O Senado e a formação de leitores
José Sarney também discorreu, durante a entrevista, sobre a política editorial do Senado Federal de resgatar importantes obras da cultura brasileira, muitas delas já esquecidas pelos leitores brasileiros. "É um trabalho executado pela Gráfica do Senado", ressaltou. Sarney relatou que a Gráfica do Senado foi criada no tempo do senador Auro de Moura Andrade, para dar sustentação à publicação dos atos oficiais do Senado e do Congresso Nacional. Naquela época, o diário de todo o Poder Legislativo era mandado publicar na Imprensa Nacional, que às vezes retardava algumas edições. "Criou-se certo atrito e para independência dos poderes se tornar efetivo, porque a publicidade de todos atos é obrigatória, foi criada a Gráfica do Senado", rememorou. Como a capacidade de produção ficava ociosa em determinados dias e épocas do ano, nasceu a idéia de aproveitá-la com outras produções. "Começamos com publicações técnicas, e depois, com a criação de um Conselho Editorial, tivemos a oportunidade de resgatar a história do parlamento brasileiro. Sabemos que muitas desses livros não são de interesse do mercado editorial e dessa forma muitas dessas obras já estavam fora de circulação. "Embora desatualizadas, elas representam um marco importante para a formação cultural do Brasil", afirmou. Graças à produção da Gráfica do Senado já foram editados mais de mil livros. "Alguns desses são obras raras como as Ordenações Afonsinas", ressaltou. Tal compilação, que surgiu no século XV, sob o reinado de João I, constituiu a base do direito português até a promulgação dos sucessivos códigos do século XIX. Algumas de suas disposições tiveram vigência no Brasil até o surgimento do Código Civil de 1916. "Essa obra nunca tinha sido publicada no Brasil, e hoje seus exemplares, publicados aqui no Senado, são disputadas pelos advogados com uma raridade bibliográfica", afirmou. Mas, o gosto pela leitura não é despertado apenas pela apreciação de obras raras, pelos avanços da tecnologia e nem somente por políticas públicas. Para Sarney, é uma tarefa de todos que devem cultivar o hábito de ler e incentivar os mais jovens o gosto pela leitura. Segundo o presidente do Senado, há uma tendência no Brasil de acreditar que com somente as leis é possível se resolver os problemas, tal como a falta do hábito de ler entre a população. "Eu mesmo sou autor de um projeto para difundir o gosto pela leitura e de várias outras iniciativas, entre as quais a criação de um fundo de incentivo para as editoras, que, contudo não prosperou. Posso dizer que não por causa do poder publico, mas sim porque as empresas privadas e as editoras nunca conseguiram se organizar e promover ações efetivas para a difusão da leitura", argumentou. Para José Sarney, entretanto, o poder público deve insistir na tentativa de difundir o hábito da leitura: "Nós devíamos ter um fundo estatal que pudesse juntar a esse fundo privado, e que fossem feitas campanhas específicas para popularizar a leitura em nosso país". Segundo o presidente, concomitantemente com a disseminação do hábito da leitura é possível melhorar o nível de educação de um povo. "Eu não acredito que país algum possa ser uma potência, política, econômica ou militar se não for uma potência cultural. Os Estados Unidos, por exemplo, têm como terceiro item de exportação a cultura, que faz parte de seu poderio e de seu desempenho tecnológico. Já ouvi dizer que o Bill Gates da Microsoft confessou que começou toda sua fortuna lendo um livro.
Secretaria de Imprensa da Presidência do Senado
Veja também
Coleção de Carpeux lidera lista de obras editadas pelo Senado vendidas na Bienal de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário