhomen –
 Não. Na verdade nós retomamos nossa função na coordenação da Bancada. Mas fomos tratar desse problema que estamos enfrentando aqui desde a semana passada, que é o racionamento de combustíveis provocado pelas distribuidoras que na sua logística não atenderam às necessidades que temos aqui no Amapá.

Diário – Deu para saber qual é exatamente o tamanho da demanda do Amapá?

Milhomen –
 Nós temos uma necessidade diária de 400 mil litros de combustível. Houve uma defasagem dessa reposição, acontecendo o fato que hoje enfrentamos. Estivemos em uma audiência em Brasília na última quarta-feira, convocada pelos dirigentes da ANP [Agência Nacional do Petróleo] com toda a nossa Bancada, quando apresentamos o problema ao doutor Manoel Neto e por incrível que pareça, não ele como a presidenta da Petrobras, que foi questionada pelo senador Capiberibe sobre o problema e não tinham informação. 

Diário – Não houve uma comunicação?

Milhomen –
 Há uma exigência da ANP com relação às distribuidoras no sentido de que sempre que ocorra problema na distribuição ou falta de combustível que comuniquem, e eles não fizeram isso. Teriam 48 horas para fazer esse comunicado à ANP.

Diário – Por conta disso podem ser punidas?

Milhomen –
 Isso acarretará em multas pesadíssimas, pois causou um problema seriíssimo no estado, de paralisação econômica, problemas que poderiam levar inclusive à morte, pois em uma necessidade de socorrer alguém, levar ao Pronto Socorro ou a um hospital não teríamos como levar, pois até as ambulâncias foram paralisadas. É um fato muito grave que nós estamos tratando com a gravidade que ele merece.

Diário – Esse foi o tom então da conversa com os representantes da ANP?
Milhomen –
 Exatamente. Dissemos que queremos uma investigação clara e é importante que isso seja feito logo e saber quem são os responsáveis por esse desabastecimento aqui no Amapá. Queremos uma investigação, uma sindicância e uma punição aos responsáveis.

Diário – E há sinais de que isso já tenha sido providenciado?

Milhomen – 
Já temos aqui no Amapá um representante da ANP que está levantando, está diagnosticando todo o problema. 

Diário – A questão é identificar a origem do problema, não é mesmo?

Milhomen –
 Muitas informações distorcidas chegam. Uma hora é o tanque que não suporta a quantidade de combustível para atender as necessidades, ora, esse tanque está aí há muitos anos e nunca tivemos esse problema, como é ele já não comporta mais? Outra de que havia um vazamento no reservatório, o que não é verdade. Uma nova possibilidade foi que lá no porto da Miramar, em Belém, está em obras e isso poderia ter dificultado a chegada desse combustível, é uma possibilidade. Mas o que temos de concreto é que a logística das distribuidoras não foi eficiente e nós vamos ter que fazer com que elas possam pagar por isso à população do nosso estado.

Diário – E para o futuro, como se desenham as alternativas?

Milhomen – 
Discutimos que em breve possamos trazer para a mesa de discussão as distribuidoras, a BR e a Ipiranga, junto com a ANP e a Petrobras, para que possamos fazer esse transporte direto para o Porto de Santana ao invés de fazer o transbordo em Miramar, para que tenhamos uma celeridade e uma garantia de que esse combustível vai chegar aqui. Também discutimos a necessidade da ampliação do parque de armazenamento de combustível, para que isso não seja motivação ou desculpa para uma provável falta de combustível .

Diário – E quando o abastecimento volta a ser normalizado no Amapá? Falou-se até que isso só deverá ocorrer em janeiro. Qual a previsão?

Milhomen –
 Botaram a culpa até na Virgem de Nazaré, dizendo que o Círio provocou tudo isso. Eu disse para o representante da ANP “olha, o Círio é a pé, não é de carro”. Então procuram culpados e todo mundo tira o seu e coloca a culpa nos outros. Na verdade estamos buscando esse diagnóstico, então esperamos até segunda ou terça-feira ter um posicionamento mais claro. O certo é que combinamos chegaria aqui a Macapá na terça-feira 1,5 milhão de litros de combustível, na quinta-feira mais 1,5 milhão, no sábado mais 1,2 milhão e talvez mais um carregamento neste domingo, da BR, para complementar, com previsão de normalizar o fornecimento na segunda-feira.

Diário – Esse problema afetou todo mundo, mas também gente que trabalha com transporte e que depende dessa renda para sobreviver, como os taxistas. E esses prejuízos?

Milhomen – 
Esse é um problema muito sério. Nós não podemos voltar ao início dos anos 90 quando nós tínhamos racionamento de energia e até falta de comida por conta do racionamento de energia. Nós estamos num Estado com tecnologia moderna, com avanços administrativos e logísticos, então aceitar uma coisa como essa nos dias atuais é um absurdo. Daí nosso posicionamento no sentido de tirar isso a limpo, punindo quem eventualmente esteja envolvido nisso, mas principalmente resolver definitivamente esse problema.

Diário – O senhor tem informação de que esse desabastecimento também tenha chegado a outros estados da região Norte?

Milhomen –
 Eu ouvi alguma coisa sobre Manaus e Belém, com uma proporção menor, mas não me foi confirmado isso. De qualquer forma, se isso estiver acontecendo aqui ou em outras cidades, não podemos mais aceitar porque não há falta de combustível no país, pois se isso estivesse acontecendo a maior cidade do país, que é São Paulo, teria sido avisada.

Diário – Mudando um pouco de assunto, deputado, e agora nesta volta aos trabalhos no Congresso Nacional o que poderá ser feito até o fim do ano?

Milhomen –
 A partir do momento em que se encerra o período eleitoral o governo começa a trabalhar a questão da liberação de recursos, aqueles que estão conveniados ou então empenhados, esses começam a ter uma celeridade maior. Isso faz com que nós tenhamos no mês de dezembro uma carga maior de trabalho, daí a importância da bancada, todos os anos muitos parlamentares ficam até o dia 23 ou 24 de dezembro em Brasília ou até o dia 31, pois nesse período se corre atrás dos últimos recursos do ano, pois são importantes para o nosso estado. Temos muitos recursos para serem liberados desse ano ainda, sejam emendas individuais ou de bancada de deputados e senadores, pois temos perdido muitos recursos e o Amapá não pode se dar ao luxo de deixar verbas federais voltarem.

Diário – O senhor teve que falar várias vezes que a sua candidatura à Prefeitura deMacapá era pra valer, que não recuaria, enfim, isso se manteve, o senhor disputou a eleição. Não chegou ao segundo turno, mas alcançou o objetivo proposto, de que seu partido desse vazão ao crescimento que vem experimentando?

Milhomen – 
Tem um companheiro nosso que diz o seguinte: “Time que não joga não forma torcida”. O PC do B é um partido que tem um caminho ético, um caminho ideológico, com uma proposição nacionalista e ele tem demonstrado isso na participação de governos. Mas ele precisa fazer mais. Nós do C do B nacional decidimos participar de várias eleições, em grandes capitais, com Porto Alegre, Florianópolis, Fortaleza, Manaus, com uma senadora nossa disputando o segundo turno, em São Paulo a vice-prefeita do Haddad é do PCdoB, a Nádia Campeão, porque nós queremos dizer para a população que existe um partido, uma agremiação partidária que tem um projeto e que precisa colocar ele em prática. Nós disputamos a eleição em Macapá, fomos até a última consequência disso, claro, pois nós disputamos com poderosos, com quem tem dinheiro na campanha e que tem manobra política e que dentro disso acabaram nos prejudicando. Mas fizemos o que entendemos ser importante para a população, que é construir um canal de debate dos problemas do nosso estado com respeito com aqueles que escolhem seus governantes, com responsabilidade. Se nós não fizermos uma política do bom combate nós não vamos formar bons eleitores, bons cidadãos, pois aqui infelizmente uma grande parte dos eleitores está sendo levada pela carência, pela necessidade e entregam o seu direito nas mãos daqueles que lhe dão a primeira cesta básica.

Perfil

O entrevistado. Evandro Costa Milhomen é amapaense, nascido em Macapá, criado num berço da expansão e crescimento da cidade, o tradicional Largo dos Inocentes, atrás da antiga Catedral de São José. É sociólogo formado pela Universidade Federal do Pará e também servidor público. Começou a vida política como vereador de Macapá, ganhando notoriedade e inserção política que o levaram a ser eleito deputado federal, pelo Partido Socialista Brasileiro. Está em seu terceiro mandato, sendo que se filiou ao PCdoB ainda no fim de sua primeira passagem pela Câmara. Possui área de atuação no campo da cultura e também dos esportes que receberam maior aporte de recursos federais alocados a partir de emendas parlamentares de sua autoria.

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