sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Peru disse que preferia hegemonia brasileira à dos EUA

Natália Viana - Cartacapital/Wikileaks

Em 13 junho de 2006, o presidente peruano Alan García visitou o Brasil e foi recebido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Era a primeira visita de García após sua eleição, em 4 de junho daquele ano – ainda antes, portanto, de sua posse no cargo. Além da conversa com Lula sobre oportunidades em comércio bilateral, o ex-chanceler Celso Amorim ofereceu um almoço a García no Palácio do Itamaraty. Com a forte demonstração da intenção peruana de se aproximar do Brasil, a recepção acabou se tornando um verdadeiro “festival do amor”, segundo o então subsecretário para assuntos políticos do Ministério do Exterior peruano, Pablo Portugal. Portugal, que hoje segue carreira diplomática, segundo documento obtido pelo Wikileaks, ao qual o Opera Mundi teve acesso, se encontrou com o embaixador norte-americano em Lima no dia 14 de junho para um café-da-manhã, acompanhado do subsecretário para Américas Luis Sandoval. No despacho confidencial, intitulado “Encontro Lula-Garcia é um festival de amor”, o ex-embaixador James Curtis Struble comenta que Portugal passou a maior parte dos 90 minutos do encontro “relembrando a atmosfera” da reunião entre os dois presidentes. Portugal disse que Lula e García “retomaram sua “calorosa amizade de duas décadas” e adicionou: “Se a relação entre Toledo e Lula era de ‘parceria’, a relação García-Lula vai ser um ‘casamento’”. Para ele, o ‘casamento’ seria cimentado com a visita oficial de García ao Brasil no final de agosto. A visita acabaria ocorrendo apenas em novembro.

Etanol e Gerdau

Na visita, os dois conversaram sobre possíveis parcerias, como a estrada interoceânica, a cooperação em programas de erradicação da pobreza, a possibilidade de ajuda do Brasil para o Peru desenvolver etanol e biodiesel e participação brasileira na construção de rodovias e com a Petrobrás no país. Segundo o despacho, Lula abriu as portas para o grupo Gerdau, observando que o grupo brasileiro estava interessado em comprar a metalúrgica Siderperu. Em 9 de fevereiro de 2011, a empresa brasileira anunciou um investimento de US$ 120 milhões durante os próximos três anos na siderúrgica, depois de reunião com Alan García. Já García pediu uma visita de Pelé ao Peru para promover atividades esportivas. “Lula enfatizou que o Brasil não buscava ‘hegemonia’ através de uma aliança com o Peru, mas via isso como um veículo para unir a América do Sul para que toda a região pudesse virar um ator global em igualdade com a China e a Índia”, relata o documento. Em resposta García teria deixado claro seu apoio à liderança brasileira. “García reassegurou Lula sobre as ambições brasileiras para a liderança regional, dizendo que ele preferia a hegemonia do Brasil à dos EUA”.

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