terça-feira, 26 de julho de 2011

Sarney: “vou lutar pelo Amapá até morrer”

Em entrevista ao Jornal do Dia, o presidente do Senado, José Sarney, mostra porque se mantém por tantos anos na vida política e o que fez pelo Amapá

Janderson Cantanhede e 
Franck Figueira

Aos 81 anos, um dos ícones da política nacional, José Sarney (PMDB), anunciou esta semana que pretende se aposentar das disputas eleitorais. Presidente do Senado Federal e eleito pelo Amapá, Sarney desde a época da Ditadura Militar sempre mostrou facilidades para liderar. Não foi à toa que comandou a Presidência da República e desponta hoje como o senador com mais tempo de mandato no Congresso Nacional. Com tal currículo político, qualquer amapaense depara-se com a seguinte pergunta: afinal de contas, que legado José Sarney deixa para o Amapá? Em entrevista, ele comenta os principais projetos em andamento para o Estado, fala de desafetos políticos e do que pretende fazer após 2014, quando termina seu mandato.

Jornal do Dia - Com foi trazer a Zona Franca de Livre Comércio para o Amapá?

Sarney - Quando cheguei aqui, a primeira coisa que pensei foi estruturar o Estado. Quando cheguei não tínhamos estrutura nenhuma e nem se falava nisso. Estrutura significa energia, transporte e comunicação, porque sem isso não há desenvolvimento, não há progresso. E aqui não tínhamos absolutamente nada. Tínhamos somente uma estrada e a ponte do Rio Araguari. Então eu disse que iria dedicar meu trabalho no sentido de dotar o Amapá de infraestrutura.

JD – Que problemas o senhor enfrentou para trazer o Linhão do Tucuruí para o Amapá?

Sarney - Foi uma luta de muitos anos, onde no Congresso briguei para tirar o Amapá dos sistemas isolados. Agora, na primeira quinzena de agosto, a Usina de Santa Antonio que era no princípio uma usina pequena de 90 megawatts, vai ter 350 mil megawatts. Vai transformar aquela região. Então, na primeira quinzena de agosto vai ser iniciada as obras, já estão recrutando as equipes e isso é uma boa noticia para o povo do Jari. Isso vai representar impostos para o Estado. Logo em seguida já vamos ter o projeto da usina de Ferreira Gomes, vamos ampliar o Paredão, e com isso tudo o Amapá vai resolver o problema de energia. Assim, as empresas poderão se instalar porque já vamos ter energia suficiente. Infraestrutura não se constrói do dia para noite. Uma usina hidrelétrica leva anos para começar até ter uma conclusão a média é de 8 a 10 anos.

JD – O que isso vai representar para o Amapá?

Sarney - O Amapá vai passar a ser igual a todos os estados brasileiros em matéria de energia elétrica. Aqui nós tivemos um retardamento de um ano e eu tive que conseguir uma coisa inédita, que foi a Eletronorte fazer diretamente esse fornecimento, porque naquele tempo a CEA não tinha condições de arcar com a responsabilidade. O Amapá não vai ter mais problema com energia. 

JD - Em que pé está a situação da BR-156 e a Ponte de Laranjal do Jari?

Sarney – Essas lutas começaram há alguns anos. No trecho Macapá/Jari o projeto está pronto. Houve um problema em relação a reserva extrativista, mas todos os anos eu tenho colocado verbas para isso e também para a Ponte de Laranjal do Jari. O primeiro projeto da ponte fui eu, com recursos meus, que trouxe para doar aquele município, mas infelizmente ao longo do tempo criou-se dificuldades em varias administrações. Outro sonho é a ponte sobre o Rio Oiapoque, onde vamos fazer a inauguração em breve, com a presença da presidente Dilma. Estivemos com várias autoridades do lado francês, procuramos o parlamento para ajudar na aprovação, enfim, todos esses trabalhos de infra-estrutura  foram sempre a minha ideia. 

JD – Foi prometida, também, a Zona Franca de Livre Comércio para o Amapá. Como está esse projeto?

Sarney - Em primeiro lugar, se não fosse a Área de Livre Comércio, ninguém sabia como estávamos vivendo aqui no Amapá. Foi ela ao longo desses anos que sustentou, ampliou a cidade, criou empregos, e todo o povo amapaense são beneficiadas pela ALCMS. Todos os produtos que vem para cá tem isenção, então a ALCMS rendeu uma expansão. No principio lutaram contra, mas hoje está consolidada. Depois tentei trazer a Zona Franca, mas houve uma resistência muito grande de São Paulo e Amazonas.

JD – Quanto ao setor mineral, qual sua avaliação?

Sarney - Foi eu quem trouxe o Eike Batista para cá fazer a primeira fábrica de ouro do Amapá, e depois ele entrou no minério de ferro, depois passou para a Anglo American, e dai o Amapá passou a ser exportador de ferro. No futuro o ferro vai ficar aqui, e industrias irão reaproveitando o ferro. 

JD – Ao longo de sua vida política, o senhor traz consigo algum desafeto?

Sarney – Eu nunca ataquei ninguém nesse Estado. Não há uma pessoa aqui que diga que insultei. Posso até ter sido muito insultado aqui, mas nunca devolvi, procurando sempre criar uma harmonia dentro do Amapá. Os políticos têm a época da eleição para brigar, mas passada a eleição precisam abrir um terreno comum de trabalho em favor do povo. Minha palavra foi sempre no sentido da união e da paz. Nunca fui de estar desafiando. Sempre estive para somar. Nesse tempo todo, nada passou sem a minha ajuda. 

JD – E a tão sonhada banda larga?

Sarney - Já está sendo viabilizada a solução, uma vez que o ministro Paulo Bernardo assinou o primeiro contrato e que viria ao Amapá para anunciar a banda larga.

JD Podemos sonhar com uma infraestrutura melhor para o Estado?

Sarney – Sem infraestrutura não há condições de se falar em desenvolvimento. Assim, estaremos fadados à pobreza. Vejo o Amapá com sua infraestrutura sendo construída e consolidada. Temos uma posição estratégica muito grande e não posso pensar no Estado sem ser um dos maiores da região. Temos riquezas minerais, florestais, passando a ter estrada, energia, comunicação e transportes. Com esses olhos de futuro é que vejo o Amapá. Não sou homem de olhar para o passado, mas para o futuro. Mas temos que percorrer um longo caminho. 

JD – Outro problema emperrado há anos é o nosso aeroporto. Há alguma previsão para a conclusão da obra?
Sarney – O Aeroporto de Macapá foi uma frustração para nós, uma vez que a firma que ganhou a licitação foi à falência. Mas vai ser concluído hoje ou amanhã, embora esse tempo todo tenha tido esses problemas. São coisas que acontecem. Lá no Maranhão, o Aeroporto está sendo feito debaixo de tendas porque a estrutura que estava sendo montada veio a baixo. Isso é uma vergonha porque se fez um calculo mal feito. Mas tenho certeza que nosso aeroporto vai sair. 

JD – Que legado o senhor deixa para o Amapá e para o país?

Sarney – Durante a minha vida política, nunca fui um homem de guerra. Esse legado que deixo é de paz, de diálogo e pacificação. Graças a isso, acredito que a minha sobrevivência política tenha sido determinada por essa maneira. A própria transição democrática que tenha sido determinada por isso. A Constituição que temos hoje foi convocada por mim. Para sustentá-la foi difícil. Naquele tempo, todas as constituintes brasileiras terminaram fechadas, ou em ditadura. Essa constituição é a que deu mais tranqüilidade ao Brasil. Passamos a ter cidadania. Tive a coragem de congelar os preços para tentar combater a inflação, além de congelar o cambio. Iniciei o Plano Cruzado que teve repercussão política, pois graças a ele fizemos a constituinte e com o rompimento do FMI e outras teorias, chegamos até o Plano Real. Isso tudo é um legado que deixo ao Brasil.

JD – O que o senhor pensa em fazer após a aposentadoria?

Sarney – Minha vida sempre teve dois vertentes: a política e a literatura. Consegui escrever 64 títulos, alguns traduzidos em várias línguas. Tenho 81 anos, vou terminar meu mandato com 84 e não posso, não devo e nem quero mais concorrer às eleições. Isso não significa que eu vou abandonar a vida pública. Até eu morrer vou lutar pelos problemas do Amapá. Não é o mandato que me da força, mas a minha vida e acredito que tenho condições de continuar ajudando. Tenho dito que na política só tem uma porta, que é a de entrada. 

Por Janderson Cantanhede e Franck Figueira
 
 

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