Paulo Marcio Vaz - Jornal do Brasil
Depois que a ditadura militar se foi, ficaram histórias, imagens, depoimentos, memórias que precisavam ser reunidas por alguém com competência para fazer um filme que não soasse maçante ou meramente didático. Em Tancredo, a travessia, Silvio Tendler, que tem no currículo os documentários Os anos JK e Jango, soube fazer e contar bem a história de mais um dos grandes líderes políticos brasileiros. A maior riqueza de Tancredo, a travessia está nos depoimentos, colhidos especialmente para o documentário, de personagens como o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do senador Aécio Neves - neto de Tancredo, - e de outros políticos como Jarbas Vasconcelos, Fernando Lira, Almino Afonso e José Sarney, além do general Leônidas Pires Gonçalves, escolhido por Tancredo para ser ministro do Exército. Entre os artistas, participam nomes como Cristiane Torloni, Milton Nascimento e Fafá de Belém, apenas três dos inúmeros ativistas engajados que subiram no palanque de Tancredo e das Diretas Já. É importante deixar claro que, no filme, a opção parece ter sido a de ouvir apenas os aliados do político mineiro, ou seja, os que viveram ao seu lado sua trajetória, da Era Vargas à campanha das Diretas. Paulo Maluf, por exemplo, aparece apenas no contexto da época. Nada de depoimento para o filme. A opção de Tendler, nesse caso, é discutível. Mesmo com o filme jogando 100% a favor, sem constestações, para quem viveu ativamente aquela época, fica difícil não se emocionar com a conscientização e mobilização populares geradas em torno da campanha das Diretas, e da capacidade de Tancredo para transitar entre companheiros e opositores. E para quem não viveu a ditadura, nem a transição para a democracia, Tancredo, a travessia vale, e muito, como um belo ponta pé inicial para se conhecer mais de perto a história política brasileira.
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