O Fogo se Espalha
“A ideia da liberdade não morre nunca” — esta frase foi do herói grego Leônidas, que, mesmo morto, indagado pelo seu inimigo Xerxes, disse esta eterna verdade.
Oriente Médio, Golfo Pérsico, Mar Vermelho, Mediterrâneo — diga-se Egito, Líbia, Iêmen, Tunísia, Argélia, Bahrein, Marrocos — há muito tempo preocupam o Ocidente. Pelo petróleo e por sua posição estratégia. Nixon escreveu um livro, “A Terceira Guerra Mundial”, justamente pensando nos riscos levantados pelos interesses conflitantes da região (naquele tempo existia União Soviética e era recente a invasão do Afeganistão). No meio, a questão de Israel, a que os Estados Unidos têm o compromisso de garantir a existência. Para assegurar isso, no Mediterrâneo eles têm a 6ª Frota, com mais de 20 mil homens embarcados, a 5ª Frota no Barein, a vigiá-los do outro lado, e no Oceano Índico a base de Diego Garcia, a maior do mundo dos Estados Unidos. Com esse cerco eles mantinham a estabilidade daquela instável área. Acrescentaram a esse poderio as alianças com a Arábia Saudita e com o Egito, que até hoje recebem a maior ajuda militar dos EUA. Com todo este arsenal de força, ainda era preciso uma boa relação com a Turquia. Com a guerra do Golfo, a invasão do Kuait, e as guerras do Iraque e do Afeganistão, a situação complicou-se mais. Agora desapareceu a URSS, mas os ventos da liberdade varrem os decrépitos sultanatos e monarquias. Os novos instrumentos da tecnologia, nas ondas da internet, destroem as fronteiras e é possível mobilizarem-se milhões de pessoas, outrora amortecidas. É a idéia dos direitos humanos, das liberdades individuais, dos direito civis que há séculos nós conquistamos no Ocidente que eles lutam por encontrar. E vão encontrá-la. O difícil problema que irão enfrentar é o day after, porque há uma complicador: a religião. Para contorná-la falam na tentativa de criação de um muçulmanismo democrático, o que acho difícil diante do Corão e das leis das sharias. É natural que, neste momento de incertezas, Israel esteja de orelha em pé. As declarações dos novos ditadores do Egito de manter seus vínculos com os judeus perdem a credibilidade diante da instabilidade ali reinante. Os massacres da Líbia dão bem a noção da personalidade do ditador Kadafi, que derrubou o Rei Ídris e fez-se mais cruel que ele, recebe a repulsa mundial. Não acredito que este rastilho de pólvora da liberdade, com a força dessa grande ideia que desde o principio do mundo seduz o homem, não atinja a Arábia Saudita. Ela também já balança. Assim, vamos viver um outro momento da história da humanidade naquela região. Como na Idade Média, quando dominaram desde a Ásia até a Espanha, os muçulmanos agora constituem a força de contestação com a bandeira de mudar voltando atrás. A quem os Estados Unidos terão de enfrentar naquele pedaço sensível da humanidade, um lago raso de petróleo e uma religião que muitas vezes leva a um fanatismo irracional? Alá que nos salve.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário