Representantes de secretarias estaduais de Fazenda de Minas, São Paulo e Rio Grande do Sul disseram temer a perda de receitas caso sejam feitas alterações no atual modelo de partilha dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Eles participaram, nesta segunda-feira (26), de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) para debater o projeto (PLS 289/11-Complementar), do senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), que muda os critérios para distribuição das verbas entre as unidades da federação. A divisão atual é feita na proporção de 85% para os estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e de 15% para os estados do Sul e Sudeste. A proposta de Randolfe leva em conta principalmente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada estado e outros critérios como preservação ambiental e saneamento básico para a distribuição dos recursos. Randolfe Rodrigues pediu que o Congresso não se omita no dever de legislar sobre a questão, sob pena de o Judiciário fazê-lo, e lembrou que o Supremo Tribunal Federal deu um prazo de 36 meses para que Câmara e Senado definam um novo modelo de partilha, depois de ter considerado o atual, que é de 1989, inconstitucional.
- Já se passaram 19 meses e temos até o fim de 2012 para resolver. Os critérios atuais estão ultrapassados, são injustos e foram baseados no casuísmo político. Não legislar sobre isso seria prevaricação. Temos que tomar providências e sair da letargia. O pior seria chegarmos a 2012 sem o Congresso se posicionar - afirmou.
Royalties
O representante da Secretaria de Fazenda de Minas Gerais, Fausto Santana, defendeu que uma mudança definitiva só seja feita depois do término das negociações sobre a repartição dos royalties do petróleo. Até lá, ele sugeriu a adoção de um modelo transitório.
- Os royaltiesem discussão. Há inclusive risco de a questão parar na Justiça, sem prazo de conclusão - afirmou. mudarão posição relativa dos estados e ainda estão
Santana informou que Minas Gerais perderia de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões e sugeriu ainda a criação de um fundo para momentos de crise e baixa arrecadação, além de algum mecanismo de compensação financeira para as unidades federativas prejudicadas.
Opinião semelhante tem o subsecretário de Fazenda do Rio Grande do Sul, Giovanni Padilha da Silva, que questionou os valores a serem negociados:
- É bom lembrar que a emenda Ibsen é baseada em critérios do FPE. Então, não sabemos de quanto, na realidade, teremos de abrir mão. Além disso, ninguém entra em processo de negociação sem saber o que vai ocorrer na próxima etapa. Ninguém pode dizer que aceitaria perder agora, se não souber quanto poderá ganhar no futuro - opinou. A emenda Ibsen, vetada na Lei do Pré-Sal (Lei 12.351/2010), determina a divisão dos royalties entre estados produtores e não produtores, com base em critérios do FPE. O presidente do Senado, José Sarney, definiu o dia 5 de outubro como data-limite para o exame pelo Congresso do veto do Executivo a essa lei, mas há a expectativa de que, antes disso, seja feito um acordo sobre o assunto que evite a deliberação sobre o veto.
Desigualdades
O representante da Secretaria de Fazenda de São Paulo, Luiz Márcio de Souza, lembrou que, mesmo os estados considerados ricos convivem com bolsões de pobreza e desigualdades sociais.
Ele deu o exemplo de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE), de 2010, demonstrando que as regiões Sul e Sudeste concentram 30% dos domicílios brasileiros considerados pobres.
- São Paulo convive com bolsões de pobreza e regiões carentes. O Vale do Ribeira é uma delas. Há indicadores que mostram que a pobreza existe em toda a federação. É preciso respeitar as diferenças sem o extremismo de que certos estados são muito privilegiados - defendeu.
Reforma Tributária
Para os senadores Paulo Paim (PT-RS), que presidiu a audiência, Ana Amélia (PP-RS) e Pedro Simon (PMDB-RS) qualquer mudança no FPE deve ser discutida em conjunto com a reforma tributária e a divisão dos royalties do petróleo. Eles também defenderam que o Congresso não se omita diante do problema e sugeriram uma fase de transição para que os estados se adaptem a suas novas realidades.
O PL 289/11 prevê seis anos de transição, mas o senador Randolfe Rodrigues disse que esse período pode ser aumentado. O projeto tramita em conjunto com o PLS 192/2011, da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), onde está sendo relatado pelo senador Benedito de Lira (PP-AL). A matéria deve seguir depois para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). O assunto voltará a ser discutido em audiência conjunta das comissões de Serviços de Infraestrutura (CI), CDR e CDH.
Para ver a íntegra do que foi discutido na comissão, clique aqui.
Agência Senado
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