quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sarney sobre estabilidade política: "Solicitado a colaborar, não tenho me furtado a fazê-lo"

“Lula foi à minha casa pedir apoio”
José Sarney, presidente do Senado (PMDB-AP)


Sua marca é a discrição, identificada na economia dos gestos e na elegância com que trata os interlocutores. Sinais de irritação são escamoteados, sem nem mesmo franzir a face, enquanto a prosa fácil aborda fatos históricos, dos quais ele mesmo participou como coadjuvante ou protagonista. Aos 81 anos, ex-presidente da República e atual presidente do Congresso, José Sarney, atua com astúcia e mão de ferro nos bastidores da política. Passam por ele indicações de primeiro e segundo escalão, e ministros o consultam quase todos os dias. Imortal da Academia Brasileira de Letras, Sarney confessa que é um usuário de novas tecnologias, como Iphone e Ipad, com os quais costuma se atualizar do noticiário. Na quinta-feira, Sarney recebeu Zero Hora na sala de reuniões da presidência do Senado. Falou sobre a vaia no Rock in Rio, defendeu sua polêmica gestão no Senado e justificou o uso de helicóptero da PM do Maranhão em passeio. Confira trechos da entrevista:

ZH — Qual é a posição do senhor sobre a divisão dos royalties do petróleo?


Sarney — O subsolo pertence à União. Todos os Estados e toda a população devem participar das riquezas nacionais. No entanto, reconheço que temos um problema para assegurar os direitos adquiridos pelos Estados produtores. Agora, com relação ao que ainda vai ser explorado, não podemos deixar de redistribuir entre todos os Estados.

ZH — Há clima para a reforma política?

Sarney — Até agora, não se conseguiu disposição política firme para fazer as mudanças necessárias. Nem por isso, deixam de ser tão inadiáveis. A maior delas é a nossa convivência com o voto proporcional uninominal, que não existe no mundo inteiro e que ainda adotamos. Considero esse o ponto-chave, na medida em que é o responsável por toda a desorganização política que o Brasil vive até hoje.

ZH — Era mais fácil conviver com Lula ou agora, com Dilma?


Sarney — Tive uma relação muito pessoal com Lula. Ainda hoje ele me telefona, e eu ligo para ele. Tenho um grande apreço por Lula, acho que ele fez um grande governo. Dilma está dando continuidade sem continuísmo, marcando seu estilo.

ZH — O senhor também conversa com frequência com Dilma?

Sarney — Raramente falo com ela.

ZH — De todos os presidentes da Nova República, o único que não se aliou ao senhor foi Fernando Collor. Curiosamente, foi o único que caiu. Esse seria um dos motivos de lhe atribuírem tanto poder?

Sarney — Tenho sido aliado de alguns governos, mas já fui oposição durante muito tempo. Não fui aderir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Pelo contrário, ele foi à minha casa pedir o meu apoio. Da mesma forma, não fui aderir ao ex-presidente Lula. Ele foi à minha casa pedir o meu apoio. Portanto, acho injusto quando dizem que estou apoiando todos os governos. Solicitado a colaborar, não tenho me furtado a fazê-lo.

ZH — Durante o Rock in Rio, o músico Dinho Ouro Preto dedicou ao senhor a música Que País é Este?, que critica as oligarquias. Como o senhor encara essas manifestações?

Sarney — O rock é um estilo que tem o DNA da contestação, sempre foi marcado pelo questionamento. É compreensível que em um festival de rock tivesse uma manifestação desse tipo. No entanto, a crítica foi injusta. No meu governo, contribuiu-se para a maior liberdade de expressão que já tivemos no país. A cultura e as artes devem ser livres. Podem ser injustas, mas não podem deixar de ser livres.

Carolina Bahia e Fabiano Costa | Zero Hora - Brasília

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