segunda-feira, 25 de março de 2013

Fran Júnior: “Servi de instrumento do Capi para repassar propina”


Em denúncia apresentada ao Senado, Fran Júnior acusa João Capiberibe de ter pago, durante seis meses, um mensalão de R$ 20 mil/mês a vários parlamentares, para garantir a sustentação de seu governo e que o dinheiro teria sido recebido por Randolfe Rodrigues, então Deputado Estadual. O ex-deputado revelou que Evandro Milhomem seria a terceira pessoa que aparece na gravação

Fran Soares do Nascimento Júnior, o Fran, é conhecido nos meios políticos como um homem que transita facilmente na linha entre a coragem e a loucura. Polêmico, se especializou em manobras capazes de confundir tanto aliados quanto adversários. É nesta lógica que ele se tornou, novamente, o protagonista de mais um escândalo no Amapá. Depois de uma gestão conturbada na presidência da Assembleia Legislativa no início dos anos 2.000, Fran agora é o homem bomba que denuncia o que está sendo chamado de “mensalão com recibo do Amapá”. Responsável por uma denúncia formal ao Senado Federal que imputa ao senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) a acusação de ter recebido mesada de R$ 20 mil, durante seis meses, como deputado estadual do Amapá e como mentor do esquema de propinas, o ex-governador e agora senador João Capiberibe (PSB). Em entrevista exclusiva A Gazeta, o ex-deputado fala sobre a denúncia, afirma que as provas são contundentes e lança um novo nome no escândalo. O do deputado federal Evandro Milhomem (PC do B) que segundo ele, é a terceira pessoa no diálogo gravado e anexado à sua denúncia, que comprovaria o esquema de propinas. A seguir a entrevista.

A Gazeta - O senhor confirma que o atual senador e ex-governador João Capiberibe comprava apoio de Deputados Estaduais mediante o pagamento de mesada em dinheiro?

Fran Júnior – Todo mundo sabe no Estado que o então governador João Capiberibe comprou apoio para ele ter os Poderes na mão. A manipulação está comprovada nas leis orçamentárias aprovadas. É a história do "por fora". Isso daí é o tal do Capiroto, do Jaraqui, que todo mundo falava e ninguém teve coragem de dizer. Não sei como é que vão titular agora, se é mensalinho se é mensalão ou se é propina. 

A Gazeta - Como era feita a distribuição do dinheiro do Mensalão que o Sr. diz que houve no Amapá?

Fran Júnior - O pagamento era feito em duas partes. Uma em cheque e outra em dinheiro. No caso o senador João Alberto Capiberibe, que eu prefiro chamar de governador porque na época ele estava governador, ele sempre brigou para passar "o por fora". Ele passava o que era constitucional e aprovado na lei orçamentária e passava, por fora, um outro valor que era para repassar para os deputados do lado dele.

A Gazeta - Os documentos anexados em sua denúncia foram classificados como falsos. O que o Sr. Tem a dizer sobre isso?

Fran Júnior - Na verdade, o que eu apresentei são cópias de documentos públicos. O que fiz foi pegar as cópias dos documentos, anexei e fiz uma denúncia, porque entendi que agora o nosso país vai ficar sério, já que um outro Mensalão foi severamente punido. E também porque o governo insiste novamente nesta mesma história, agora através do filho do ex-governador, em passar "o por fora" para os Poderes, e isso não é correto. Estou denunciando para que seja apurado a veracidade. Volto a insistir que esses documentos não são meus, são públicos, e nunca ninguém se interessou para apresentar uma denúncia e foi o que eu fiz. O que eu pretendo é a apuração desses fatos constantes na denúncia.

A Gazeta - Qual era o entendimento na época sobre esse procedimento?

Fran Júnior - O Capi sempre falou que "o por fora" valia e podia. Ninguém nunca questionou isso. O primeiro a estar fazendo esse questionamento sou eu.

A Gazeta - A gravação anexada à sua denúncia dizendo ser um diálogo entre o ex-governador João Capiberibe e parlamentares, seria uma entrevista. Como o senhor vê essa justificativa?

Fran Júnior - Está dito lá na denúncia para todo mundo saber quem são as pessoas que estão naquela conversa. É o deputado Jorge Salomão, o governador João Capiberibe e o Deputado Federal Milhomem. É essa informação que se tem. Não sei se algum deles é repórter. Alguma vez o deputado Jorge Salomão foi repórter? Não. Alguma vez o senador e ex-governador Capi deu entrevista ao repórter Jorge Salomão? Não. Garanto que eu não aprendi até agora a dublar a voz de ninguém. E não é do meu feitio fazer isso.

A Gazeta - Os senadores disseram em sua defesa que os documentos anexados pelo senhor são forjados, são falsos...

Fran Júnior - Repito: os documentos são públicos. A prova é que minhas contas como presidente da Assembleia Legislativa foram aprovadas, todas as quatro, então são documentos públicos. O senador Randolfe, na época Deputado Estadual, assinava documentos em branco?  Se ele não assinou documentos em branco ele estava consciente dos valores que ali estavam escritos. O senador Randolfe recebia uma parte do pagamento dele em cheque e a outra parte em dinheiro, está lá o valor de quanto ele recebia. Quem tem que explicar isso aí é ele. Eu não tenho mais que explicar nada, quem vai elucidar se são falsos ou não os documentos é a perícia técnica. Quem tem costume de falsificar assinaturas não sou eu. Tenho uma decisão do Supremo de 2003, que diz que conforme eu havia denunciado, a assinatura colocada na lei orçamentária de 2001 foi falsificada pelo governador João Capiberibe.

A Gazeta - O fato de o Sr. ter sido afastado da presidência da Assembleia, acusado de improbidade e responder a ações judiciais, não enfraquecem suas denúncias e o deixa em uma situação delicada?

Fran Júnior – O que está em questionamento não é minha idoneidade moral. Quem tem que explicar se a assinatura em documento atestando o recebimento de dinheiro é o senador Randolfe. É fácil dizer que foi montagem. Mesmo que seja quebrado seu sigilo bancário não vai aparecer nada de irregular. Os cheques são do pagamento normal dele. O que ele pegava em dinheiro está lá, ele assinou reconhecendo. 

A Gazeta - O Sr. responde a vários processos, isso não enfraquece suas denúncias, não coloca o próprio denunciante sob suspeita? 

Fran Júnior – Em momento algum fui denunciado ou fui indiciado por tráfico. Tem um processo em que respondo sob acusação de formação de quadrilha mas não há condenação. Vou mostrar minhas certidões negativas da Justiça. Eles tentam tirar o foco do que é realmente grave. A gravação está aí para comprovar que o ex-governador Capiberibe reconhece e admite que tem um mensalinho. E pior: diz que paga. Não sou eu que está dizendo. É ele quem confessa que paga. Isso é confissão de culpa. É o ex-governador lá dizendo que o presidente da Assembleia que entrar que não se afinar com ele vai ter problemas. É ele quem diz que gasta do bolso quarenta, cinquenta mil. Eu não recebi propina. Eu servi de instrumento do Capi para repassar propina a deputados.

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