quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

José Sarney

O Fogo se Espalha

“A ideia da liberdade não morre nunca”esta frase foi do herói grego Leônidas, que, mesmo morto, indagado pelo seu inimigo Xerxes, disse esta eterna verdade.

Oriente Médio, Golfo Pérsico, Mar Vermelho, Mediterrâneo — diga-se Egito, Líbia, Iêmen, Tunísia, Argélia, Bahrein, Marrocos — há muito tempo preocupam o Ocidente. Pelo petróleo e por sua posição estratégia. Nixon escreveu um livro, “A Terceira Guerra Mundial”, justamente pensando nos riscos levantados pelos interesses conflitantes da região (naquele tempo existia União Soviética e era recente a invasão do Afeganistão). No meio, a questão de Israel, a que os Estados Unidos têm o compromisso de garantir a existência. Para assegurar isso, no Mediterrâneo eles têm a 6ª Frota, com mais de 20 mil homens embarcados, a 5ª Frota no Barein, a vigiá-los do outro lado, e no Oceano Índico a base de Diego Garcia, a maior do mundo dos Estados Unidos. Com esse cerco eles mantinham a estabilidade daquela instável área. Acrescentaram a esse poderio as alianças com a Arábia Saudita e com o Egito, que até hoje recebem a maior ajuda militar dos EUA. Com todo este arsenal de força, ainda era preciso uma boa relação com a Turquia. Com a guerra do Golfo, a invasão do Kuait, e as guerras do Iraque e do Afeganistão, a situação complicou-se mais. Agora desapareceu a URSS, mas os ventos da liberdade varrem os decrépitos sultanatos e monarquias. Os novos instrumentos da tecnologia, nas ondas da internet, destroem as fronteiras e é possível mobilizarem-se milhões de pessoas, outrora amortecidas. É a idéia dos direitos humanos, das liberdades individuais, dos direito civis que há séculos nós conquistamos no Ocidente que eles lutam por encontrar. E vão encontrá-la. O difícil problema que irão enfrentar é o day after, porque há uma complicador: a religião. Para contorná-la falam na tentativa de criação de um muçulmanismo democrático, o que acho difícil diante do Corão e das leis das sharias. É natural que, neste momento de incertezas, Israel esteja de orelha em pé. As declarações dos novos ditadores do Egito de manter seus vínculos com os judeus perdem a credibilidade diante da instabilidade ali reinante. Os massacres da Líbia dão bem a noção da personalidade do ditador Kadafi, que derrubou o Rei Ídris e fez-se mais cruel que ele, recebe a repulsa mundial. Não acredito que este rastilho de pólvora da liberdade, com a força dessa grande ideia que desde o principio do mundo seduz o homem, não atinja a Arábia Saudita. Ela também já balança. Assim, vamos viver um outro momento da história da humanidade naquela região. Como na Idade Média, quando dominaram desde a Ásia até a Espanha, os muçulmanos agora constituem a força de contestação com a bandeira de mudar voltando atrás. A quem os Estados Unidos terão de enfrentar naquele pedaço sensível da humanidade, um lago raso de petróleo e uma religião que muitas vezes leva a um fanatismo irracional? Alá que nos salve.

José Sarney
foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.

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