quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Olimpio Guarany: “Amazônia, o fim”


Nos últimos 40 anos os governos brasileiros implementaram planos de ação com o objetivo de desenvolver a Amazônia, talvez para tentar fazer frente às “ameaças” internacionais. Ocorre que todas essas investidas resultaram em desastre. O retrato dessas políticas míopes de ocupação da Amazônia acaba de ser revelado pela Rede Amazônica Socioambiental Georreferenciada, formada por instituições da sociedade civil e de pesquisa na região, através do atlas intitulado “Amazônia Sob Pressão” que está sendo lançado hoje, durante o Fórum Amazônia Sustentável, em Belém do Pará. Tive o privilégio de ver o atlas antes do lançamento e logo senti como se o sangue tivesse fugido das minhas veias, tamanho o susto, face a gravidade das informações. Os dados revelam que no período de 2000 a 2010 foram desmatados 240 mil km² de floresta amazônica, o que representa uma área do tamanho do Estado de São Paulo ou a totalidade do território do Reino Unido. O estudo alerta que se as ameaças identificadas em projetos rodoviários (estradas ou multimodais), de petróleo e gás, mineração, hidrelétricas se tornarem pressões no futuro próximo, até metade da Amazônia atual poderia desaparecer. Há uns dois meses li o livro do jornalista Juan Carlos Cal, do jornal El Mundo, da Espanha, intitulado “El Traspasado Corazón del Mundo” em que ele destaca um estupendo arco de desmatamento que se estende do Brasil para a Bolívia, uma área de pressão sobre água, de exploração de petróleo na Amazônia Andina, especialmente no Equador,  e um anel periférico de mineração altamente impactantes. As pressões e ameaças à Amazônia mostram que as paisagens de floresta, da diversidade socioambiental e de água doce estão sendo substituídas por paisagens degradadas, áreas de savanas, extensões de terras secas e mais homogêneas, graças aos pontos de pressão e ameaça através de projetos de estradas, petróleo e gás, hidrelétricas, mineração, desmatamento e focos de calor. O estudo é relevador e põe os dirigentes dos países amazônicos, aí incluídos o Brasil, o Peru, a Bolívia, o Equador, a Colômbia e a Venezuela na parede e sugere um redirecionamento das políticas para a região. Esse atlas pode ser um balizador para tomada decisão, mas se nada for feito e se todos os interesses econômicos que se sobrepõem se concretizarem nos próximos anos, a Amazônia vai se tornar uma grande savana com focos de floresta e as gerações futuras, de um futuro não muito distante, vão sofrer as conseqüências. 

Olimpio Guarany é jornalista, economista, publicitário, ambientalista e professor universitário



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