terça-feira, 24 de agosto de 2010

José Sarney

O pré-sal do gás

As coisas que acontecem no Brasil fora do eixo São Paulo–Rio têm quase sempre uma repercussão marginal. Não são devidamente comemoradas como brasileiras. Muitas vezes me perguntaram se havia um preconceito implícito no Brasil com o nordestino. Eu afirmava que era explícito. Talvez no mesmo nível dos contra o negro e a mulher. Meu grande e saudoso amigo Abreu Sodré, sempre que discutíamos este assunto, dizia-me em tom de brincadeira: “Nordestino, Sarney, é excelente. Todos nós gostamos muito deles, são grandes pedreiros e cozinheiras não há melhores. Vocês são injustos quando se sentem discriminados.” Já Afonso Arinos me provocava: “Presidente paulista, os parentes pedem para ser Ministro da Fazenda; de Minas, embaixador em Paris ou Londres; nordestino pede para ser ascensorista em qualquer lugar.”
Ocorrem-me estes comentários em face da leniência da mídia no trato da descoberta da maior reserva de gás do Brasil, metade da existente na Bolívia, já no primeiro poço perfurado. A potencialidade da área é gigantesca. Vai do delta do Parnaíba ao Cabo Norte, fim do delta do Rio Amazonas. É o pré-sal do gás.
Sempre afirmei que a pobreza do Maranhão tinha como base terras ruins, nenhum mineral e quarenta por cento do seu território constituído por campos alagados. Entretanto o Criador deu-me um bolo esmagador e desmentiu-me.
A minha geração, há cinqüenta anos, resolveu superar a situação de pobreza do Maranhão existente até então com um planejamento baseado na criação de infraestrutura, a começar pela construção do Porto do Itaqui. Este, hoje, é o segundo porto do país, com a exportação de 120 milhões de toneladas de minério de ferro e alumínio. Possui, também, o Maranhão uma das melhores estruturas elétricas e de estradas do Nordeste. Avança agora como grande produtor de soja e madeira — de reflorestamento — para indústria de celulose. Já foi iniciada a construção no Estado, em Bacabeira, da maior refinaria da Petrobrás. E agora se descobre a grande reserva de gás, que coloca o Maranhão no mapa mundial da energia.
Esse fato é histórico para a consolidação da unidade nacional. É uma fonte de riqueza fantástica que certamente abre para o Norte e Nordeste um imenso espaço para o equilíbrio econômico do país. O povo desta região, que sempre teve a impressão de ser tratado com discriminação pelo governo, com o presidente Lula mudou de humor, sentindo-se considerado.
A descoberta do pré-sal do gás, em terra firme, de custo baixo, reforça a convicção de que chegou uma nova era na região. Bom para nós e para o Brasil. No Maranhão este sentimento é mais forte e todos sentem que demos adeus à pobreza.

José Sarney
foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa

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