Macapá: guardiã da Amazônia, misto de ternura e bondade, gente boa, raça forte
Segundo nosso saudoso Câmara Cascudo, o povo sabe inventar etimologias surpreendentes para topônimos. O nome de Olinda seria por ter Duarte coelho dito, vendo o local : "Oh! Linda posição para uma cidade!" No Rio Grande do Norte, terra do nosso folclorista, os potiguar são craques nisso. A praia da Redinha veio da rede de dormir, indispensável no local; a cidade de Augusto Severo, outrora Campo Grande, nasceu da frase: “Que campo grande bom para criar gado!” Porto Alegre é: “Parece uma porta alegre do sertão!”. Todas essas explicações são, na verdade, invenções soberanas e criativas do povo criadas para suprir a razão verídica, etimológica, do topônimo. Cascudo cita Feliciano Galdino que, no seu Lendas Matogrossenses, (Cuiabá, 1919), registra uma explicação curiosa do topônimo Cuiabá. Quando Pascoal Moreira Cabral chegou à Forquilha com sua bandeira, aventureiros, mortos de sede, desceram para o rio. Um português querendo apanhar água com cuia deixou-a cair e o rio carregou-a. O homem, trocando o V pelo B exclamou, zangado: - Cuia, ba! Querendo dizer; cuia, vá. E ficou Cuiabá... Teodoro Sampaio, em O Tupi na Geografia Nacional, ensina que Cuiabá provem da cui, farinha, e aba, homem, raça, povo. Cuiabá é o Povo da farinha, fabricante de farinha. É a explicação também de Lacerda e Almeida. Para o povo nem se discute. É apenas – Cuia...Bá! No caso de nossa Macapá, que comemorou longos e heróicos 253 anos, a toponímia é de origem tupi, uma variação de "macapaba", que significa lugar de muitas paineiras bacabas, cujo nome científico é Oenocarpus bacaba Mart. Mas, antes de se chamar Macapá, o primeiro nome concedido oficialmente a esta terra foi Adelantado de Nueva Andaluzia, nome dado em 1544 por Carlos V do império Habsburgo, quando concedeu a Francisco de Orellana a posse da região. Mas, por alguma hipótese, se o povo tucujú fosse chamado a renomear livremente a capital do Amapá, teria todos os motivos para chamá-la de guardiã, amiga, amor. A verdade é que Macapá é simples como uma bela moça morena dos tucujus. Espraia-se, plana, vigiando dia e noite o desaguar deste lado do Amazonas. Ela tem os ventos que vêm do grande mar oceano, brisa que lhe acaricia o corpo e os cabelos compridos. Macapá, moça morena de lábios de sol e olhos de chuva. É a capital dos vastos territórios que daqui só terminam nas barrancas do Oiapoque, passando por lagos, rios, campos, florestas, chapadas, riachos e montanhas. A paisagem humana de sua gente, no seu falar cantado, descendo e subindo sempre nos barcos, rio vai e rio vem, em demanda das ilhas ou dos pequenos portos, povo ribeirinho que passa o tempo navegando. Macapá, misto de ternura e bondade, gente boa, raça forte.
Segundo nosso saudoso Câmara Cascudo, o povo sabe inventar etimologias surpreendentes para topônimos. O nome de Olinda seria por ter Duarte coelho dito, vendo o local : "Oh! Linda posição para uma cidade!" No Rio Grande do Norte, terra do nosso folclorista, os potiguar são craques nisso. A praia da Redinha veio da rede de dormir, indispensável no local; a cidade de Augusto Severo, outrora Campo Grande, nasceu da frase: “Que campo grande bom para criar gado!” Porto Alegre é: “Parece uma porta alegre do sertão!”. Todas essas explicações são, na verdade, invenções soberanas e criativas do povo criadas para suprir a razão verídica, etimológica, do topônimo. Cascudo cita Feliciano Galdino que, no seu Lendas Matogrossenses, (Cuiabá, 1919), registra uma explicação curiosa do topônimo Cuiabá. Quando Pascoal Moreira Cabral chegou à Forquilha com sua bandeira, aventureiros, mortos de sede, desceram para o rio. Um português querendo apanhar água com cuia deixou-a cair e o rio carregou-a. O homem, trocando o V pelo B exclamou, zangado: - Cuia, ba! Querendo dizer; cuia, vá. E ficou Cuiabá... Teodoro Sampaio, em O Tupi na Geografia Nacional, ensina que Cuiabá provem da cui, farinha, e aba, homem, raça, povo. Cuiabá é o Povo da farinha, fabricante de farinha. É a explicação também de Lacerda e Almeida. Para o povo nem se discute. É apenas – Cuia...Bá! No caso de nossa Macapá, que comemorou longos e heróicos 253 anos, a toponímia é de origem tupi, uma variação de "macapaba", que significa lugar de muitas paineiras bacabas, cujo nome científico é Oenocarpus bacaba Mart. Mas, antes de se chamar Macapá, o primeiro nome concedido oficialmente a esta terra foi Adelantado de Nueva Andaluzia, nome dado em 1544 por Carlos V do império Habsburgo, quando concedeu a Francisco de Orellana a posse da região. Mas, por alguma hipótese, se o povo tucujú fosse chamado a renomear livremente a capital do Amapá, teria todos os motivos para chamá-la de guardiã, amiga, amor. A verdade é que Macapá é simples como uma bela moça morena dos tucujus. Espraia-se, plana, vigiando dia e noite o desaguar deste lado do Amazonas. Ela tem os ventos que vêm do grande mar oceano, brisa que lhe acaricia o corpo e os cabelos compridos. Macapá, moça morena de lábios de sol e olhos de chuva. É a capital dos vastos territórios que daqui só terminam nas barrancas do Oiapoque, passando por lagos, rios, campos, florestas, chapadas, riachos e montanhas. A paisagem humana de sua gente, no seu falar cantado, descendo e subindo sempre nos barcos, rio vai e rio vem, em demanda das ilhas ou dos pequenos portos, povo ribeirinho que passa o tempo navegando. Macapá, misto de ternura e bondade, gente boa, raça forte.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.
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