terça-feira, 12 de março de 2013

Acesso à informação



Compra de “comida para animais” na Fcria coloca em xeque credibilidade do Portal da Transparência

Senador João Capiberibe (PSB), autor da Lei da Transparência, diz no Twitter que vai “exigir explicações” de Camilo sobre a falta de consistência nas contas públicas do governo do Amapá

Maiara Pires

As informações sobre as contas públicas do Governo do Amapá dispostas no Portal da Transparência tem gerado desconfianças e suspeitas sobre superfaturamento e malversação do erário. A desconfiança só aumenta por conta das explicações do governo que tem atribuído a “erros de digitação” preços acima do de mercado e quantidades em desacordo com o licitado, o que acaba colocando em xeque a credibilidade das informações postadas no endereço eletrônico. Como se não bastasse dificultar o acesso de cidadãos às informações referentes às contas públicas conforme análise do Instituto Contas Abertas – que colocou o portal amapaense entre os dez piores do país –, erros crassos vem sendo registrados durante as consultas feitas pelos usuários. Numa delas, o detalhamento da Fundação da Criança e do Adolescente (FCRIA) aparece empenhando “Alimentos para Animais” no valor de R$ 16,7 mil. Até onde se sabe nenhuma das cinco unidades de internação de menores que a Fundação administra, tem sob sua responsabilidade a criação de animais. A diferença é grotesca entre “Alimentos para Animais” e “Alimentos para Adolescentes em Medidas Socioeducativas”, como justificou o gerente de tecnologia da FCRIA, Márcio Guma, ao afirmar ao  blog da jornalista Alcinéa Cavalcante, que houve no empenho  “erro de cadastro”.

Erro de digitação?

Em outra consulta, a lata de leite Camponesa de 400g, que não passa de R$ 6 em qualquer mercearia de Macapá, sai por R$ 13,52 quando se trata de despesas no Gabinete do governador Camilo Capiberibe. Neste caso, a presidente da Comissão Permanente de Licitação, Priscila Borges Oliveira, também disse tratar-se de “erro de digitação”. “Onde se lê: ‘Leite de vaca em pó, integral, em embalagem tipo lata com 400gr; caixa com 24 und’ Leia-se: ‘Leite de vaca em pó, integral, em embalagem plástica de 1kg; caixa com 24 und’, justificou em nota. Indagado pela blogueira, o autor da Lei da Transparência, senador João Alberto Capiberibe, garantiu que vai “exigir explicações” do filho e atual governador do Estado, Camilo Capiberibe. Procurada pela reportagem para comentar sobre o 'erro de cadastro' detectado dois anos após o registro, a diretora da Fundação da Criança e do Adolescente, Dinete Regina, disse estar em reunião. Enquanto as informações das compras públicas expõe a gestão de Camilo Capiberibe, outros dados que são de acesso público obrigatório são sonegados. O Plano Plurianual, por exemplo, só foi colocado no portal  da transparência depois que a deputada de oposição Marilia Góes (PDT), denunciou na tribuna da Assembleia Legislativa.

Sonegando informações

A Lei Orçamentária Anual (LOA) disponível no portal é a de 2011, o mesmo acontecendo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Os técnicos não sabem porque isto acontece já que as leis referentes a 2013 já estão em vigor. Ainda faltam o Balanço Geral de 2012 que não foi disponibilizado no site e os relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) de 2012 estão incompletos. Uma outra clara sonegação de informações é a falta do Relatório de Execução Orçamentária que deveria ser publicado até 30 de janeiro deste ano. O Relatório de Gestão Fiscal que deveria ter sido publicado até o final de fevereiro também não se encontra. No caso deste relatório, o art. 9º, § 4º da LRF diz que “até o final dos meses de maio, setembro e fevereiro, o Poder Executivo demonstrará e avaliará o cumprimento das metas fiscais de cada quadrimestre, em audiência pública na Comissão referida no § 1º do art. 166 da CF ou equivalente nas Casas Legislativas estaduais e municipais. Até hoje o governo que alega ter compromisso com a Transparência nunca requereu essas audiências. De acordo com especialistas da Ong Contas Abertas, tanta informação não publicada pelo Governo leva a crer que o Orçamento público pode estar sendo manipulado sem autorização legislativa.

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