O agricultor descobriu ter conversado com o Capeta, que mandava os diabinhos multiplicarem por mil vezes qualquer atividade sua. Daí plantar e colher a produção de milho era moleza.
O Capeta Multiplicador
Seu Ozório era um homem triste. Embora tivesse uma grande área de terra, uma esposa bonita e dois filhos com muito boa saúde e disposição para o trabalho, não vivia contente com a vida. O motivo é que queria ter uma casa bonita, dar o maior conforto possível à família, comprar roupas novas e não deixar faltar nada na despensa. Suas terras não eram boas. O milho que plantava crescia de bom tamanho, mas nas primeiras chuvas apodrecia e só servia para alimentar os porcos. Com isso a miséria terminou batendo à sua porta. Rezava todos os dias: era homem muito católico e não perdia uma missa aos domingos. Mas não era feliz.
Um belo dia chegou em sua casa um negro pedindo comida e pousada por uma noite. Homem de bem, Ozório deu-lhe um local para dormir e um naco de carne seca, acompanhado com farinha d`água.
Pela manhã, antes de partir, o negro agradeceu a hospitalidade e mostrou-se surpreso com o milharal de Ozório, que definhava a olhos vistos. O visitante, então, disse-lhe que voltasse a arar a terra, e quando esta estivesse pronta, plantasse apenas um pé de milho e esperasse o resultado.
Sem saber que estava falando com o Tinhoso, Ozório procedeu conforme lhe foi mandado. Para sua surpresa, quando fez com as mãos o primeiro sulco para jogar a semente, outros milhares de sulcos apareceram na terra, vindos do nada. O mesmo aconteceu quando semeou. Todos os sulcos foram imediatamente semeados e cobertos de terra. Foi aí que o agricultor descobriu ter conversado com o Diabo, que mandava os diabinhos multiplicarem por mil vezes qualquer atividade sua. Daí em diante, cercar o milharal tornou-se brincadeira de criança. Na primeira estaca fincada ao solo por Ozório, as outras foram surgindo e se multiplicando. Colher a primeira safra de milho foi mais fácil ainda. No primeiro saco de grãos, os outros encheram o celeiro. Seu Ozório ficou rico da noite para o dia. O milharal não mais se acabava com as chuvas e ele podia comprar tudo o que quisesse para a mulher.
Um belo dia a esposa de Ozório engravidou e as espigas estavam verdes, mesmo assim ela resolveu levar. E quebrou uma das espigas. Imediatamente todo o milharal caiu por terra e mulher ficou desesperada. A produção estava perdida. Sem saber o que fazer, foi contar o ocorrido ao marido, que tomado pela raiva aplicou-lhe um tapa no rosto. Naquele mesmo momento, milhares de diabinhos também agrediram a mulher, que morreu nos braços do marido. Seu Ozório se amaldiçoou por ter feito um trato com o Diabo e, desesperado, olhando o milharal destruído e a esposa morta, tentou se recompor batendo com a cabeça em uma das estacas da plantação. Foi o seu último ato. Imediatamente os diabinhos entraram em ação, matando-o também com milhares de baques na cabeça.
O Diabo cumpriu a promessa de multiplicar todos os atos de Ozório.
O Capeta Multiplicador
Seu Ozório era um homem triste. Embora tivesse uma grande área de terra, uma esposa bonita e dois filhos com muito boa saúde e disposição para o trabalho, não vivia contente com a vida. O motivo é que queria ter uma casa bonita, dar o maior conforto possível à família, comprar roupas novas e não deixar faltar nada na despensa. Suas terras não eram boas. O milho que plantava crescia de bom tamanho, mas nas primeiras chuvas apodrecia e só servia para alimentar os porcos. Com isso a miséria terminou batendo à sua porta. Rezava todos os dias: era homem muito católico e não perdia uma missa aos domingos. Mas não era feliz.
Um belo dia chegou em sua casa um negro pedindo comida e pousada por uma noite. Homem de bem, Ozório deu-lhe um local para dormir e um naco de carne seca, acompanhado com farinha d`água.
Pela manhã, antes de partir, o negro agradeceu a hospitalidade e mostrou-se surpreso com o milharal de Ozório, que definhava a olhos vistos. O visitante, então, disse-lhe que voltasse a arar a terra, e quando esta estivesse pronta, plantasse apenas um pé de milho e esperasse o resultado.
Sem saber que estava falando com o Tinhoso, Ozório procedeu conforme lhe foi mandado. Para sua surpresa, quando fez com as mãos o primeiro sulco para jogar a semente, outros milhares de sulcos apareceram na terra, vindos do nada. O mesmo aconteceu quando semeou. Todos os sulcos foram imediatamente semeados e cobertos de terra. Foi aí que o agricultor descobriu ter conversado com o Diabo, que mandava os diabinhos multiplicarem por mil vezes qualquer atividade sua. Daí em diante, cercar o milharal tornou-se brincadeira de criança. Na primeira estaca fincada ao solo por Ozório, as outras foram surgindo e se multiplicando. Colher a primeira safra de milho foi mais fácil ainda. No primeiro saco de grãos, os outros encheram o celeiro. Seu Ozório ficou rico da noite para o dia. O milharal não mais se acabava com as chuvas e ele podia comprar tudo o que quisesse para a mulher.
Um belo dia a esposa de Ozório engravidou e as espigas estavam verdes, mesmo assim ela resolveu levar. E quebrou uma das espigas. Imediatamente todo o milharal caiu por terra e mulher ficou desesperada. A produção estava perdida. Sem saber o que fazer, foi contar o ocorrido ao marido, que tomado pela raiva aplicou-lhe um tapa no rosto. Naquele mesmo momento, milhares de diabinhos também agrediram a mulher, que morreu nos braços do marido. Seu Ozório se amaldiçoou por ter feito um trato com o Diabo e, desesperado, olhando o milharal destruído e a esposa morta, tentou se recompor batendo com a cabeça em uma das estacas da plantação. Foi o seu último ato. Imediatamente os diabinhos entraram em ação, matando-o também com milhares de baques na cabeça.
O Diabo cumpriu a promessa de multiplicar todos os atos de Ozório.
* O jornalista e escritor Joseli Pereira Dias escreveu "Mitos e Lendas do Amapá", de onde retirei o conto mostrado acima. Na sua excelente obra, Joseli, nas paralvras da professora de literatura, Angela Nunes, "traz para a ordem do dia o lendário amapaense. Lanca-se a campo, pesquisa, coleta e registra as peculiaridades regionais que caracterizam o fato folclórico. É um trabalho meritório, especialmente por abrir caminos em uma área que sobrevive pela persistência da tradição oral: mitos e lendas são Bens Culturais de Natureza Imaterial". Pela primeira vez um autor amapaense enfrentou a imprtante missão de compilar as histórias do Amapá, legando às gerações futuras a identidade tucujú". Mitos e Lendas do Amapá já é o livro mais pesquisado na Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda. Virou texto de teatro, tema de escola de samba, referência em artigos. O jornalista Joseli, este Câmara Cascudo tucujú, sabe escrever bem. Tem agilidade em lidar com as palavras e clareza, sem perder o mistério da narrativa. Por tudo isso, tomo a liberdade de divulgá-lo para todo o Brasil e para o mundo através deste modesto Blog. Sempre que puder, publicarei um conto dele.
O seu email é: joselidias@zipmail.com.br
Ilustrações: Honorato Júnior
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