Sarney e Collor têm razão quanto aos documentos "ultrassecretos"
Os senadores José Sarney e Fernando Collor de Mello, dois ex-presidentes, são contra a divulgação de alguns documentos catalogados como “ultrassecretos”. Quanto aos documentos atuais, Sarney diz não ter nenhuma restrição, preocupando-se apenas no que se refere à formação das fronteiras: “minhas preocupações como intelectual e estudioso da História são no que se refere aos documentos históricos do Brasil, da formação do País, da nossa nacionalidade, da nossa história”. Sarney está certo ao advertir que “não podemos fazer o "wikiLeaks" da história da construção das nossas fronteiras”. O senador Pedro Simon discorda. Disse que o “pacifismo do Brasil encoraja fim de sigilo eterno” e coisa e tal. Pura irresponsabilidade e oportunismo do gaúcho. O argumento é fajuto, pois a guerra com o Paraguai existiu. Junto com a Guerra da Secessão norte-americana foi um dos maiores conflitos do século XIX. Teve repercussões nas fronteiras entre os países, com ganhos territoriais para o Brasil. E guerra é guerra. Não é piquenique. Há atrocidades de ambos os lados. Vence o mais forte. Se um governante demagógico, como sabidamente é o atual presidente daquele país, conseguiu absurdamente arrancar do Brasil a diminuição da dívida de Itaipu, pode-se imaginar o que não poderá fazer se o tema fronteiriço vier à tona. O Brasil poderá sofrer questionamentos desnecessários, mesmo que a conquista tenha sido por direito de guerra adquirido com a vitória inquestionável. Fomos os vencedores de uma guerra que não começamos. O pacifismo do Brasil realmente está em nossa essência. Mas a covardia, não. Atacados, revidamos. E conquistamos áreas importantes para Mato Grosso. Milhares de brasileiros morreram por isso. Foram heróis. Questionar este fato é não pensar na soberania brasileira. É não considerar que, nas relações entre países, do ponto de vista geopolítico, não existem amigos, mas interesses. São coisas como essas que o presidente do Senado teme. Diferente de Simon, Collor e Sarney, como presidentes, tiveram acesso às informações. Presidiram o País em momentos difíceis, conheceram informações diplomáticas e estratégicas delicadas para a segurança nacional, tiveram que tomar decisões importantes. Do alto de suas experiências como chefes de Estado, julgaram problemáticas para a diplomacia a divulgação. Sabem o que dizem. E diferente do que a imprensa quis mostrar, Collor não criou dificuldade alguma ao projeto de Dilma sobre o assunto. Collor é aliado de primeira hora da presidenta, assim como Sarney. Apenas expressou sua opinião. Ponderou. Sarney também. Dilma tem ótimas relações com os dois. Vem elogiando o dinamismo, a inteligência, a amplitude temática e a capacidade de liderança que Collor vem imprimindo nos debates da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado. Sempre telefona para Sarney para trocar idéias, para se consultar. E respeita muito as opiniões do presidente do Senado. Dilma levou em consideração tudo isso. Soube ouvir. Mostrou maturidade. E amadureceu a idéia. Parabéns, presidenta!
Vicente Limongi Netto é jornalista em Brasília
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