Em denúncia
apresentada ao Senado, Fran Júnior acusa João Capiberibe de ter pago, durante
seis meses, um mensalão de R$ 20 mil/mês a vários parlamentares, para garantir
a sustentação de seu governo e que o dinheiro teria sido recebido por Randolfe
Rodrigues, então Deputado Estadual. O ex-deputado revelou que Evandro Milhomem
seria a terceira pessoa que aparece na gravação
Fran Soares do Nascimento Júnior, o Fran, é
conhecido nos meios políticos como um homem que transita facilmente na linha
entre a coragem e a loucura. Polêmico, se especializou em manobras capazes de
confundir tanto aliados quanto adversários. É nesta lógica que ele se tornou,
novamente, o protagonista de mais um escândalo no Amapá. Depois de uma gestão
conturbada na presidência da Assembleia Legislativa no início dos anos 2.000,
Fran agora é o homem bomba que denuncia o que está sendo chamado de “mensalão
com recibo do Amapá”. Responsável por uma denúncia formal ao Senado Federal que
imputa ao senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) a acusação de ter recebido
mesada de R$ 20 mil, durante seis meses, como deputado estadual do Amapá e como
mentor do esquema de propinas, o ex-governador e agora senador João Capiberibe
(PSB). Em entrevista exclusiva A Gazeta, o ex-deputado fala sobre a denúncia,
afirma que as provas são contundentes e lança um novo nome no escândalo. O do
deputado federal Evandro Milhomem (PC do B) que segundo ele, é a terceira
pessoa no diálogo gravado e anexado à sua denúncia, que comprovaria o esquema
de propinas. A seguir a entrevista.
A Gazeta - O senhor confirma que o
atual senador e ex-governador João Capiberibe comprava apoio de Deputados
Estaduais mediante o pagamento de mesada em dinheiro?
Fran Júnior – Todo mundo sabe no Estado
que o então governador João Capiberibe comprou apoio para ele ter os Poderes na
mão. A manipulação está comprovada nas leis orçamentárias aprovadas. É a
história do "por fora". Isso daí é o tal do Capiroto, do Jaraqui, que
todo mundo falava e ninguém teve coragem de dizer. Não sei como é que vão
titular agora, se é mensalinho se é mensalão ou se é propina.
A Gazeta - Como era feita a
distribuição do dinheiro do Mensalão que o Sr. diz que houve no Amapá?
Fran Júnior -
O
pagamento era feito em duas partes. Uma em cheque e outra em dinheiro. No caso
o senador João Alberto Capiberibe, que eu prefiro chamar de governador porque
na época ele estava governador, ele sempre brigou para passar "o por
fora". Ele passava o que era constitucional e aprovado na lei orçamentária
e passava, por fora, um outro valor que era para repassar para os deputados do
lado dele.
A Gazeta - Os documentos anexados em
sua denúncia foram classificados como falsos. O que o Sr. Tem a dizer sobre
isso?
Fran Júnior - Na verdade, o que eu
apresentei são cópias de documentos públicos. O que fiz foi pegar as cópias dos
documentos, anexei e fiz uma denúncia, porque entendi que agora o nosso país
vai ficar sério, já que um outro Mensalão foi severamente punido. E também
porque o governo insiste novamente nesta mesma história, agora através do filho
do ex-governador, em passar "o por fora" para os Poderes, e isso não
é correto. Estou denunciando para que seja apurado a veracidade. Volto a
insistir que esses documentos não são meus, são públicos, e nunca ninguém se
interessou para apresentar uma denúncia e foi o que eu fiz. O que eu pretendo é
a apuração desses fatos constantes na denúncia.
A Gazeta - Qual era o entendimento na
época sobre esse procedimento?
Fran Júnior - O Capi sempre falou que
"o por fora" valia e podia. Ninguém nunca questionou isso. O primeiro
a estar fazendo esse questionamento sou eu.
A Gazeta - A gravação anexada à sua
denúncia dizendo ser um diálogo entre o ex-governador João Capiberibe e
parlamentares, seria uma entrevista. Como o senhor vê essa justificativa?
Fran Júnior - Está dito lá na denúncia
para todo mundo saber quem são as pessoas que estão naquela conversa. É o
deputado Jorge Salomão, o governador João Capiberibe e o Deputado Federal
Milhomem. É essa informação que se tem. Não sei se algum deles é repórter.
Alguma vez o deputado Jorge Salomão foi repórter? Não. Alguma vez o senador e
ex-governador Capi deu entrevista ao repórter Jorge Salomão? Não. Garanto que eu
não aprendi até agora a dublar a voz de ninguém. E não é do meu feitio fazer
isso.
A Gazeta - Os senadores disseram em
sua defesa que os documentos anexados pelo senhor são forjados, são falsos...
Fran Júnior - Repito: os documentos são
públicos. A prova é que minhas contas como presidente da Assembleia Legislativa
foram aprovadas, todas as quatro, então são documentos públicos. O senador
Randolfe, na época Deputado Estadual, assinava documentos em branco? Se ele não assinou documentos em branco ele
estava consciente dos valores que ali estavam escritos. O senador Randolfe
recebia uma parte do pagamento dele em cheque e a outra parte em dinheiro, está
lá o valor de quanto ele recebia. Quem tem que explicar isso aí é ele. Eu não
tenho mais que explicar nada, quem vai elucidar se são falsos ou não os
documentos é a perícia técnica. Quem tem costume de falsificar assinaturas não
sou eu. Tenho uma decisão do Supremo de 2003, que diz que conforme eu havia
denunciado, a assinatura colocada na lei orçamentária de 2001 foi falsificada
pelo governador João Capiberibe.
A Gazeta - O fato de o Sr. ter sido
afastado da presidência da Assembleia, acusado de improbidade e responder a
ações judiciais, não enfraquecem suas denúncias e o deixa em uma situação
delicada?
Fran Júnior – O que está em
questionamento não é minha idoneidade moral. Quem tem que explicar se a
assinatura em documento atestando o recebimento de dinheiro é o senador
Randolfe. É fácil dizer que foi montagem. Mesmo que seja quebrado seu sigilo
bancário não vai aparecer nada de irregular. Os cheques são do pagamento normal
dele. O que ele pegava em dinheiro está lá, ele assinou reconhecendo.
A Gazeta - O Sr. responde a vários
processos, isso não enfraquece suas denúncias, não coloca o próprio denunciante
sob suspeita?
Fran Júnior – Em momento algum fui
denunciado ou fui indiciado por tráfico. Tem um processo em que respondo sob
acusação de formação de quadrilha mas não há condenação. Vou mostrar minhas
certidões negativas da Justiça. Eles tentam tirar o foco do que é realmente
grave. A gravação está aí para comprovar que o ex-governador Capiberibe
reconhece e admite que tem um mensalinho. E pior: diz que paga. Não sou eu que
está dizendo. É ele quem confessa que paga. Isso é confissão de culpa. É o ex-governador
lá dizendo que o presidente da Assembleia que entrar que não se afinar com ele
vai ter problemas. É ele quem diz que gasta do bolso quarenta, cinquenta mil.
Eu não recebi propina. Eu servi de instrumento do Capi para repassar propina a
deputados.
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